José Hernández

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Busto de José Hernández

[editar] Biografia

No dia 10 de novembro do ano de 1834, em uma chácara na província de Buenos Aires, Argentina, nascia José Hernandéz, filho de Rafael Hernandéz e Isabel de Pueyrredón – prima de Juan Martín de Pueyrredón .

José, que estudava no Colégio D Pedro Sánchez, aos 4 anos de idade já sabia ler e escrever. Aos 9 anos de idade, tendo sido vítima de uma doença e, com a morte de sua mãe, os médicos recomendaram a seu pai que o encaminhasse para viver no campo. Assim, José Hernandéz passou a viver no povoado de Camarones, e ali, durante 9 anos entrou em contato com o estilo de vida, costumes, língua e códigos de honra dos gaúchos, além de participar de vários enfrentamentos com os índios, que naquele momento ocupavam parte da província de Buenos Aires.

No mês de março de 1857, aos 22 anos de idade, Hernandéz passa a residir na cidade de Paraná, um período pouco antes de receber a notícia de que seu pai havia morrido. Nessa cidade, Hernandéz conhece Carolina González Del Solar e, no dia 8 de junho de 1863, os dois se casam e, dessa união nascem 7 filhos, 6 mulheres e 1 homem. Anos mais tarde, Hernandéz se torna um eloqüente autodidata, e através de suas numerosas leituras adquire claras idéias sócio-políticas. Muito se diz que Hernandéz era capaz de improvisar versos e discursos em reuniões de amigos e em congressos e, que sua memória era fantástica, algo fora do comum.

Vale ressaltar, que entre os anos de 1852 e 1872, época de grandes agitações políticas na Argentina, Hernandéz defendeu uma postura em que se devia ter as províncias interligadas a uma autoridade central que seria estabelecida em Buenos Aires. No ano de 1853, ingressa na carreira militar e combate as forças do coronel rosista Hilário Lagos. Atendendo a seus ideais, passou a combater as ordens de Urquiza, intervindo nas batalhas de Pavón e de Cepeda (1859), além de se integrar, junto ao caudilho López Jordán, na última rebelião gaúcha contra o governo de Sarmiento, que pôs fim a mesma no ano de 1871 sob uma derrota aos gaúchos e exílio à Hernandéz numa pequena pensão de Santana do Livramento, no sul do Brasil.

Depois de pouco mais de dois anos, ao regressar à Argentina, Hernandéz retomou sua luta pro outras vias. Dessa vez, por meio do periódico “Revista Del Rio de la Plata”, onde fez defesa a postura federalista, além de outros jornais.

Anos mais tarde, desfrutou da oportunidade de difundir suas idéias como legislador, quando desempenhou o cargo de deputado no ano de 1879 e, posteriormente, senador pela província de Buenos Aires no ano de 1881.

Quanto a sua inserção no meio literário, Hernandéz começou com algumas composições poéticas cultas. E, também, através de elaborações de cunho “gauchesco”, de vigorosos perfis e de tom genuinamente popular, onde José encontrou inspiração sem igual para compor uma obra genial, um grande mérito por levar à literatura, em primeira pessoa, a vida de um gaúcho que encarna a coragem e a integridade, ambas inerentes a uma vida independente. O retrato do caráter argentino que se queria edificar.

Algo bastante curioso é o fato de que Hernandéz em meio a sua trajetória política, jamais fez com que suas propostas viessem a alcançar tamanha projeção como a que foi atingida por meio de sua obra.

No dia 21 de outubro de 1886, em Belgrano, Buenos Aires, José Hernandéz diz suas últimas palavras: “Buenos Aires... Buenos Aires...”. E, em sua homenagem, se fez com que todo dia 10 de novembro, dia de seu nascimento, se festejasse o dia da tradição argentina.

[editar] Perspectiva histórica da obra de Hernández

Texto por Felipe de Aviz Batista - Belém/PA.

Cidadania. Ética. Pluralidade cultural. Esses são os temas trabalhados nas entrelinhas do poema épico de José Hernandez, "O gaúcho Martin Fierro" (1872), que celebra a bravura e as façanhas sem iguais de um gaúcho trovador, desertor, ladrão e assassino, ao retratar a sua vida de homem justo para alguns, e malfeitor para outros.

E, seguindo nessa linha de raciocínio – de obra que visa construir uma identidade nacional – pretende-se compor uma breve análise que evidencie o real significado da obra de Hernández, às certas 'intervenções culturais' naquele país, a Argentina.

É possível depreender que, à margem dos fatores históricos que concorrem para a depreciação e posterior mitificação do “gaúcho”, há um cunho ideológico latente a nortear a resignificação daquele indivíduo. O gaúcho, a designar o homem que habitava a campanha em tempos de fronteira aberta, campo aberto e gado solto, sobrevivia, como é sabido, de trabalhos “especiais” como o contrabando , e outros mais quase sempre ilícitos. Mas, também há um outro lado, do “gaúcho” conhecido por “sua coragem e valentia; o amor à liberdade e o apego à terra; o espírito cavalheiresco, nobre e hospitaleiro; a gentileza para com as mulheres; o amor arraigado e constante às tradições”.

E, Hernandéz busca focar, na soma dessas características, a cidadania, a ética e a pluralidade cultural. Discussões que se desenrolam no poema com um intuito de contraposição aos parâmetros de concepção civilizadora (sob moldes europeus) que impregnavam obras como a de Sarmiento , que de forma categórica adota: para que a civilização imperasse algum dia naqueles descampados da Argentina, era preciso primeiro derrotar o gaúcho. E nessa perspectiva, que para Sarmiento, a Argentina, e por extensão toda a América Latina, só se “desenvolveria” com a adoção da “cultura” européia. Dessa forma, mais do que a ocupação da região por imigrantes, o que importava realmente era a absorção de hábitos e razões culturais que viriam das nações ditas "civilizadas". Sendo assim, sua plataforma poderia reduzir-se a três pontos: 1) desarvorar a gauchada das províncias argentinas a tiro e a canhonaço, se for preciso; 2) educar a juventude, e; 3) importar gente européia para povoar o país.

Partindo-se de temas como esses, inúmeras interpretações acabam por se tornar possíveis: dentre elas, a épica, de valorização dos episódios das conquistas do personagem; e , ainda, a social – bem mais importante para nossa discussão – com ênfase na denúncia do atraso, do genocídio gerado pela cultura fronteiriça ibérica e da escravidão do homem civil e pobre do interior do país, a falta de educação, a desarticulada organização judicial e militar, a deficiente polícia rural e, sobre tudo, o profundo ressentimento da classe popular para com os governantes, como Domingos Faustino Sarmiento.

Veja-se, pois, que apesar de o Gaúcho Martín Fierro ser uma réplica de Hernández às idéias conservadoras de Sarmiento, o poema supera a ideologia visível, enquanto articulação formal da inconformidade humana quanto aos descasos de governantes para consigo, e se torna ícone, e símbolo nacional.