Juancito
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Juan Ramón Duarte, [Juancito], era o único irmão de Eva Perón. Como a famosa irmã, era filho ilegítimo de D. Juana Ibarguren e Juan Duarte. Dentre todos da família, era o mais próximo de Evita, com quem dividiu os primeiros anos de penúria na aventura portenha que os levou aos limites da glória e da tragédia. Descrito como um apaixonado por carros esportivos, roupas caras, mulheres bonitas e uma carteira recheada, vê sua vida mudar de rumos quando é apresentado a Perón por Evita, no dia 6 de setembro de 1945, no restaurante Pedemonte. Pouco tempo depois Juan era nomeado secretário particular do Presidente da República. Deixa o emprego de crupiê num cassino de Mar del Plata para mergulhar num alucinante turbilhão encarnado no milionário mundo dos negócios, das artistas famosas, da corrupção, da troca de interesses entre empresários mal intencionados e inescrupulosos e o governo da Argentina. Como homem do epicentro do poder, entra de olhos fechados na intermediação de favores, em que de um lado ficavam as concessões do governo e de outro empresários, escroques e criminosos de guerra nazistas* imigrados para a Argentina no pós-guerra, forrados de dinheiro. Sua ascenção, deslumbramento, transformação em milionário da noite para o dia e sua derrocada coincidem com o próprio ciclo de apogeu e queda do segundo governo de Perón na Argentina.
Psicologicamente perturbado e deprimido por ter contraído sífilis, Juancito começa a ver seu mundo desabar vertiginosamente quando, em 26 julho de 1952, morre sua irmã e protetora Eva, vítima de um câncer no útero. A ausência de Evita, que o protegia ao mesmo tempo que o repreendia em sua aventuras, faz seu prestígio eclipsar-se frente a Perón e aos principais próceres do governo. Intrigas palacianas fazem chegar aos ouvidos do presidente da República as negociatas de Juancito com petróleo, frigoríficos, venda e uso pessoal de guias de importação, sociedades em hotéis, compra de barcos, automóveis...
Dizendo-se surpreso, traído e incomodado com a liberdade com que Juancito lidava, sob sua sombra, com as facilidades do poder, Perón convoca o General Dalmiro Adaro e o incumbe de espionar e vasculhar a vida e os negócios do cunhado, sua contas bancárias, suas mulheres, suas propriedades... De madrugada entra de luvas e disfarçado de faxineiro no escritório de Juancito na Casa Rosada acompanhado de um comandante da polícia, arrombam o cofre-forte, reviram gavetas, fotografam documentos, jóias, ajudados que estavam pelas informações de Malissa Zini, obtidas da amante Fanny Navarro , convertida em peronista fanática e convencida por Adaro de estar ajudando a causa; ela disse tudo que sabia sobre a vida de Juán e seus negócios. Possivelmente ferida por ter sido preterida pelo amante, que a trocou por outra atriz, Elina Colomer, Fanny colabora na espionagem e a devassa é completa.
A deslumbrante e exuberante Fanny, arrependida transforma-se, posteriormente, num fantasma humano, esquecida, abatida, com a carreira em decadência, cheia de varizes.
Poucos dias depois,logo em seguida de seu retorno de uma viagem à Suíça feita em companhia de Hector Cámpora a pedido de Peron para que descobrissem a existência de contas bancárias de Eva, na manhã do dia 9 de abril de 1953 o mordomo de Juan Ramóm Duarte, Inajuro Tashiro, ao levar o mate com torradas e geléia no quarto do patrão, o encontra morto com um tiro na cabeça. Embora tenha sido achada ao lado de seu cadáver uma carta que fez crer se tratar de um suicídio e a polícia tenha reconhecido a morte como tal, foram muitos os indícios que conduzem à tese de assassinato encomendado. Depoimentos de vizinhos e parentes do morto, além de divergências entre o calibre da bala encontrada no corpo e a o da arma ao seu lado, parecem confirmar a tese de homicídio, de queima de arquivo. D. Juana, mãe de Juancito, foi uma das que deixou claro ter certeza de ter sido Perón o mandante do crime. Na porta do prédio de Juancito, na Av. Callao, ela avançou furiosamente sobre Raúl Apold, Secretário de Informações e Imprensa da Presidência da Nação, gritando "Asesinos! Ahora lo mataran a Juancito! Asesinos!"
Juan foi sepultado no mausoléu dos Duarte no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, para onde anos depois seria levado o cadáver embalsamado de Eva.
Sua morte nunca foi devidamente esclarecida, tendo ficado para sempre envolta em mistérios e dissimulações. Muitos testemunhos dão conta de que havia mais que indignação por parte de Perón na sua relação com Juancito. Para muitos o cunhado teria sido morto por não confessar ao Presidente os números das contas bancárias que Eva teria aberto na Suíça,providas com fundos recebidos de nazis imigrados para a Argentina, além de representar um obstáculo aos interesses do presidente no processo de sucessão e herança da irmã. Essa versão, embora também nunca confirmada, não exclui a de que Juancito havia se tornado de fato, politicamente, um fardo muito pesado para o Presidente em face de seu enriquecimento certamente ilícito, de sua vida escandalosa, de sua venalidade, seu exibicionismo e de seu descompromisso com a probidade.
Nota-Em http://www.thirdworldtraveler.com/Global_Secrets_Lies/EvitaNazis.html, Third World Traveler,Global Secrets and Lies há um extenso artigo "Evita, the Swiss and the Nazis" de Georg Hodel, que tenta relacionar diretamente a morte de Juancito e as fortunas nazistas supostamente doadas a Eva e Perón em troca de proteção e abrigo na Argentina. Obs: Tentei obter mais informções sobre esse jornalista Georg Hodel e apenas descobri que ele é suiço e vive na Nicarágua.
- Há um livro interessante sobre este tema, chamado "La Auténtica Odessa - La fuga nazi a la Argentina de Perón" do jornalista Uki Goñi, Editora Paidós Contemporánea - Buenos Aires 2002. O autor traz um relato detalhado e aprofundado sobre o o polêmico assunto.
