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Manuel da Silva Coutinho - Wikipédia

Manuel da Silva Coutinho

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Manuel da Silva Coutinho (Santarém, 1541Angra, 13 de Agosto de 1583), conde de Torres Vedras (por D. António), mais conhecido por conde Manuel da Silva, foi o principal apoiante de D. António, Prior do Crato entre a aristocracia portuguesa. Acompanhou o Prior do Crato no exílio para França, tendo depois sido seu lugar-tenente na ilha Terceira até à submissão da ilha a Filipe II de Espanha na sequência do desembarque da Baía das Mós. Feito prisioneiro, foi decapitado por ordem de D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela.

Índice

[editar] Biografia

Manuel da Silva Coutinho, nasceu em Santarém, no ano de 1541, no seio de uma família ilustre, pois descendia dos senhores da Chamusca e Ulma, famílias ligadas à alta aristocracia portuguesa e castelhana. Seu avô materno era Rui Dias de Sousa, por antonomásia o Cid, o valente alcaide que morreu nas fronteiras de África. Seu pai, Brás da Silva, comendador de Castelejo, é o bravo de quem fala Damião de Góis na Crónica de D. Manuel.

Não participou na expedição que teve como desfecho a batalha de Alcácer Quibir, tendo optado por permanecer em Portugal, aparentemente por razões financeiras e familiares.

[editar] A adesão ao partido antonino

Sendo fronteiro-mor de Santarém, desencadeada a crise de sucessão de 1580, é dos primeiros e mais eloquentes partidários do filho de Violante Gomes, D. António, Prior do Crato. Nas cortes de Lisboa (1579) e nas de Almeirim (1580), convocadas pelo cardeal-rei, advoga estrenuamente os direitos de D. António. Está com ele em Santarém na qualidade de fronteiro-mor quando o aclamam rei, sendo por isso perseguido pelos governadores do reino.

Quando o povo de Santarém vacila em sustentar o grito que vitoriara, Manuel da Silva força os seus conterrâneos, com a espada na mão, a manterem a sua adesão à causa antonina.

Tendo acompanhado D. António no seu périplo pelo país, participa na batalha de Alcântara com patente de general, é do grupo dos fugitivos que seguem o Prior ferido e derrotado na sua fuga para norte.

[editar] A elevação a conde de Torres Vedras

Durante este período, foi feito conde de Torres Vedras, quando o quando o legítimo conde de Torres Vedras, D. Martim Soares de Alarcão, se mostrou hostil a D. António, acastelando-se contra ele. Juntamente com o título, o Prior do Crato deu-lhe a casa do conde rebelde — posse que nunca Manuel da Silva fruiu. Foi já feito conde que acompanhou o Prior do Crato na sua retirada para França. Embora o título não tenha sido registado, e não seja aceite como válido pela generalidade dos genealogistas, foi como conde Manuel da Silva que passou à História.

[editar] A prisão da família

A sua notoriedade enquanto defensor do partido antonino foi tal que o duque de Alba, logo que entrou em Lisboa, mandou prender a família de Manuel da Silva. O encarregado foi um oficial de guerra português, chamado Jerónimo de Mendonça, com cinquenta arcabuzeiros, seis cavalos e três carroças. A esposa D. Maria de Vilhena, com três filhos menores, foi presa na Azinhaga onde se tinha refugiado. Não se lhe consentiu que se preparasse. Foram levados a Arronches, e dali a Ciudad Real, onde os deixaram numa prisão apertada.

Simultaneamente era preso em Lisboa um frade crúzio, Frei Simpliciano da Silva, irmão do conde de Torres Vedras. Foi encarcerado em Espanha, e daí fugiu para França onde morreu.

[editar] O exílio e a nomeação para lugar-tenente nos Açores

Manuel da Silva Coutinho foi um dos indefectíveis que acompanhou o Prior do Crato no exílio para Londres e França. Com o conde de Vimioso e Diogo Botelho, era um os íntimos validos do prior do Crato.

