Niilismo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O niilismo (ou nihilismo), do latim nihil (nada), é uma corrente filosófica que, em princípio, concebe a existência humana como desprovida de qualquer sentido. Tendo sido popularizada primeiramente na Rússia do século XIX, como reação de alguns intelectuais russos, mormente socialistas e anarquistas à lentidão dos czares em promover as desejadas reformas democráticas.
Índice |
[editar] Filosofia
Apesar do termo se popularizar na obra Pais e Filhos de Ivan Turgueniev, encontramos evidente relação com o estoicismo, por subjugar o externo, o não próprio do ser. Mais tarde, o termo é usado para designar o não-cristão pela escolástica, amiúde em Aquino. Só no Renascimento, contudo, é que o niilismo ganha terreno para florescer; já na obra de Goethe, Fausto, encontramos através de Mefistófeles a noção de aniquilamento ali expressa. Hegel, filósofo idealista alemão, dá novo fôlego ao niilismo, porém, Max Stirner é o primeiro a realmente estudar diretamente o assunto em si.
Seguindo a linha hegeliana, Bakunin é um dos precursores do niilismo-político, inclusive, em 1794, em meio às turbulências da Revolução Francesa a República declara em convenção: "Esta não é uma República nem teísta e nem ateísta, mas niilista". A difusão das concepções socialistas encontram moradia na Rússia arrastando consigo este niilismo germinal, sob a bandeira do "tudo é permitido".
É nesse contexto que o tema é desenvolvido por Dostoiévski, principalmente nas obras Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e Os Demónios. Bougart, também aprofunda o tema e dá as melhores referências, para que Nietzsche, posteriormente, teorizasse a questão à volta do termo, expressa sobretudo na sua obra compilada póstumamente Vontade de Poder, em 1895. Fica confesso assim, as maiores influências de Nietzsche no tocante ao niilismo: Schopenhauer, Ivan Turgueniev, Dostoievski e Bougart.
É notável salientar que na Alemanha de Schopenhauer se desenvolveu o niilismo no aspecto social e religioso.
[editar] Concepção Nietzscheana de Niilismo
Niilismo-passivo - Segundo Nietzsche, o niilismo passivo, ou niilismo incompleto, podia ser considerado uma evolução do indivíduo, mas jamais uma transvaloração de valores, i.e., mudança nos valores. Através do anarquismo ou socialismo compreende-se um avanço; porém, os valores demolidos darão lugar para novos valores. É a negação do desperdício da força vital na esperança vã de uma recompensa ou de um sentido para a vida; opondo-se frontalmente a autores socráticos e, obviamente, à moral cristã, nega que a vida deva ser regida por qualquer tipo de padrão moral tendo em vista um mundo superior, pois isso faz com que o homem minta a si próprio, falsifique-se, enquanto vive a vida fixado numa mentira. Assim no niilismo não se promove a criação de qualquer tipo de valores, já que ela é considerada uma atitude negativa.
Niilismo-ativo - ou niilismo-completo, é onde Nietzsche coloca-se, considerando-se o primeiro niilista de facto, intitulando-se o niilista-clássico, prevendo o desenvolvimento e discussão de seu legado. Este segundo sentido segue o mesmo rumo, mas propõe uma atitude mais activa: renegando os valores metafísicos, redireciona a sua força vital para a destruição da moral. No entanto, após essa destruição, tudo cai no vazio: a vida é desprovida de qualquer sentido, reina o absurdo e o niilista não pode ver outra alternativa senão esperar pela morte (ou provocá-la). No entanto, esse final não é, para Nietzsche, o fim último do niilismo: no momento em que o homem nega os valores de Deus, deve aprender a ver-se como criador de valores e no momento em que entende que não há nada de eterno após a vida, deve aprender a ver a vida como um eterno retorno: sem isto, o niilismo será sempre um ciclo incompleto.
[editar] Movimento Social na Rússia
O niilismo foi um movimento cultural que influenciou a juventude aristocrática russa na segunda metade do século XIX. A maioria dos seus adeptos era a favor de reformas democráticas e da abolição da servidão do sistema do Kreopostnoje Pravo, razões pelas quais foram posteriormente perseguidos. Em suas Memórias de um Revolucionário, Piotr Kropotkin o descreve:
- Em primeiro lugar, o niilista declarou guerra contra o que ele descreveu como "as mentiras convencionais da humanidade civilizada." Sinceridade absoluta era a sua marca registrada, e em nome dessa sinceridade ele renunciava, e pedia aos outros que também renunciassem, às supertições, preconceitos, hábitos e costumes que sua razão não pudesse justificar. Ele recusava a dobrar-se à autoridade exceto à da razão, e na análise de cada instituição social ou hábito ele se revoltava contra toda sorte de sofisma mais ou menos mascarado.
- Essas pessoas não tinham nenhum ideal de reconstrução social em mente, nenhuma intenção revolucionária. Elas apenas queriam ensinar a massa de camponeses a ler, instruí-los, dar auxílio médico, e ajudá-los de qualquer forma a sair da escuridão e miséria, e aprender ao mesmo tempo quais eram seus ideais populares de uma melhor vida social.
George Kennan, um americano que visitou a Rússia czarista, também se surpreendeu com a idéia de que os niilistas russos eram "arremessadores de bombas", então prevalente nos países ocidentais. Para ele, aqueles eram apenas cidadãos pacíficos, que sinceramente esperavam que o governo melhorasse a situação de seus súditos.
[editar] Má fama
O governo czarista não discriminava os opositores pacíficos dos adeptos da violência, e a repressão policial sufocou o movimento. Em conexão com o recrudescimento do regime, um grupo chamado de Pervomartovtsi, pertencente ao Narodnaya Volya (Vontade do Povo) assassinou o Czar. Essa ação foi atribuída aos niilistas. Entretanto, esta afirmação não faz sentido: jamais houve uma organização formal que ligasse os niilistas, nem arcabouço teórico que os unificasse, e muito menos líderes tomando decisões como a de assassinar o Czar. O movimento niilista foi espontâneo, e estava muito mais ligado aos valores pessoais do que à actividade política propriamente dita.
[editar] Niilismo pós-Nietzsche
Como Nietzsche prevera, o assunto ganhou grande atenção, mas só quando do advento da Primeira Guerra Mundial e os avanços científicos. Nesta época sobrelavaram autores como Spengler e Max Weber. Mas, pouco mais tarde foram Heidegger e Junger que discutindo o niilismo legaram brilhantes reflexões.
Naturalmente o termo encontrou novas significações e derivações, das quais podemos destacar o niilismo-existencialista de Sartre e o niilismo-gnóstico de Albert Camus, sendo que, este último, se aproxima do misticismo, enquanto Sartre reprova qualquer divinização.
[editar] Fontes
- Alexander Berkman, Memórias de um anarquista na prisão (em inglês)
- Piotr Kropotkin, Memórias de um Revolucionário (em inglês)
- George Kennan e o Império Russo: Como a Consciência Estadunidense se tornou Inimiga do Czarismo por Helen Hundley (em inglês)
[editar] Veja também
sinceramente o niilismo e toda a filosofia e uma grande seca!!