Carlos IV de Espanha

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Carlos IV de Espanha vestido de caçador (quadro de Goya).

Carlos IV (11 de Novembro de 1748 — 20 de Janeiro de 1819). Rei de Espanha desde 14 de Dezembro de 1788 até abdicar do trono em 1808 em favor do filho Fernando VII. Foi batizado Carlos Antonio Pascual Francisco Javier Juan Nepomuceno José Januario Serafin Diego e nasceu em Portici, nos arredores de Nápoles, morrendo no mesmo mês em que enviuvou, no Palácio dos reis de Nápoles, em Portici, sendo sepultado posteriormente no Escurial, na Espanha. Lamentável herdeiro, foi chamado pelo pai, Carlos III, no verão de 1765 para informá-lo do noivado que tinha sido decidido, como Príncipe das Astúrias, com a princesa Maria Luísa de Parma.

Teve um reino atribulado a partir de 1788, principalmente por ter abandonado o governo a sua mulher, Maria Luísa de Parma, e a Manuel Godoy, tido por seu amante. Em 19 de março de 1808, após a derrota em Trafalgar de 1805, e uma política desastrada, viu-se obrigado pelo filho a abdicar do trono em nome dele, que assumiu como Fernando VII em seguimento ao que se chama o Motim de Aranjuez. Procurou então o apoio de Napoleão, para conseguir de volta sua coroa. Conseguiu, mas por pouco tempo, pois Napoleão o obrigou a abdicar de novo, desta vez para entregar a coroa espanhola a seu irmão José Bonaparte. Foi o pai de D. Carlota Joaquina.

Inteiramente submetido à mulher e a Manuel Godoy, o favorito, que dirigiam juntos o reino. Tentou salvar Luis XVI, fazendo-se declarar guerra pela Convenção (março de 1793), com três anos de operações militares, invasão do território, desentendimento hispano-inglês. Assinou a Paz de Basiléia em 1795. A aliança de Santo Ildefonso em 1796 o colocou a mando da França em sua luta contra a Grã Bretanha e Portugal. Perdeu a ilha da Trindade em 1797, devolveu a Luisiânia a Napoleão em 1800. Viu destruídos o comércio maritimo e a marinha de guerra em Trafalgar. No motim ou Pronunciamiento de Arajuez, em 18 de março de 1808, impopular, foi obrigado a abdicar em prol do filho, que na subsequente entrevista de Bayonne foi obrigado a renunciar à coroa.

Não se pode esquecer a vergonhosa dependência de Carlos IV da esposa, de desenfreada leviandade, cativada pela bela cara do estúpido Godoy, apelidado “árbitro da Espanha”, feito primeiro Duque de la Alcudia com grandeza de Espanha de 1ª classe, recebendo a Grã-Cruz de Carlos III, a Cruz de Santiago, Ajudante general do Corpo da Guarda, Marechal de campo dos Reais exércitos, genthil-homem de câmara, conselheiro de Estado, Príncipe da Paz. Especula-se até se haveria ali entre eles uma “trindade”... Enquanto isso o povo cantava:

“Entró en la Guardia real,

y dio el gran salto mortal.

Con la reina se ha metido

y todavía no ha salido...”

A história assim se conta: no levante de Aranjuez, a Rainha salvou o favorito. O aparecimento de Pepita Tudó, gaditana de 16 anos, perturbou suas relações. Em 2 de maio de 1808, os habitantes de Madrid se alçaram contra o ocupante francês: duas semanas antes, um golpe de Estado expulsara o Primeiro Ministro Godoy. O intrigante arrastara o país a uma aliança com a França, contra a Inglaterra, provocando a ruina do país, a perda da frota e das colônas na América, a ocupação pelas tropas de Napoleão. Caindo Godoy, Carlos IV abdicou em favor do filho Fernando. Ora, Napoleão tinha idéia de entregar o trono espanhol a seu irmão alcoólatra, José. O maréchal Murat, que representava o imperador em Madrid, convocou em Bayonne o antigo e o novo rei para lhes explicar que estavam destituídos. O povo em Madrid, alertado, atacou as tropas de Murat que reagiu com brutalidade. A repressão foi impiedosa, como mostrou Goya em quadro de célebre realismo (Dos de Mayo). Mas as execuções sumárias, a pilhagem, as violações pelo exército francês não impediram a revolta de se estender pelo país, ao apelo do clero, nobreza, liberais. Numerosos exércitos franceses são liquidados por esta guerra de independência de gênero desconhecido. Inventou-se a expressão guerilla (pequena guerra, em espanhol) para qualificar os ataques tipo surpresa de combatentes ocultos que deixavam pouca oportunidade aos grupos de soldados isolados. Os ingleses aproveitam e desembarcam um corpo expedicionário comandado pelo general Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington. Por sua determinação, os espanhóis causam a primeira derrota grave de Napoleão e aos herdeiros da revolução.

Napoleão exilou a família real espanhola na França enquanto o alcoólatra José Bonaparte servia como rei da Espanha até que um levante popular o forçou a fugir. Retirou-se a Marselha e para Roma onde viveu no palácio Barberini.

[editar] Casamento e posteridade

A cerimônia do seu casamento foi espetáculo de proporções enormes, pois o Rei Carlos III buscava restaurar os laços entre os numerosos ramos dos Bourbon. Realizou-se na Granja de San Ildefonso, nos arredores de Madrid, em 4 de setembro de 1765: a noiva tinha 14 anos e era sua prima irmã, Maria Luísa de Parma, que sempre o dominaria. Nascera ela em Parma em 9 de dezembro de 1751 e morreria em 2 de janeiro de 1819 em Roma, de pneumonia, estando sepultada no Escorial. Princesa de Bourbon-Parma, era filha do Príncipe Filipe (1720-1765), Duque de Parma, que herdara o ducado da mãe nos anos 1740, e da princesa Luísa Elizabeth de França, filha do rei Luís XV; era assim irmã de Isabel de Parma, mulher de D. José II, e de Fernando (1751-1802) Duque de Parma. Maria Luísa passaria à história sob as piores acusações: coração vicioso, refinada astúcia, “increíble capacidad de hipocresía y disimulo”, talento dominado pelas paixões... É dela um famosíssimo retrato de Goya.

