Neoconcretismo
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Neoconcretismo foi uma reação ao concretismo moderno.
Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é uma mero objeto, tem sensibilidade expressiva, alem de mero geometrismo puro “Não concebemos a obra de arte como maquina, é mais que um objeto” [ ]. Neoconcretismo
A ruptura neoconcreta na arte brasileira, data de março de 1959, quando da publicação do Manifesto Neoconcreto pelo grupo de mesmo nome, deve ser compreendida a partir do movimento concreto no país, que remonta ao início da década de 50 e aos artistas reunidos em torno do Grupo Frente, no Rio de Janeiro, e do Grupo Ruptura, em São Paulo. Tributária das correntes abstracionistas modernas das primeiras décadas do século XX - com raízes em experiências como as da Bauhaus, dos grupo De Stijl [O Estilo] e Cercle et Carré, além do Suprematismo e construtivismo soviéticos - a arte concreta ganha terreno no país em consonância com as formulações de Max Bill (1908-1994), principal responsável pela entrada desse ideário plástico na América Latina, logo após a 2ª Guerra Mundial. O contexto desenvolvimentista de crença na indústria e no progresso dá o tom da época em que os adeptos da arte concreta no Brasil vão se movimentar. O programa concreto parte de uma aproximação entre trabalho artístico e industrial. Da arte é afastada qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores - não tem outra significação senão ele próprio. Menos do que representar a realidade, a abra de arte evidencia estruturas e planos relacionados, formas seriadas e geométricas, que falam por si mesmos. A despeito de uma pauta geral partilhada pelo concretismo no Brasil, é possível afirmar que a investigação dos artistas paulistas enfatiza o conceito de pura visualidade da forma, à qual o grupo carioca opõe uma articulação forte entre arte e vida - que afasta a consideração da obra como "máquina" ou "objeto" -, e uma maior ênfase na intuição como requisito fundamental do trabalho artístico. As divergências entre Rio e São Paulo se explicitam na Exposição Nacional de Arte Concreta (São Paulo, 1956 e Rio de Janeiro, 1957), início do rompimento neoconcreto.
O Manifesto de 1959, assinado por Amilcar de Castro (1920-2002), Ferreira Gullar (1930), Franz Weissmann (1911-2005), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Reynaldo Jardim (1926) e Theon Spanudis (1915), denuncia já nas linhas iniciais que a "tomada de posição neoconcreta" se faz "particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista". Contra as ortodoxias construtivas e o dogmatismo geométrico, os neoconcretos defendem a liberdade de experimentação, o retorno às intenções expressivas e o resgate da subjetividade. A recuperação das possibilidades criadoras do artista - não mais considerado um inventor de protótipos industrais - e a incorporação efetiva do observador - que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas - apresentam-se como tentativas de eliminar certo acento técnico-científico presente no concretismo. Se a arte é fundamentalmente meio de expressão, e não produção de feitio industrial, é porque o fazer artístico ancora-se na experiência definida no tempo e no espaço. Ao empirismo e à objetividade concretos que levariam, no limite, à perda da especificidade do trabalho artístico, os neoconcretos respondem com a defesa da manutenção da "aura" da obra de arte e da recuperação de um humanismo. Uma tentativa de renovação da linguagem geométrica pode ser observada nas esculturas de Amilcar de Castro. Os cortes e dobras feitos em materiais rígidos como o ferro, evidenciam o trabalho dispendido na confecção do objeto. Do embate entre o ato do artista - que busca traços precisos - e a matéria resistente, nasce a obra, fruto do esforço construtivo, mas também da emoção. Nas palavras de Amilcar: "Arte sem emoção é precária. Max Bill (1908-1994) queria uma coisa tão fabulosamente pura, sem emoção". Nas séries dos Bilaterais e Relevos Espaciais (1959) de Hélio Oiticica (1937-1980) e nos Trepantes realizados por Lygia Clark na década de 60, por exemplo, as formas conquistam o espaço de maneira decisiva para, logo em seguida, romperem as distâncias entre o observador e a obra, como nos Bichos criados por Lygia Clark e nos Livros, de Lygia Pape. A arte interpela o mundo, a vida e também o corpo, atestam o Ballet Neoconcreto (1958) de Lygia Pape e os Penetráveis, Bólides e Parangolés criados por Oticica nos anos 60. A cor, recusada por parte do concretismo, invade as pesquisas neoconcretas, por exemplo nas obras de Aluísio Carvão (1920-2001), Hércules Barsotti (1914), Willys de Castro (1926-1988) e H. Oticica. Parte dos estudos realizados sobre o tema frisa o lugar do movimento neoconcreto como divisor de águas na história das artes visuais no Brasil; um ponto de ruptura da arte moderna no país, dirá o crítico Ronaldo Brito.