Crença
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- Nota: Para outros significados de Crença, ver Crença (desambiguação).
Em filosofia, mais especificamente em epistemologia, crença é um estado mental que pode ser verdadeiro ou falso. Ela representa o elemento subjetivo do conhecimento. Platão, iniciador da tradição epistemológica, opôs a crença (ou opinião - "doxa", em grego) ao conceito de conhecimento.
Uma pessoa pode acreditar em algo e, ainda assim, ter dúvidas. Acreditar em alguma coisa é dar a isso mais de 50% de chance de ser verdadeiro.
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[editar] Metafísica da crença
Quando uma pessoa acredita em alguma coisa, no que ela acredita? Algo pode ser apontado como o objeto da crença?
Alguns filósofos diriam que sim. Para Frege, aquilo no que acreditamos é uma proposição. Para outros, como Ryle, Davidson e Fodor, aquilo no que acreditamos é uma frase (ou sentença).
Proposições são entidades abstratas. Frases são construções concretas. As diferenças entre tais tipos de entidades levam a diferenças nas respectivas teorias que as apontam como objetos da crença.
A teoria proposicional tem a vantagem de explicar como pessoas que se expressam em diferentes línguas podem compartilhar uma crença. Segundo tal teoria, o português que afirma sinceramente "O céu é azul" e o inglês que afirma sinceramente "The sky is blue" estão expressando, nas suas respectivas línguas, uma mesma proposição abstrata. Como uma mesma entidade abstrata é o objeto da crença de ambos, ambos compartilham a mesma crença.
Todavia, tal teoria tem a desvantagem de utilizar um elemento misterioso na explicação. O elemento explicador, a "entidade abstrata", não é ele mesmo explicado. Isso nos leva a buscar um explicador mais pedestre.
Tal tipo de explicador é apresentado na teoria frasal da crença. Frases são entidades observáveis e reconhecíveis.
Todavia, a teoria frasal tem a dificuldade de não explicar o caso das pessoas que se expressam em diferentes línguas mas compartilham as mesmas crenças. Eis o problema: dado que "O céu é azul" e "The sky is blue" são diferentes frases, como podem o português e o inglês compartilharem a mesma crença?
Os defensores da teoria apresentam como solução o apelo a uma linguagem do pensamento (mentalês) que seria comum aos falantes de ambas as línguas.
Mas essa solução é tão inexplicada quanto o apelo às entidades abstratas. A questão permanece em aberto.
[editar] Epistemologia da crença
Uma questão fundamental sobre a epistemologia da crença é diferenciar o modo como cada um conhece suas próprias crenças do modo como cada um conhece as crenças dos outros.
A primeira pessoa conhece suas próprias crenças de maneira imediata.
O conhecimento das crenças da terceira pessoa não é imediato. É inferencial. É apoiado na observação do comportamento da pessoa.
[editar] Normatividade
A meta da crença é a representação do mundo. A norma para a crença é que devemos acreditar no que é verdadeiro:
- "[...] a evitação de contradição é interna ao próprio conceito de crença, dado que é interno à crença destinar-se a representar o mundo." (Richard Moran, "Replies to Heal, Reginster, Wilson, and Lear", p. 472 (em Philosophy and Phenomenological Research, volume LXIX, número 2, setembro de 2004, páginas 455-472)
[editar] Crenças de re e de dicto
Podemos ter uma crença de ou sobre alguma coisa, ou acreditar que certo estado de coisas é o caso.
Uma crença sobre alguma coisa é chamada de "crença de re". Acreditar que certo estado de coisas é o caso é ter uma "crença de dicto".
Crenças de re são "abertas". O objeto do qual se tem a crença faz parte da crença.
Crenças de dicto são "fechadas". Se acredita em certo estado de coisas apresentado proposicionalmente. (Cf. Escopo)