Maurício Tragtenberg
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Maurício Tragtenberg (Rio Grande do Sul, 4 de novembro, 1929)^
[editar] Biografia
Maurício ficou conhecido como um autodidata, libertário e radical. Seus avós, imigrantes judeus, se instalaram no interior do Rio Grande do Sul cultivando como unidade familiar uma agricultura de subsistência, e foi lá que Tragtenberg iniciou sua aprendizagem de português, espanhol, esperanto e russo, além das leituras de autores anarquistas russos como Kropotkine, Bakunin, Tolstói. Ele frequentou o Grupo Escolar, em Porto Alegre, mas não foi além da 3ª série do primário. Após a morte precoce do pai, foi com sua mãe à São Paulo, onde ainda jovem começou a trabalhar. Filiou-se ao PCB, mas foi expulso com base em um artigo que proibia ao militante contato direto ou indireto com trotskystas, autor por ele lido e relido. Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde teve toda sua experiência com a burocracia, posteriormente criticada em seu livro Burocracia e Ideologia. Neste período frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde foi possível ler o que lhe interessasse e discutir assuntos diversos com uma turma de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular na USP. Escreve o texto Planificação - Desafio do século XX - que seria posteriormente editado em livro. Com a aceitação desse texto por uma comissão, habilita-se a prestar o vestibular. Aprovado, começa a frequentar a universidade, no curso de Ciências Sociais. Um ano depois prestou novamente vestibular desta vez para o curso de História em que se formou. Durante a ditadura militar escreve sua tese de doutorado em Política na mesma universidade. Foi então que começou a se dedicar à carreira de professor, lecionando na graduação e pós-graduação de universidades como PUC, USP, UNICAMP e Fundação Getúlio Vargas. Deixou publicado cerca de 8 livros, e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração. Escreveu por vários anos a coluna No Batente para o jornal Notícias Populares, um tablóide popular de São Paulo. Sua obra completa que inclui livros, artigos, apresentações, prefácios e textos esparsos está sendo editada pela editora da UNESP, São Paulo. Já foram editados tres volumes da coleção Mauricio Tragtenberg - dirigida por Evaldo Amaro Vieira - são eles: Administração, Poder e ideologia, Sobre educação, política e sindicalismo, e o mais recente Burocracia e Ideologia.
[editar] Pedagogia Libertária
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares. Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno ao papel de mero receptáculo de conhecimento, e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa. E nessa ordem o professor é o ‘símbolo vivo’ da dominação. Tragtenberg critica também a realidade das universidades, a delinquência acadêmica, que a seu ver, acabam expremindo uma ‘concepção capitalista do saber’ através da busca desenfreada por titulações, publicações, pontos. Paga-se para apresentar trabalhos a si mesmos ou aos poucos amigos, que se revezam entre falantes e ouvintes, não interessa o conteúdo e a qualidade do que se publica, mas sim quantos pontos vale; também não importa se alguém lerá o artigo; que seja de preferência uma publicação em algum país vizinho, pois as publicações internacionais valem mais pontos. Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na: autogestão, gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a ‘devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho)’; autonomia do indivíduo, ‘o indivíduo não é um meio, é o fim em si mesmo. No universo das coisas (mercadorias) tudo tem um preço, porém só o homem tem uma dignidade’; negação total de prêmios ou punições; solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou fundamentem-se na competição; crítica a todas as normas pedagógicas autoritárias.
Essa proposta pedagógica pressupõe ainda: educação gratuita para todos, superação da divisão dos professores em categorias; liberdade de organização para os trabalhadores da educação.