Filosofia do tempo
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A filosofia do tempo é uma área da filosofia que trata de questões acerca da ontologia e da epistemologia do tempo.
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[editar] Realismo e anti-realismo
Tradicionalmente, os realistas sobre o tempo defendem a existência do tempo separadamente da mente humana. Os anti-realistas sobre o tempo, principalmente os idealistas negam, duvidam ou problematizam tal existência separada.
Kant, um filósofo idealista, nega a realidade do tempo.[1] Para ele, o tempo é uma noção a priori que não designa nada além de determinada característica do nosso modo humano de receber informações através dos sentidos.
Talvez o mais famoso argumento contra a realidade do tempo seja o de McTaggart.[2] McTaggart diz que podemos distinguir duas "séries" ou características do tempo, a série-A e a série-B, que chamaremos de características-A e características-B.[3] As noções de passado, presente e futuro são as características-A, e as noções de antes e depois, ou anterior e posterior, são as características-B.
Segundo McTaggart, as características-B são redutíveis às características-A, e as características-A nos levam ao regresso ao infinito. Tome como exemplo um evento presente, a leitura deste artigo da Wikipédia. Esse evento é presente, foi futuro e será passado. Ser presente é ser presente no presente, ter sido futuro no passado e vir a ser passado no futuro. Ser presente no presente é ser presente no presente no presente, ter sido futuro no passado no presente, vir a ser passado no futuro no presente etc. Resumindo, por levarem ao regresso ao infinito as características-A não podem ser atribuídas ao tempo. Como, após a redução das características-B às características-A, não há outras características do tempo, McTaggart conclui que o tempo não tem característica alguma por ser irreal. Em suma, ele diz que o tempo não existe, embora tenhamos a ilusão do tempo.
[editar] A direção do tempo
A física contemporânea traz alguns problemas de interesse à filosofia do tempo, e o problema da direção do tempo é um deles.
O problema da direção do tempo origina-se diretamente da incompatibilidade entre as leis da natureza, reversíveis no tempo, e nossa experiência do tempo como algo irreversível.
Segundo a física, tudo o que ocorre movendo-se adiante na direção do tempo, isto é, tudo o que deixa de ser futuro, vem a ser presente, e depois passado, pode ocorrer movendo-se para trás na direção do tempo, isto é, deixando de ser passado, vindo a ser presente, e depois futuro. Para a física, uma e outra coisa são igualmente possíveis.
Todavia, não experimentamos o tempo como algo reversível. Experimentamos, por exemplo, que um copo primeiro está inteiro, depois quebrado, e não o contrário. Temos lembranças do passado, não do futuro. Geralmente admitimos que o passado é imutável, enquanto o futuro está aberto, e não o contrário.
Há três soluções principais para o problema da direção do tempo: a solução via causação, a solução pela termodinâmica, e a solução pelas características das leis da física.
[editar] Solução via causação
Uma das duas principais famílias de soluções para esse problema tem caráter epistemológico e metafísico. Nessa visão, traçamos a visão de uma direção no tempo por causa da assimetria da causação. Sabemos mais sobre o passado porque os elementos do passado são causas do efeito que é nossa percepção. Sentimos que não podemos afetar o passado, e podemos afetar o futuro, porque de fato não podemos afetar o passado, e podemos afetar o futuro.
Tradicionalmente tem se visto duas dificuldades principais com essa solução. A mais importante é a dificuldade é definir a causação de tal modo que a prioridade temporal da causa sobre o efeito não seja meramente estipulativa. Se tal é o caso, nosso uso da noção de causação para construir uma ordenação temporal é circular. A segunda dificuldade não ameaça a consistência da visão, mas ataca seu poder explicativo, pois a solução via causação, embora dê conta de assimetrias temporais ligada a fenômenos como a percepção e a ação, não resolve problemas ligados a vários outros fenômenos assimétricos, como, por exemplo, o copo que se quebra (ver acima).
[editar] Notas
- ↑ Apesar de dizer "claro que o tempo é algo real [...]", Kant nega a realidade do tempo no sentido relevante para a discussão entre realismo e anti-realismo acerca do tempo. A frase completa deixa o caráter mental do tempo para Kant mais evidente: "Claro que o tempo é algo real, a saber, a forma real da intuição interna" (Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, em Victor Civita (ed.), Os Pensadores: Kant, São Paulo: Abril Cultural, 1983, trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger, B53). Não é dessa maneira que os realistas falam da realidade do tempo. Eles rejeitam o que Kant diz logo adiante da passagem acima citada, que "o tempo nada mais é que a forma da nossa intuição interna" (B54). Para os realistas o tempo é mais do que isso, e algo que é o que é independentemente de nós humanos (ou nós seres dotados de mente) e da nossa "intuição interna".
- ↑ Ver McTaggart, "The Unreality of Time".
- ↑ Seguimos Peter Geach na visão das séries do tempo de McTaggart como características do tempo. Ver Geach, Truth, Love and Immortality: An Introduction to McTaggart's Philosophy (Berkeley e Los Angeles: University o California Press, 1979), p. 90.