A Sociedade do Espetáculo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Atenção: Este artigo ou secção não cita as suas fontes ou referências.
Sinta-se livre para editá-la para que esta possa atingir um nível de qualidade superior.
A Sociedade do Espetáculo é um livro de Guy Debord publicado em 1967.
A frase de abertura é uma paráfrase da primeira frase de O Capital de Karl Marx:
- " A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias." (Marx, 1a. frase de O Capital)
- " Toda a vida das sociedades em que dominam as condições modernas de produção aparece como uma imensa acumulação de espetáculos." (Debord, 1a. frase de A Sociedade do Espetáculo).
Em duzentos e vinte e uma "teses" discursivamente pontuadas no folêgo de um parágrafo, Guy Debord vai esboçando seus conceitos na forma de um ensaio político que deve buscar mais sua realização do que uma discussão, para retomar uma afirmação de Marx. Um texto de tom afirmativo, evidenciador, denunciador, buscando demonstrar, ou até mesmo convencer. Certos trechos tomam a forma de aforismos, como a tese 9:
- " No mundo realmente revirado, o verdadeiro é um momento do falso."
Esse relativo laconismo comparado a outras obras situacionistas como a de Raoul Vaneigem tornara relativamente dificil o surgimento de posteriores comentários do texto, pelo uso que Guy Debord faz do estilo hegeliano. O autor faz surgir em seu texto uma interpretação da crítica marxista do fetichismo da mercadoria, desenvolvida no primeiro capítulo de O Capital, em descrição do avanço do capital sobre a vida cotidiana, nos meios que ele emprega na tomada do mundo através da mercadoria.
Girando em torno do conceito de espetáculo, o autor o define e redefine. O primeiro capítulo: A Separação Acabada, composto de trinta e quatro teses, é a mastigação, a trituração paciente de um conceito, um repisar incessante na busca de definições e perspectivas que a noção de espetáculo pode assumir. De alta densidade teórica, o texto torna-se árido, impermeável, incompreensível ao leitor não-instrumentado. O autor não facilita: seu texto é extremamente conceitual, por vezes hermético ao ponto de exigir técnicas apuradas de tratamento e uma certa noção do campo polêmico, ou seja, com quais autores e conceitos ele está debatendo. É um texto filosófico sem qualquer dúvida, de tradição marxista.
Ao acreditarmos que o conceito de espetáculo nessa obra está na ordem do senso comum, entendido enquanto apresentação artística, como em espetáculo teatral, circense etc., descobrimos que ele é muito mais etéreo, complexo e teórico. As noções de ideologia em Marx e mistificação em Adorno e Horkheimer estão de alguma forma assombrando o texto, elas parecem subjazer em grande medida, ser um esteio para o conceito de espetáculo.
Para tentarmos penetrar nesses caminhos espiralados, nesse labirinto conceitual da definição que vai aos poucos desvelando o que o autor entende por espetáculo, apresentemos alguns trechos:
- "Considerado em seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e de toda vida humana, quero dizer, social, como simples aparência." (tese 10)
- "O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade indiscutível e inacessível. Não diz nada além disso: 'o que aparece é bom, o que é bom aparece' (tese 12).
E aqui vem o golpe mais ferino - tese 17:
- "A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social ocasionou na definição de toda e qualquer realização humana uma evidente degradação do ser em ter. A presente fase da ocupação total da vida social pelos resultados acumulados da economia conduz a um deslizamento generalizado do ter em parecer, (...)."
