Os Ratos
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Os Ratos, romance de Dyonélio Machado, é um relato minimalista que leva o leitor a adentrar nas angústias, esperanças e desventuras de um personagem atormentado, Naziazeno. É por meio desse personagem que Dyonélio Machado transmite sua crítica à sociedade contemporânea, dominada pela influência do dinheiro. Os Ratos expõe de forma angustiante um drama urbano de incomum verossimilhança acerca de uma parcela da população que está à mercê de dívidas, sendo assim obrigados a recorrer a empréstimos e agiotas para viver (os quais ocasionarão mais dívidas futuramente). Para os cidadão que vivem nesse ciclo vicioso a estabilidade econômica e profissional não passa de um perspectiva difusa.
Dyonélio também critica a ineficiência das instituições públicas brasileiros. Em uma passagem da obra, é mencionado que Naziazeno, funcionário público da divisão de levantamento de faturas, não hesita em deixar as faturas pelo menos dez meses atrasadas, argumentando que não é um serviço que precisa estar em dia.
Os Ratos é, superficialmente, uma trama simples, trivial. No entanto, a obra relata muito mais que a estória de um homem e sua dívida e exibe uma crítica social sutil, mas eficiente. Este é o grande feito do livro: induzir à reflexão.
[editar] Trama
Publicado em 1935, Os Ratos, de Dyonélio Machado, tornou-se uma das obras mais influentes da 2ª geração do Modernismo, além de ter sido homenageada com o prêmio Machado de Assis. Trata-se de um relato psicológico do atormentado Naziazeno, um reles funcionário público que dispõe de apenas um dia para pagar a dívida com o leiteiro do bairro. A trama, passada em aproximadamente vinte e quatro horas, descreve detalhadamente as perspectivas, angústias, esperanças e desilusões do personagem, que não mede esforços para saldar sua dívida.
Naziazeno é intimado pelo leiteiro do bairro a liquidar suas contas atrasadas sob ameaça de corte no fornecimento de leite. Pega o bonde que leva à repartição onde trabalha. Tomado pela indecisão, planeja pedir dinheiro emprestado ao diretor da repartição, seu chefe, e recorrer ao amigo Duque.
Quando chega à repartição, seus planos vão por terra: não consegue encontrar o chefe nem seu amigo, Duque. Quando finalmente defronta-se com o chefe, este recusa-se emprestar a quantia, agravando ainda mais sua condição psicológica. Angustiado, Naziazeno consegue algum dinheiro emprestado para apostar na roleta. No jogo, ganha cento e setenta e cinco mil-réis, com os quais compra mais fichas de aposta na esperança de multiplicar seus ganhos. Perde tudo.
No fim do dia, encontra Alcides e Duque. O três procuram casas de agiotas, sem sucesso. Por fim, surge uma última esperança: Alcides possui um anel penhorado com o agiota Martinez. Duque convence-os a reaver o anel e renovar a penhora com outro agiota. Eis que surge a ironia: para recuperar o anel, o trio é levado a fazer um empréstimo com outro agiota: Mondina.
Com o anel em mãos, Naziazeno e Alcides são instruídos por Duque a procurar Dupasquier, um comerciante de ouro. O conselho de Duque, entretanto, não logra, já que Dupasquier trabalha apenas com venda, não com penhora. A trama cada vez mais tensa só é "solucionada" quando os três finalmente conseguem negociar o penhor do objeto.
Conseguido o dinheiro, Naziazeno chega à sua casa, exausto, mas insone. Pensa e repensa o dia que passara, em estado psicológico abalado e crescente angústia. O clímax da paranóia chega à forma de uma alucinação: seu subconsciente devaneia uma legião crescente de ratos que, com o passar do tempo, roem o dinheiro que obtivera, reduzindo-o a migalhas. Fantasia ouvir o barulho dos ratos na cozinha, nos pratos, nas panelas, na mesa.
De súbito, um silêncio. Quando se dá por si, ele está sentado na cama ao lado de sua mulher, Adelaide. A ansiedade e a tensão mantêm-no insone, por horas a fio, até o amanhecer. Naziazeno só dorme após perceber o leite sendo deixado à porta de sua casa...
