O Primo Basílio
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O Primo Basílio (1878) é um romance de Eça de Queiroz. Publicado em 1878, constitui uma análise da família burguesa urbana no século XIX.
O autor, que já criticara a província em O Crime do Padre Amaro, volta-se agora para a cidade, a fim de sondar e analisar as mesmas mazelas, desta vez na capital: para tanto, enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres. A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances nessa época - deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.
O espaço é Lisboa, a casa de Luísa e de Jorge, o Paraíso, o Alentejo, embora esses dois últimos lugares não sejam mostrados pelo narrador, apenas referidos. Lisboa é o cenário da crítica de Eça de Queiroz; é o espaço da sociedade lisboeta por onde transitam as personagens e onde elas expõem suas condições sócio-econômicas e históricas. Alentejo é o espaço que rouba Jorge de Luísa, deixando-a num marasmo sem fim. Paris é o cenário que devolve Basílio à Luísa, trazendo alegria e a novidade de uma vida de prazeres e aventuras.
A casa é o espaço privilegiado do romance, onde se passam as cenas entre Luísa e Juliana - o Paraíso serve de contraponto da vida doméstica e do mundo das alcovas. Esta obra, classificada como um romance, é narrada em 3ª pessoa. Apresenta um narrador omnisciente que não consegue distanciar-se por completo de suas personagens, o que se caracteriza pela sua onisciência pelo emprego do enredo da obra. As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.
[editar] Personagens
Luísa: representa a jovem romântica, inconsequente nas suas atitudes, a adúltera ingénua e, no final, arrependida.
Jorge: marido dedicado de Luísa, homem prático e simples, que contrasta com o personalidade mundana e sedutora de Basílio.
Basílio: o dândi, conquistador e irresponsável, "bom vivant" pedante e cínico.
Juliana: personagem mais completa e acabada da obra, tem sido vista como o símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia a tudo e a todos, não se detendo diante de qualquer sentimento de fundo moral.
Leopoldina: encarna o avesso da moral da época. Adúltera, fumante, escandaliza a toda a sociedade. Age conscientemente, possui vários amantes.
Conselheiro Acácio: tipifica o formalismo próprio da época, o falso moralismo, o apego às aparências. Amigo do pai de Jorge e padrinho do casamento, gosta de frases feitas e citações morais, mas, na vida privada, lê poemas obscenos de Bocage e mantém como amante a empregada, Adelaide, a qual, por sua vez, o trai com um caixeiro. É um dos tipos mais famosos da galeria queirosiana, e responsável pelos adjetivos "acaciano" e "conselheiral", usados quando se deseja aludir ao falso padrão moral de alguém.
Ernestinho Ledesma: primo de Jorge, é um escritor vazio, preocupado com dramalhões românticos, os quais escreve para o teatro.
[editar] Enredo
Jorge, bem sucedido engenheiro e funcionário de um ministério e Luísa, moça romântica e sonhadora, protagonizam o típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Casados e felizes, faltando apenas e dádiva de um filho para completar a alegria do lar do engenheiro como era chamada a residência do casal pela vizinhança pobre. Um grupo de amigos freqüentava sempre aquele lar: D. Felicidade, a beata que sofria de crises de gasosas, que morria de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho e das empregadas Joana - assanhada e namoradeira - e Juliana - revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.
Ao mesmo tempo que cultiva uma união formal e feliz com Jorge, Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina - chamada a "Pão-e-Queijo" por suas contínuas traições e adultérios -, o que não é bem visto pelo marido. Entrementes, Juliana espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa "em flagrante". A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge tende a viajar a trabalho para Alentejo.
Após a partida, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido e exatamente nesse meio-tempo, Basílio chega do exterior. Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa (eles haviam namorado antes de Luísa conhecer Jorge), agora transformado em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique o adultério.
Os encontros entre os dois se sucede ao par da troca de cartas de amor, uma das quais é interceptada por Juliana - graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória -, que começa a chantagear a patroa. Transformada de senhora mimada em escrava, Luísa começa a adoecer. De frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana logo lhe tiram o ânimo, minando-lhe a saúde.
Jorge volta e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião, o qual, armando uma cilada para Juliana, intentando levá-la presa, acaba por provocar-lhe um ataque e a morte. É um novo tempo para Luísa, cercada do carinho de Jorge, Joana e da nova empregada, porém, tarde demais: enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, é acometida por uma violenta febre. Em delírio, conta a Jorge seu adultério, fazendo-o entrar em desespero e, no entanto, perdoar-lhe a traição. De nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos, nem o zelo médico - que chegou a rapar-lhe os longos cabelos - de que foi cercada.
Luísa morre e o "lar formalmente feliz" desfaz-se. O romance termina com a volta de Basilio - o qual fugira, deixando-a sem apoio - e seu cinismo, ao saber da morte da amante: comenta com um amigo que "antes tivesse trazido a Alphonsine", sua amante parisiense.
texto a negrito==Obra completa==
- O Primo Basílio, edição de 1878 na Biblioteca Nacional Digital