Batalha do Atlântico
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A batalha do Atlântico foi um confronto marítimo que marcou a Segunda Guerra Mundial, travado no Atlântico Norte entre a Alemanha Nazista e os Aliados (EUA e Reino Unido). O objetivo de Hitler era, com sua frota de submarinos, bloquear as rotas comerciais entre seus aliados, visando à rendição do Reino Unido e à inviabilidade da intervenção norte-americana no cenário europeu do conflito.
Índice |
[editar] Os "U-Boats" e seu líder Karl Doenitz
Desde o início das hostilidades, os alemães estavam cientes de que o domínio aliado dos mares era uma potencial ameaça aos seus planos de guerra. Para comandar a frota de U-boats alemães, Hitler nomeou Karl Doenitz – que já possuía experiência como submarinista na Primeira Guerra Mundial, portanto comprrendia as necessidades dos marinheiros e o potencial do submarino como arma de guerra. Mas a avidez do Führer por iniciar o conflito pegou Doenitz de supresa: ele contava com mais alguns anos de paz, até que pudesse dispor de uma frota com poder de fogo para ameaçar o comércio entre britânicos e norte-americanos. Em setembro de 1939, início da Segunda Guerra Mundial, o almirante comandava 57 submarinos – bem menos do que as 300 embarcações com as quais um bloqueio contra a Grã-Bretanha seria efetivo.
[editar] Por dentro de um U-Boat
A vida a bordo de um submarino alemão é descrita por alguns que sobreviveram a guerra como, no mínimo, insalubre. Dentro de um casco pressurizado um tanto quanto frágil (e de tanques de lastro responsáveis pela submersão ou emersão da nave), apenas o capitão tinha uma acomodação individual; o restante da tripulação tinha de se virar entre tubos, torpedos, aparelhos medidores e equipamentos da nave, para comer, operar as máquinas e até mesmo fazer suas necessidades fisiológicas. Como os U-Boats não possuíam ventilação interna, os marinheiros eram obrigados a andar com passos leves e a não fazer muito esforço físico – pois, do contrário, corriam o risco de consumir todo o oxigênio.
Um U-Boat era movido por enormes motores a Diesel, os quais precisavam de ar da superfície e funcionando recarregavam as baterias que alimentavam os motores eletricos que movimentava o U-Boat quando submerso, durante ao menos quatro horas todos os dias. Nesse meio tempo, portanto, era grande o risco de o submarino ser atacado por aviões inimigos – lugar comum no final do conflito, quando os Aliados lograram desenvolver um sistema de radar centimétrico que reduziria drasticamente o poder dos U-Boats.
As principais armas usadas pelos submarinos eram os torpedos. Um torpedo poderia ser facilmente descrito como um micro-submarino, a partir do momento em que era lançado. Em seu bico, continha uma carga de explosivos que era acionada no contato com o casco do navio inimigo; entretanto, não era uma tarefa simples lançá-los. O comandante tinha que calcular bem a distância entre seu submarino e a nave inimiga, para então lançar o torpedo, de preferência a pouca profundidade. Uma vez na água, os propulsores dos torpedos deixavam um rastro de bolhas que poderia facilitar ao inimigo sua presença e dar-lhe tempo de desviar; com o recrudescimento do conflito, os alemães lograram desenvolver um torpedo movido a querosene, que minimizava esse rastro. Além dos torpedos, muitos submarinos possuíam canhões em seu deque – muitas vezes para afundar pequenas embarcações ou dar um coup d'grâce sem precisar usar torpedos.
[editar] Como driblar o "ASDIC"
Doenitz compreendera astutamente o poderio de seus submarinos por uma razão simples: a dificuldade dos aliados em combatê-los sem se limitar ao uso de comboios de navios. O sistema ASDIC (Allied Submarine Detection and Investigation Committee, traduzido: Comitê Aliado de Pesquisa e Detecção Submarina), composto de freqüências de áudio que poderiam captar a presença de um submarino, era inútil contra submarinos que disparassem seus torpedos da superfície. Assim sendo, os comandantes dos U-Boats – alcunha dada aos submarinos alemães pelos ingleses, onde o U referia-se a Unterseeboot, ou submarino em alemão; a nomenclatura U-número era usada para identificar cada submarino (por ex. U-47, U-386 etc.) – foram instruídos a atacar à tona d'água. Desde petroleiros, com sua carga facilmente incendiável, até navios com carregamentos militares, muitos não escapavam aos U-Boats.