Quando D. António recebeu notícias de que a situação na Terceira, o último bastião onde a sua realeza era reconhecida, era de grande instabilidade, com um número crescente de aristocratas a pretender aceitar as propostas de rendição honrosa que lhes eram feitas por Filipe II de Espanha, resolveu nomear Manuel da Silva Coutinho para o cargo de de seu tenente-rei nos Açores, na qualidade de regedor das armas e das justiças, tendo por missão pôr termo à crescente desordem por ali lavrava, por desinteligências da nobreza com o corregedor Ciprião de Figueiredo e contendas entre os governadores das ilhas de São Miguel e Terceira, que tinham aderido a partidos opostos.

De facto a situação em Angra, não obstante o desbarate de D. Pedro de Valdez na batalha da Salga e as enérgicas ferocidades de Ciprião na carnificina dos espanhóis, era muito grave, vivendo-se um clima de suspeição generalizada, com constantes boatos de traição. A perseguição aos suspeitos de parcialidade a favor de Filipe II, verdadeira ou imaginada, associada ao medo de uma invasão eminente por parte das poderosas forças de Castela que estavam estacionadas em São Miguel, tinha quebrado definitivamente a unidade em torno da causa de D. António, e tornava cada vez mais difícil a tarefa do corregedor.

[editar] O acção nos Açores

Em Fevereiro de 1582 desembarcou em Angra o conde de Torres Vedras. Enquanto se lhe preparava o palácio de D. Cristóvão de Moura, residiu no convento de S. Francisco de Angra. Tinha grande equipagem: vinte a vinte e cinco cavalos, um aparato real, com escolta de ingleses e franceses. Estava no vigor da vida; teria quarenta anos; muito caroável de mulheres e folguedos, muito namorado, diz a Relação de 1611 trasladada por Francisco Ferreira Drummond nos Anais da Ilha Terceira.

O ser muito namorado não lhe diminuia a severidade. Logo que tomou o pulso dos homens e das coisas, começou por impedir que saíssem pessoas e mercadorias da Terceira, por serem estas e aquelas necessárias à defesa. Depois, fez sentenciar os presos que o seu antecessor na justiça, Ciprião de Figueiredo, culpara. Um deles, o velho João de Bettencourt, que tinha dado vivas a Filipe II de Castela, insinuado pelos jesuítas, com quem já encanecido andara estudando, quis provar que estava mentecapto quando aclamou o rei castelhano. Não lhe aceitaram os embargos nem a grande quantia que a esposa oferecia pelo perdão. Foi degolado em Março de 1582. O filho ganhou com isso copiosas mercês de Filipe II após a queda da ilha.

Foi também sentenciado à morte Gaspar Homem, porque viera com embaixada de Castela, quando lhe era defesa a entrada na ilha, por interdição eclesiástica, visto haver-se negado a casar com Ana Gaspar, filha de Gonçalo Feio, homem nobre, Ergueu-se a forca, e o padecente ia já no caminho, e ouvia as exortações dos frades, quando a senhora repudiada foi pedir ao conde que lhe entregasse Gaspar Homem que já queria casar com ela. Com instantes lágrimas, obteve o perdão do esposo, correu ao local do patíbulo e colheu nos braços o noivo quando o algoz lhe ia lançar a corda. Casaram, viveram muitos anos e propagaram-se. Gaspar Homem, em testemunho da sua gratidão ao lugar-tenente de D. António, assim que o marquês de Santa Cruz de Mudela tomou a ilha, passou-se para os espanhóis, e, alegando que esteve preso, obteve hábito de Cristo e tença.

Neste episódio, Manuel da Silva portara-se gentilmente. Se sobrevivesse a Gaspar Homem, teria de se arrepender do generoso acto, assim como se arrependeu de confiar-se cordialmente em João Dias do Carvalhal, fidalgo abastado, que pedindo-lhe licença para ir ver el-rei D. António — quando a ninguém era concedido sair da ilha — obteve-a, foi a Lisboa prestar obediência a Filipe e pedir-lhe o hábito de Cristo. Num ímpeto de ira, o conde mandou prender a mulher do traidor, e obrigou-a a resgatar-se como cativa. Desde este lance, o regedor tornou-se violento, vigilantíssimo e por vezes cruel.