Tiveram 15 filhos.

1 - depois de seis anos casados, nasceu Carlos (Escorial 19 de setembro de 1771-7 de março de 1774 em El Pardo, sepultado no Escorial), batizado Carlos Clemente Antônio de Padua Januário Pascual José Francisco de Assis Francisco de Paula Luís Vicente Ferrer Rafael, Infante de Espanha.
2 - Carlota Joaquina Teresa Cayetana, nascida em Aranjuez em 1775 e morta em Queluz em 1830, Rainha de Portugal por ter-se casado aos 10 anos em Lisboa com o Príncipe da Beira, depois Príncipe do Brasil e Príncipe Regente, o futuro D. João VI.
3 - Maria Luisa Carlota (Granja de San Ildefonso 1777-1782 San Ildefonso) Infanta de Espanha.
4 - Maria Amália Francisca (El Pardo 1779-1798 Madrid); casada em 1795 com seu tio o Infante Antonio Pascoal (Caserta 1755-1817 Madrid) Infante de Espanha, sem posteridade.
5 - Carlos (El Pardo 1780-1783 Aranjuez) Domingo Eusebio Rafael José Antonio Juan Nepomuceno Gabriel Julian Vicente Ferrer Andrès-Avelino Luís Fernando Angel Francisco Pasqual Joaquin Cayetano Ignacio Manuel Raimundo Januario Francisco de Paula, Infante de Espanha.
6 - Maria Luísa Josefina Antonieta (Granja de San Ildefonso 1782-1824 Roma); Infanta de Espanha, Duquesa de Lucca de 1815 a 1824, Rainha da Etrúria, casada em 1795 com Luís I de Bourbon-Parma (nascido em Colorno, Piacenza em 1773-1803 palácio Pitti, Florença), Infante de Espanha, Infante de Parma, Rei da Etrúria, Príncipe de Bourbon-Parma, filho de Fernando (1751-1802) Duque de Parma [1765] e da arquiduquesa Maria Amélia da Áustria.
7 - Carlos Francisco de Paula (San Ildefonso 1783-1784 San Ildefonso) Domingo Antonio José Raimundo Diego Vicente Ferrer Juan Nepomuceno Isidro Pascual Pedro de Alcantara Fernando Felipe Luís Cayetano Gregorio Joaquin Lorenzo Justiniano Julian, Infante de Espanha.
8 - seu gêmeo Filipe Francisco de Paula (San Ildefonso 1783-1784 San Ildefonso) Domingo Antonio José Raimundo Diego Vicente Ferrer Juan Nepomuceno Isidro Pascual Pedro de Alcantara Fernando Felipe Luís Cayetano Gregorio Joaquin Lorenzo Justiniano Julian, Infante de Espanha.
9 - Fernando VII (Escorial 13 de outubro de 1784-29 de setembro de 1833 Madrid).
10 - Don Carlos María Isidro Benito de Borbón (Aranjuez 1788-1855 Trieste); Infante da Espanha e Conde de Molina; lutou contra a alteração nas leis de sucessão que permitiu que reinasse sua sobrinha Isabel II. Chamado Carlos V por seus partidários que se conheciam como «carlistas». Renunciou a seus direitos em favor do primogênito. Foi o primeiro destes Pretendentes do ramo chamado "carlista"; abdicou em 1845. Prisioneiro de Napoleão na França de 1808 a 1814. Casou em Madrid em 1816 com a prima, Maria Francisca de Assis de Bragança (Queluz 1800-1834 Alverstoke Rectory, Inglaterra), Infanta de Portugal, filha de João VI rei de Portugal e de sua tia Carlota Joaquina de Borbon. Tiveram três filhos. Casou em segundas núpcias em Azcoitia em 1838 com sua cunhada a infanta Maria Teresa (Queluz 1793-1874 Trieste), Princesa da Beira, filha de João VI e de sua tia Carlota Joaquina de Borbon.
11 - Maria Isabel (Madrid 1789-1848 Portici); Infanta de Espanha, Rainha das Duas Sicilias e Rainha titular de Jerusalém. Casou em 1802 em Nápoles com Francisco I (Nápoles 1777-1830 Nápoles) Rei das Duas Sicílias, filho de Fernando IV e da arquiduquesa Maria Carolina da Áustria; a qual casou em segundas núpcias em Nápoles em 1839 com o conde Francesco del Balzo (1805-1882).
12 - Maria Teresa (Aranjuez 1791-1794 Escorial) Infanta de Espanha.
13 - Filipa Maria (Aranjuez 1792-1794 Madrid) Infanta de Espanha.
14 - Francisco de Paula Antonio Maria (Madrid 1794-1865 Madrid); Infante da Espanha, Duque de Cadiz. Casou em Madrid em 1819 com sua sobrinha Luísa Carlota de Nápoles (Portici 1804-1844 Madrid) princesa de Bourbon-Duas Sicílias, filha de sua irmã Maria Isabel e de Francisco I, rei das Duas Sicilias; tiveram 11 filhos. Casou depois de modo morganático em 1851 com Dona Teresa Arredondo, bailarina. Seus filhos s~~ao o tronco da dinastia Borbon-Anjou-Cadiz-Sevilha.