J. G. Ballard
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James Graham Ballard (Shangai, 15 de novembro de 1930) ele é um escritor britânico.
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JG Ballard (n. 1930 em Xangai) é um dos mais singulares e premonitórios escritores do pós guerra. A sua extensa obra, iniciada em 1962 com The Drowned World e que, trinta romances e inumeráveis ensaios depois continua incansavelmente, irá conhecer um novo capítulo com KINGDOM COME no fim deste ano – depois da última brilhante trilogia constituída por Cocaine Nights, Super-Cannes e Millenium People -. O trabalho de JG Ballard é uma exploração obsessiva do subsolo mental das nossas sociedades hiper-industrializadas e hiper-tecnológicas, concebidas pelo prisma do acidente generalizado enquanto norma. Ballard desenvolve uma espécie de topologia do acidente e da colisão entre a nossa psique e o nosso ambiente integralmente mecanizado e conceptual: universo de subúrbios proliferantes, de tapetes rolantes nos hiper-mercados, trânsito automóvel, de mass media e férias em pacotes, de “higienismo” geral integrado nos parâmetros das nossas piores doenças e perversões. No prefácio da edição francesa da sua obra-prima, Crash (1973), escreve: “O casamento da razão e do pesadelo que tem dominado o século XX partiu de um mundo cada vez mais ambíguo. Os espectros de tecnologias sinistras vagueiam pela paisagem das comunicações e povoam os sonhos que compramos. O armamento termonuclear e os reclames para bebidas gasosas coexistem num reino de luzes ofegantes governado pela publicidade, os pseudo eventos, a ciência e a pornografia. As nossas existências são reguladas sobre os leitmotives gémeos do século: o sexo e a paranóia.”
Ballard faz “Ficção Científica”. Mas uma ficção científica que não pretende explorar longínquos espaços intergalácticos para aí transpor e metaforizar a sociedade do presente, nem prever um apocalipse generalizado, algo monolítico (bomba atómica, etc) num futuro próximo. Numa veia próxima de William Burroughs, Ballard parte do premissa de que já vivemos num cenário de ficção científica e que o apocalipse ( cf. “ Kingdom Come” ) está implícito nas suas entrelinhas e nos recantos da sua banalidade, totalmente integrado nos cálculos ficcionais da nossa consciência e sexualidade, dos mecanismos e encadeamentos tecnológicos e cinéticos da paisagem na qual evoluímos. Se na perspectiva clássica (mesmo na cibernética e nas aproximações cyberpunk), a tecnologia é uma continuação do corpo, é uma sofisticação funcional de um organismo humano, na versão barroca e apocalíptica de Ballard, (nomeadamente em Crash – romance que celebra o casamento entre o acidente de viação e o sexo –, High Rise onde os habitantes de classe média de um novíssimo e sofisticado condomínio de trinta andares deslizam para uma orgia de violência e de “ Balcanização” tribal inter-andares, com canibalismo à discrição e um desfecho bizarro –, ou ainda no romance-matriz The Athrocity Exhibition( A Feira das Atrocidades)– deconstrução narrativa da deconstrução mental de um psiquiatra louco, empenhado em encontrar a fórmula sexual que une as visões de morte filmada do Vietname, no filme amador do homicídio de Kennedy repetido em loop, e planos para as melhores configurações de morte de celebridades por acidente, ) a técnica é deconstrução mortal do corpo – já não prolongamento do corpo mas extensão da morte –, desmembramento e desfragmentação do sujeito na paisagem de imagens, velocidades, conjuntos arquitecturais, próteses de todo o tipo. O “mundo interior” e o “ mundo exterior” são completamente compenetrados, co-incidentes, conjuntura do acidente. O papel do escritor é de decifrar, descrever e ampliar as colisões entre eles, descrever a “geometria geral” do ponto nodal do espírito onde a realidade exterior e o universo mental se encontram numa espécie de metanóia, tornando irrelevante a fronteira convencional entre sujeito e objecto. Contrariamente ao grosso da produção literária e artística que se empenha em relatar visões catastróficas do nosso universo exponencialmente robotizado, os romances de Ballard já não descrevem sujeitos psicológicos esmagados e alienados por um mundo exterior impessoal. Numa lógica anti-existencialista, a sua narração não é operada a partir de uma disjunção entre sujeitos morais ou até pensantes perante um universo alienante e automatizado. As personagens são fragmentos de uma paisagem tecnológica que é, em si, um clima psíquico carregado e uma projecção ficcional (subúrbios, aeroporto, rampas de vias rápidas, estâncias balneárias, hospitais, veículos, marinas – configurações tecnológicas que contêm por si só uma ficção psico-sexual e de morte secreta, frutos das projecções mentais do homem). As personagem são continuações ou terminações psíquicas e nervosas da geometria e encadeamentos cinéticos e psicopatológicos do ambiente no qual evoluem. Em 1991, nos comentários que faz acerca de The Athrocity Exhibition, Ballard descreve este processo narrativo que se pode estender a toda a sua obra: “Ícones neuróticos na estrada espinal”. Aqui, como ao longo de The Athrocity Exhibition , o sistema nervoso das personagens foi exteriorizado como fazendo parte de um processo de inversão dos mundos exteriores e interiores. As auto-estradas, os blocos de escritórios, as expressões nas caras e os painéis de sinalização são apercebidos como uns quantos elementos de um mesmo sistema nervoso central disfuncional. Ballard inscreve a ficção científica no presente absoluto. Escreveu que a partir da bomba atómica, da viagem no espaço e das combinações protéticas infinitas que nos fornecem os mass media e o desenvolvimento científico, vivemos num universo de “possibilidades ilimitadas”, no qual o passado é brutalmente colocado entre aspas e, de certa forma, a ficção científica, no sentido absolutamente literal da palavra, torna-se o palco real das nossas vidas e das nossas psiques. Muitas vezes considerado como uma espécie de oráculo (tem escrito e descrito coisas que aconteceram depois, como o sublinhou Salman Rushdie, em comentário sobre a morte da princesa Diana: “Isto é a realização de um guião que Ballard escreveu há trinta anos com “ A Feira das Atrocidades”, o casamento da celebridade com a pornografia, os mass media e a tecnologia automóvel lançados uns contra os outros a 200 Km/h, numa colisão mortífera cuja repercussão real é um loop televisivo e a sincronização emocional da classe média numa novela mental”), JG Ballard defende apenas o seguinte: “Vivemos dentro de um mundo que é um enorme romance. Torna-se cada vez mais irrelevante para um escritor dar um conteúdo ficcional à sua obra. A ficção já está por tudo o lado. O trabalho do romancista é o de inventar a realidade, saber ler correctamente os sinais.” Muito próximo de Burroughs e do filosofo francês Jean Baudrillard, Ballard, agora com 76 anos, continua a escrever com o seu talento de grande humorista intacto, e a viver numa pequena casa na longínqua e anónima periferia londrina, “porque o subúrbio é a vanguarda da hiper-modernidade, o posto avançado de onde melhor se pode antever o futuro.”