[editar] Os "anos felizes" 1939-1941
Durante os primeiros anos da Batalha do Atlântico, por motivos acima explicados, os Aliados pouco ou nada puderam fazer para conter a ameaça submarina nazista, mesmo com seus navios navegando em comboios. Doenitz também orientou seus capitães a fazerem uso da tática de "matilhas" (em alemão, Rudeltaktik): um comandante de submarino que localizasse um comboio aliado transmitia, por rádio, sua rota a submarinos vizinhos, que reuniam-se para atacar, à noite, o malfadado comboio e infligir-lhe pesadas perdas. Por conseguinte, um número assustador de navios mercantes e de combate foi posto a pique por hábeis comandantes alemães. Tanto que, por momentos, o ritmo no qual os navios aliados eram afundados superava a capacidade dos estaleiros em substituí-los. Entre os maiores "ases" de submarino da Alemanha nazista, destacam-se:
- Otto Kretschmer (comandante do U-99);
- Günther Prien (a bordo do U-47);
- Joachim Schepke (capitão do U-100);
- Hans Lehmann-Willenbrock (à testa do U-96);
- Reinhard Hardegen (ousado capitão do U-123, com o qual atacou navios em plena costa norte-americana, na Operação Paukenschlager, ou "Batida de Tambor", no início de 1942).
[editar] Reviravolta: o radar centimétrico
Winston Churchill, em suas memórias, descreveu os "U-Boats" como a maior ameaça à vitória sobre o nazismo – não à toa ele temia os afundamentos causados pelos U-Boats mais do que qualquer outra arma de Hitler. Apesar de os alemães já estarem na defensiva na frente oriental, no Atlântico ainda levavam vantagem. O mês de março de 1943 foi o pior da guerra para os Aliados no mar: eles perderam 51 navios nesse período.
Mas a agonia aliada terminou em maio de 1943, quando John Sayers, cientista britânico, anunciou a descoberta de um novo sistema de radar, com ondas curtas e tamanho compacto o suficiente para ser instalado em aviões – o radar centimétrico. Seu princípio é o mesmo dos radares convencionais; um feixe de ondas eletromagnéticas é emitido. Quando um obstáculo é encontrado, o feixe retorna. Medindo o tempo entre a recepção e choque com o obstáculo, bem como o ângulo do mesmo, pode-se localizar o alvo. Com base nele, os aviadores aliados podiam, agora, localizar submarinos alemães na superfície com relativa facilidade e afundá-los com cargas de profundidade (bombas submergíveis, em forma de latas de tinta, que explodiam com a pressão da água). Os decessos de U-Boats alemães cresceram vertiginosamente – e os afundamentos de navios foram drasticamente reduzidos.
Doenitz procurou Hitler para transmitir-lhe as más novas: "Mein Führer, o fato é que agora os Aliados dispõem de um novo mecanismo que lhes permite localizar nossos submarinos à tona d'água... Nossas perdas subiram drasticamente. Deveríamos poupar nossas forças, pois do contrário estaríamos entrando no jogo do inimigo".
A Grã-Bretanha estava, por fim, salva da predação nazista, não sem pagar um preço elevadíssimo: além do afundamento de mais de 2.000 navios mercantes e militares e da perda de mais de 13,5 milhões de toneladas de carga, cerca de 40.000 de seus mais capazes marinheiros morreram enquanto serviam à pátria. No mesmo interim, os alemães perderam, em toda a guerra, 29.000 homens e 785 de seus 1.162 submarinos.
[editar] Ligações externas
- http://www.uboat.net – Em inglês, mantido pelo entusiasta islandês Gudmundur Helgasson, possivelmente o melhor site sobre a Batalha do Atlântico, enfocando os submarinos alemães, com fichas técnicas, estatísticas, histórias, fotos etc.
- http://www.u47.org – Também em inglês, conta a história do submarino U-47 e de seu comandante, Günther Prien.
[editar] Bibliografia
- MASON, David. Submarinos Alemães: a Arma Oculta. Rio de Janeiro: Renes, 1974. 160 p.;
- BUSCH, Harold. U-Boats at War. Nova York: Ballantine, c1973 (Em inglês).
- PRIEN, Günther. Mein Weg Nach Scapa Flow (Minha rota até Scapa Flow. Em alemão).