Carlos Chagas (jornalista)
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Carlos Chagas, jornalista brasileiro, atualmente apresenta o programa Jogo do Poder, exibido pela Rede CNT e que antes ia ao ar nas redes Manchete e Rede TV.
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O homem-imprensa
Diego Amorim Estagiário da Assessoria de Comunicação
Conhecer a vida do jornalista Carlos Chagas é aprender um pouco da história do jornalismo do Brasil. Testemunha de momentos importantes para o país, ele compartilhou, durante 25 anos na Universidade de Brasília (UnB), suas valiosas experiências, além de defender uma imprensa ética e a serviço da sociedade. Com a aposentadoria, Chagas ganha, aos 67 anos, mais tempo para as atividades diárias, que incluem: quatro comentários políticos na rádio Jovem Pan; o programa O Jogo do Poder, transmitido pela rede de televisão CNT; e um artigo semanal publicado em 16 jornais.
O JORNALISMO E A POLÍTICA - No seu escritório particular, no centro de Brasília, onde seis televisões e um calhamaço de jornais o abastecem dos acontecimentos, Chagas interrompe a entrevista ao UnB Notícias para acompanhar a posse do novo ministro da Defesa, o vice-presidente José Alencar. Ao ver o jornalista apontar cada um dos personagens da cerimônia e tomar nota de todos os detalhes, foi possível conferir na prática um de seus maiores ensinamentos: o culto à informação.
Natural da cidade de Três Pontas (MG), também terra onde cresceu o cantor Milton Nascimento, Chagas transformou-se em um dos maiores nomes da história do jornalismo brasileiro. Mesmo vindo de uma família de médicos, decidiu cursar Direito na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Mas, em 1958, depois de conseguir uma vaga de repórter no jornal carioca O Globo, a missão de informar a sociedade começava a conquistar o lugar do caminho jurídico. "Gostava muito de português, de fazer redação, de história. Sem a exigência do diploma de jornalista, que considero essencial, era bem mais fácil entrar nas redações", lembrou.
No último ano do curso, ousou aceitar o desafio de acompanhar Jânio Quadros na campanha presidencial de 1960, correndo o risco de ter de adiar a formatura. "Precisavam de um repórter solteiro e achei que viajar por todo o Brasil não seria uma má idéia", contou. A Internet ainda não existia. "Para enviar as matérias ao Rio, era necessário recorrer aos telegramas ou, muitas vezes, berrar ao telefone", recordou. A cobertura jornalística da trajetória do futuro presidente durou apenas quatro meses. No entanto, a política revelou-se como protagonista dos mais de 45 anos de carreira.
No final da tarde de uma sexta-feira de maio de 1969, Chagas, já editor-político do O Globo, é chamado à Brasília pelo marechal-presidente Arthur da Costa e Silva. "O presidente tinha resolvido acabar com o Ato Institucional 5 (AI-5) e precisava de nova assessoria para, aos poucos, informar a população da decisão", explicou. Ele só não contava com a trombose cerebral que, de acordo com Chagas, o impediu de reabrir o Congresso Nacional.
Ao perceber que a linha dura da ditadura se preparava para assumir o poder, pediu demissão e retornou ao jornal carioca. A aventura provocou uma série de reportagens que garantiu o Prêmio Esso de Jornalismo, o livro 113 Dias de Angústia, aprisionado durante 10 anos pela censura, além do primeiro processo pela Lei de Segurança Nacional, que definia crimes contra a ordem política e social. A pressão intensificou-se quando, de volta à capital federal em 1971, Chagas assumiu a sucursal do Estado de S. Paulo e acumulou mais três processos. Daiane Souza/UnB Agência O jornalista conquistou o carinho de muitos durante os 25 anos na UnB
A UNIVERSIDADE E A ÉTICA - No final da década de 1970, o chefe do Departamento de Jornalismo da UnB, professor Luiz Gonzaga Motta, estava à procura de jornalistas políticos para integrar o quadro docente da universidade. "Chagas era um grande nome, fazia parte da lista e aceitou o convite", disse Motta. Os alunos e funcionários que conviveram com o mestre – como é chamado por muitos – agradecem o sim. "Ele só me perturbava para cobrar a sala arrumada às 8h em ponto", comentou Jeová Batista, 55 anos, funcionário da UnB desde 1974, que fala com orgulho das vezes em que assistia às aulas do fundo da sala.
Doutorando da Faculdade de Comunicação, Fábio Pereira, 24 anos, contou que, no 3º semestre da graduação, teve o privilégio de cursar a matéria História da Imprensa. "A história ganha outra dinâmica com Chagas. Não se acha mais outro professor com essa experiência", garantiu. O aluno ainda não se esqueceu da aula na qual o professor relatou o dia em que, aos 15 anos, presenciou a multidão de mais de 500 mil pessoas acompanhando o cortejo de Getúlio Vargas no bairro do Flamengo, no Rio. A estudante do 4º semestre Isabela Azevedo, 19 anos, comemora o fato de ter sido aluna da última turma da matéria antes da despedida de Chagas. "Pela primeira vez, me senti em um curso de jornalismo. Ele não transmitia, mas, sim, fazia você viver os fatos", disse.
A defesa da moral e dos valores foi tarefa realizada na cadeira de Ética e Legislação. "Não se pode, a partir de uma denúncia ou documento qualquer, acusar alguém de algo. Uma matéria deve ser sempre aberta ao debate e mostrar todos os lados", ensinava aos futuros profissionais. A imparcialidade é uma meta, mas, para Chagas, deve-se levar em conta que o jornalista não é robô, possui percepções e sentimentos próprios como qualquer outro ser humano. "Chagas é um homem inteligente e nacionalista. Um dos poucos que ainda se preocupa em informar a verdade", afirmou o presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT) do Distrito Federal, Georges Michel, apresentado ao jornalista por um grande amigo de Chagas, o ex-governador do Rio Leonel Brizola. Durante 19 anos (1985-2004), o professor Chagas também representou a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em Brasília e integrou o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), encarregado de investigar denúncias sobre violências praticadas por agentes do poder público contra o cidadão comum. Daiane Souza/UnB Agência A leitura diária de jornais comprova o culto de Chagas à informação
O PAI E A FAMÍLIA - “Casei com Chagas sabendo que era um homem que tinha o jornalismo não só como profissão, mas como a grande paixão”, afirmou a advogada e psicóloga Enila Chagas, lembrando-se de quando se conheceram no curso de Direito. O trabalho, que não era pouco, impedia que o editor-político de O Globo e ainda comentarista político da TV Rio tivesse maior contato com as duas filhas. “Hoje em dia, tento compensar com os quatro netos”, brincou o avô coruja.
Mesmo assim, na memória da filha mais nova, secretária Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, Cláudia Chagas, 41 anos, o pai está muito presente. "Meu pai é um grande amigo, seguro, tranqüilo e acredita que as coisas podem sempre mudar. Nunca deixou de me apoiar e de respeitar minhas escolhas", elogiou.
Helena Chagas, 43 anos, herdou o amor ao jornalismo e dirige a sucursal de O Globo em Brasília. "É claro que a convivência com a profissão desde pequena me influenciou de alguma forma. Meu pai sempre me ensinou o jornalismo correto, a serviço do leitor", comentou ela, que, além de filha, foi aluna dele. Mesmo mostrando-se progressista no lado político, Chagas representa, para o amigo jornalista Luiz Orlando Carneiro, uma figura conservadora. "Ele ainda guarda em casa uma daquelas vitrolas que só funciona com manivela", entregou.