Tratou de cunhar moeda com a prata e ouro que andou pessoalmente pedindo às portas dos amigos e dos adversários. Obteve rica baixela e muitas cadeias de ouro. O padre António Cordeiro, apoiado em tradições coevas, diz que Manuel da Silva se apropriou das cadeias que ninguém viu na Casa da Moeda para se fundirem. A Relação que Francisco Ferreira Drummond consulta favorece esta desonrosa afirmativa que nenhuns documentos permitem que eu impugne, e até certo ponto o valioso espólio do conde confirma.

Tornou-se muito popular o fidalgo: dava postos militares a oficiais mecânicos, hábitos de Santiago e Avis a artífices e pilotos, relaxou ao povo liberdades que aos olhos da aristocracia redundavam em aviltamento dos nobres. A arraia-miúda vingava-se das passadas opressões. Surdiu daí desfalcar-se o partido de D. António de alguns fidalgos que preferiam o despotismo do rei espanhol à soberania do povo. Além disso o conde seduzia com afagos ou forçava com violências as mulheres. Se merece fé a Relação de 1611, o pai de uma moça violentada morreu de dor.

Os presos eram muitos; mas Manuel da Silva Coutinho não condenou à morte senão João de Bettencourt como amostra do seu sistema de governar. Os padres andavam abandados. Uns pregavam por D. Filipe, outros por D. António. O conde deixava-os pregar à vontade, exceptuados os jesuítas, que estavam enclausurados e incomunicáveis, desde que Ciprião de Figueiredo os entaipara a pedra e cal. Esta excepção acusa o medo que o conde tinha da eloquência dos jesuítas; ao passo que os franciscanos, trinitários e gracianos, letrados de nome, tinham plena faculdade de provar à face da Bíblia que D. António ou D. Filipe eram reis legítimos de Portugal — o que uns e outros satisfaziam a preceito, demonstrando que a visão de Esdras se entendia com os monarcas lusitanos.

O mais esturrado antagonista, um devasso Frei Simão, indigitou como filipista certo Martim Simão de Faria, Este fidalgo correu de espada nua sobre o frade, que se salvou no convento. O conde de Torres Vedras, em vez de punir o agressor, parece que se riu do caso por conhecer a libertinagem do pregador. Desde este episódio burlesco, os oradores sagrados, responsáveis a pagar com as costas o desbocamento das línguas, fecharam as bocas e as Bíblias.

D. António chegou à Terceira em Julho de 1582, refugiando-se da armada de D. Álvaro de Bazán, logo sendo informado da derrota das suas forças na batalha naval de Vila Franca do Campo e da morte do seu amigo e condestável conde de Vimioso. Encerrou-se por oito dias, e saiu depois com o conde de Torres Vedras e os do seu conselho a visitar D. Violante do Canto, sua partidária muito serviçal de dinheiros, e a visitar ermidas onde ouvia missas, e religiosas franciscanas fiéis à sua causa.

Depois encerrou-se por mais doze dias, com grande tristeza e desalento. Findo o qual prazo de luto, foi à vila de São Sebastião ver o campo onde tinha ocorrido a batalha da Salga; passou depois à Praia, onde se hospedou no Convento de S. Francisco.

Fez então uma boa acção D. António: mandou desentaipar os jesuítas, e convidou os fugitivos a recolherem da vida fragueira que levavam pelos matos, com a certeza de que os seus haveres lhes seriam poupados ao confisco.

