Livro dos Mortos
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Livro dos Mortos é a designação dada a uma colectânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egipto escritos em rolos de papiro e colocados nos túmulos junto das múmias. O objectivo destes textos era ajudar o morto na sua viagem pelo mundo subterrâneo, afastando eventuais perigos que este poderia encontrar na viagem que o levaria para o Além. Embora não tenha sido escrito como livro de síntese teológica, constitui uma das principais fontes para os investigadores modernos para o estudo e compreensão da religião egípcia.
O Livro dos Mortos não era um "livro" no sentido coevo da palavra. A actual ideia de livro sugere a existência de um autor (ou autores) que propositadamente redige um texto com um princípio, meio e fim. Em vez disso, os textos que integram o que hoje se denomina por Livro dos Mortos não foram escritos por um único autor nem são todos da mesma época histórica.
Os antigos egípcios denominavam a esta colectânea de textos como Prt m hru , o que pode ser traduzido como "A Manifestação do Dia" ou "A Manifestação da Luz". A actual designação Livro dos Mortos é disputada entre duas origens.
A primeira afirma que resulta do facto do egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius ter publicado em 1842 estes textos com o título de Das Todtenbuch der Ägypter (Todtenbuch, Livro dos Mortos).
Afirma-se igualmente que o título possa ser oriundo do nome que os profanadores dos túmulos davam aos papiros que encontravam junto às múmias, em árabe Kitab al-Mayitun (Livro do Defunto).
[editar] Estrutura
As edições modernas do Livro dos Mortos são compostas por cerca 200 "capítulos", nome que os egiptólogos dão às fórmulas encontradas nos papiros. Estes capítulos são hoje conhecidos graças a papiros que foram preservados ao longo dos séculos. Nenhum dos papiros conhecidos apresenta o mesmo número de capítulos e de ilustrações (vinhetas). Entre os mais conhecidos, encontram-se o Papiro de Ani com um total de 24 metros, que se acha actualmente no British Museum em Londres.
[editar] Formação
O Livro dos Mortos data da época do Império Novo, uma época da história do Antigo Egipto que se inicia por volta de 1580 e termina em 1160 a.C.. No entanto, a obra recolhe textos mais antigos do Livro das Pirâmides (Império Antigo) e do Livro dos Sarcófagos (Império Médio).
No Império Antigo foram gravados sobre os muros dos corredores e das câmaras funerárias das pirâmides de Sakara pertencentes a vários reis da V e da VI dinastias (Unas, Teti, Pepi I, Merenré e Pepi II) uma série de fórmulas mágicas que visavam ajudar os reis no outro mundo. Estes textos são conhecidos como Textos das Pirâmides. Nesta altura a possibilidade de uma vida depois da morte era apenas acessível aos reis.
A partir da VII Dinastia verifica-se uma "democratização" da possibilidade de aceder a uma vida no Além. Esta não é apenas reservada ao soberano, mas também é possível para os nobres e os altos funcionários e progressivamente estende-se a toda a população. Durante a época do Império Médio os textos usados pelos reis foram modificados, ao mesmo tempo que surgiram novos textos que mantinham a sua função de ajudar o morto no caminho do Além. Estes textos passaram a ser escritos no interior dos sarcófagos (na madeira) dos nobres e dos funcionários, sendo por isso conhecidos como Textos dos Sarcófagos.
Na época do Império Novo reuniram-se os textos funerários anteriores (dos Textos das Pirâmides e dos Textos dos Sarcófagos), ao mesmo tempo que se redigiram novos textos, que foram escritos em rolos de papiro que se colocavam junto das múmias nos túmulos. A colectânea destes textos é hoje conhecida como Livro dos Mortos.
Existem algumas versões locais do Livro dos Mortos, que apresentam pequenas diferenças.
A chamada "recensão tebana", escrita em hieróglifos (e mais tarde em hierático) sobre papiro, encontra-se dividida em capítulos sem uma ordem determinada, embora a maioria deles possua um título. Esta versão foi utilizada entre a XVII e a XXI dinastia não apenas pelos faraós, mas também pelas pessoas comuns;
Na "recensão saíta", usada a partir da XXVI dinastia (século VII a.C.) e até ao fim da era ptolemaica, fixou de forma definitiva a ordem dos capítulos.