Depois, ocorreram os suplícios de António de Carvalho e Duarte de Castro do Rio, acusados de traição e de pretenderem assasinar o rei. Manuel da Silva deu expediente a estes episódios, como lhe cumpria; e, conquanto previsse nos sustos do prior o desastre final da sua causa, manteve-se fiel à desgraça com heroísmo raro e apenas imitado de poucos fautores do neto de el-rei D. Manuel.

Por esse tempo, quando já D. António se fizera de vela para França, o príncipe de Eboli e duque de Pastrana, Rui Gomes da Silva, primo co-irmão de Manuel da Silva Coutinho, ofereceu-lhe em nome de Filipe II o título de marquês, trinta mil cruzados em dinheiro e o governo da ilha, se ele a entregasse. Manuel da Silva Coutinho leu a carta em presença de testemunhas, rasgou-a e enviou ao príncipe uma resposta espartana. À altura da sua lealdade estava também o excesso de crueza, recrudescente a par e passo que as esperanças se esvaíam.

Escondia, ainda assim, os mínimos vislumbres de desanimação. Estadeava-se como príncipe com préstitos bizarros de ingleses e franceses; arvorara general um sobrinho imberbe, que morreu depois valorosamente no seu posto durante o desembarque da Baía das Mós; e, como destro cavaleiro que era, desbaratava o tempo em exercícios equestres.

Por esse tempo chegou à Terceira, portador de uma missiva de Filipe II de Castela, Amador de Vera, que Drummond e Rebelo da Silva escrevem incorrectamente Vieira. Vendeu-se ao regedor, comprometendo-se a denunciar-lhe pessoas da ilha dedicadas a Filipe.

Enquanto Amador de Vera cumpria os deveres estipulados no contrato, espiando as vítimas, ordenou Manuel da Silva Coutinho que se organizasse uma pequena armada, deu o comando a Manuel Serradas, mandou-o a corso, à conquista das ilhas de Cabo Verde, que estavam por Castela, e ao saque da fortaleza de Arguim. Eram dez as naus: despojaram facilmente Arguim e, depois de breve conflito, saquearam Cabo Verde. Destarte acirrava o conde de Torres Vedras as hostilidades dos portugueses à causa do prior do Crato.

Entretanto, Amador de Vera denunciava homens que haviam servido dedicadamente D. António. O conde reconheceu a infâmia da delação, chamou à sua presença dois dos denunciados já presos, e lançou-lhes o hábito de Cristo com cem mil-réis de tença. Ao mesmo tempo assistia aos tratos dados a um velho, e mandava-o depois arrastar e esquartejar por crime de rebelião. Dizem relações coevas que nunca acedeu aos pedidos para retirar de um poste a cabeça do supliciado.

Num análogo lance de severidade, mostrou o conde regedor que, de facto, as mulheres podiam muito com ele. Estava preso um Pereira de Lacerda, ancião rico e parcial de Castela, não só suspeito mas convicto de conspirador. Manuel da Silva mandou-o submeter à tortura. Soube-se no Convento da Esperança, cuja irmã era abadessa, que o velho ia já a caminho do suplício. Saíram as freiras à rua a abraçar o padecente; e, no entanto, escrevia-se no mosteiro uma carta ao conde a suplicar-lhe o perdão de Álvaro Pereira. Pra a fazer chegar às mãoas de Manuel da Silva Coutinho, que se fechara no palácio para esquivar-se a rogos, a portadora da carta saltou à cerca dos franciscanos e pôde insinuar-se nos aposentos do lugar-tenente de D. António. O espantado conde leu a súplica, e disse: Ide dizer às Senhoras Madres que lhes concedo quanto me pedem, e muito mais farei por amor delas.

Manuel da Silva Coutinho foi acusado de ter desprezado a ciência militar e os alvitres de Aymar de Clermont de Chaste, o comendador de Chaste, enviado à frente de mil e seiscentos soldados franceses para defender a Terceira, ameaçada novamente pela poderosa armada do marquês de Santa Cruz. Pode. contudo, alegar-se que ele desconfiava da lealdade dos franceses, desde que, no ano anterior, vira que algumas galeras fugiram do mar de Vila Franca sem pelejarem.

Aparentemente suspeitava que o rei de França, tendo como perdida a causa de D. António I, tratava de apossar-se insidiosamente dos Açores para mais tarde tentar a conquista do Brasil. Estes receios eram comuns aos residentes na ilha, e os castelhanos não perdiam lanço de os incutir, associando a dissidência religiosa do calvinismo à pérfida aliança dos franceses. Além disso, os soldados do comendador de Chastes saltaram na Terceira como quadrilhas de piratas da ralé mais faminta. Atacavam nos arrabaldes as residências dos lavradores, e agiam com a maior indisciplina, amotinado-se constantemente, envolvendo-se em duelos e fabricando moeda falsa.

A 3 de Julho de 1583 estava novamente D. Álvaro de Bazán à vista dos Açores com uma grande armada. O conde desenvolveu a maior energia na distribuição das forças nos pontos mais acessíveis. Nem sombra de desânimo lhe anuviou o aspecto, quando os cabos franceses dissimulavam pretextos de convenções preteridas para se esquivarem à morte dos seus cinquenta patrícios e fidalgos enforcados, no ano anterior, nas vergas da armada do mesmo almirante. Nestes transes de medo, a fidelidade de Manuel da Silva Coutinho foi segunda vez tentada por cartas do marquês de Santa Cruz de Mudela. Ofereciam-lhe o título de marquês de juro e herdade, duas comendas, um lugar no paço para a filha e vinte mil cruzados para pagamento das suas dívidas. Contam historiadores coevos que Manuel da Silva, sem fazer alarde do oferecimento, dissera aos emissários: Afirmai ao marquês que eu antes de um ano hei-de pôr a minha lança em Madrid.

Desembarcaram os castelhanos na Baía das Mós, e apesar da bravura dos defensores, entre os quais se provou a lealdade dos franceses, não foi possível contê-los na costa. Manuel da Silva Coutinho correu àquele ponto com a maior força do exército, mas extemporaneamente. Tinha já que combater dezasseis mil homens disciplinados que duplicavam o número dos ilhéus. O general quis ainda assim com oito mil homens atacar o marquês, dispondo as forças de modo que o inimigo só pudesse salvar-se retrocedendo sobre o mar. Não lhe surtiu o plano.

Manuel da Silva, considerando-se perdido, combinou com os capitães franceses a fuga. Conhecia as propostas vantajosas de D. Álvaro de Bazán aos chefes estrangeiros. O espanhol dava-lhes salvo-conduto, armas e navios que os transportassem a França. Lutar desesperadamente seria um heróico suicídio. Preparava-se para fugir na pequena caravela que preparara no Porto de Pipas, mas já a não encontrou.

[editar] Prisão e decapitação

Depois da derrota na Baía das Mós, cuja responsabilidade foi logo atribuída à sua cobardia, achou-se sozinho, perseguido pela população da ilha, que o culpava da situação em que se encontrava. Tentou uma fuga pelo porto dos Biscoitos, na costa norte da ilha, mas a população opôs-se, destruindo as embarcações ali existentes.

Manuel da Silva Coutinho achou-se assim encurralado na ilha, miserável, errando por matagais por espaço de treze dias, encavernando-se de noite e subindo de dia as escarpas das serras para se evadir à perseguição. Depois, vestiu-se de castelhano e misturou-se com as escoltas que o procuravam, a fim de poder embarcar-se na armada, refere a Relação seguida por Luís António Rebelo da Silva. São pormenores romanescos, em que entra uma mulata que o denunciou, e um diálogo assaz inepto da mulata com o preso. O que é certo é que um oficial espanhol, chamado Espínola, o aprisionou no dia 10 de Agosto de 1583, rejeitando dez mil cruzados que ele oferecia para que o deixasse fugir.

A populaça insultava-o quando o viu entrar em Angra no meio da escolta. Foi encarcerado no porão de uma galera e interrogado sobre as inteligências de D. António com a França. Conta-se que revelou o que ao marquês convinha saber mediante a tortura.

Três dias depois, ao cair da tarde de 13 de Agosto de 1583, saiu do navio para o cadafalso montado na Praça Velha da cidade de Angra, onde um tudesco o degolou com a sua própria espada.

Nas relações desta catástrofe não podiam deixar de intervir as piedosas exclamações do padecente, confessando as suas culpas, pedindo perdão aos espectadores e arrancando lágrimas até aos inimigos compadecidos. São lugares comuns em todas as tragédias desta natureza, cenas finais que trazem sempre a Divindade a colaborar no entrecho para que o remate se não confunda com os sucessos vulgares da espécie humana. Jerónimo Conestágio escreve que a dor dos circunstantes foi geral, porque Manuel da Silva nos últimos momentos falara animosamente, aceitando a morte como justo castigo de suas culpas. António de Herrera e Luís de Bavia não se lembram de tais discursos, naturalmente apócrifos.

Manuel da Silva era de estatura mediana, reforçado, barbado, principiava a encanecer aos quarenta e dois anos, e era eloquente, de que dera testemunho nas juntas de Lisboa e cortes de Almeirim.

Parece que o seu espólio na ilha era precioso. O seu secretário italiano Marco António entregara o tesouro a um capitão que lho extorquira depois de findo o terceiro dia de saque. O marquês de Santa Cruz de Mudela, sabedor do caso, obrigou o capitão a repor o tesouro de que o marquês se assenhoreou. As relações e os cronistas não dizem as espécies, nem o valor aproximado. Se lá estavam as pulseiras e as correntes das mulheres da ilha Terceira, o marquês não as restituiu.

Não é exacto ser engradada a cabeça de Manuel da Silva na gaiola de onde se tirou a de Melchior Afonso. O cadáver do decapitado foi enterrado com grande aparato e com todas as honras militares pelo exército castelhano.

Para o Prior do Crato o desastre do conde de Torres Vedras foi grande perda e profunda saudade. Escrevia D. António ao papa Gregório XIII: ... Ele (Filipe II) fez degolar o conde de Torres Vedras, o constantíssimo e fidelíssimo Manuel da Silva, que me havia confirmado a fé jurada, e que constantemente a recusara ao castelhano. Era parente dos primeiros príncipes de Castela, e contudo nem amplas recompensas propostas pelo tirano, nem cartas reiteradas e admoestações dos príncipes seus parentes, nem ainda afinal o suplício da degolação puderam demover aquele fidelíssimo conde a abandonar-me!.

A derrota no Pico das Contendas que frustrou a tentativa de resistência ao desembarque da Baía das Mós e a grande impopularidade, especialmente entre a aristocracia angrense, que a dureza das medidas tomadas durante o seu governo lhe granjearam, levaram a que a memória de Manuel da Silva Coutinho fosse de imediato vilipendiada, sendo-lhe imputada a responsabilidade, quase solitária, pela queda da ilha. Contudo, uma análise dos acontecimentos nos Açores e do seu enquadramento geopolítico demonstram a total inviabilidade da resistência açoriana, isolada e confinada à Terceira e ao Faial, contra Castela, a superpotência da época.

A derrota foi o desfecho natural de um processo que, contra o expectável, durou mais de três anos graças à coragem e determinação dos seus actores, entre os quais avulta, com laivos de heroicidade, Manuel da Silva Coutinho.

[editar] Referência

O texto atrás reproduzido é adaptado da seguinte obra:

  • Estudos para a Formação do Livro D. António, Prior do Crato e seus Descendentes, Manuel da Silva Coutinho (cap. II), in Camilo Castelo Branco – Estudos para a Formação do Livro D. António Prior do Crato e seus Descendentes, in Sentimentalismo e História, I – Eusébio Macário; Colecção Lusitânia; Lello & Irmão, Editores; Porto; 1880. Existem múltiplas edições.



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