Pós-Modernidade
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Chama-se de Pós-Modernidade a condição sócio-cultural e estética do estágio do capitalismo pós-industrial, que é o contemporâneo. Teóricos e acadêmicos têm diferentes concepções sobre o termo. Para o crítico marxista norte-americano Fredric Jameson, a Pós-Modernidade é a “lógica cultural do capitalismo tardio”. De acordo com Jürgen Habermas, a Pós-Modernidade estaria relacionada a tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater os ideais iluministas e os de esquerda. Já o francês François Lyotard prestigia a Pós-Modernidade como verdadeiro rompimento com as antigas verdades absolutas, como marxismo e liberalismo, típicas da Modernidade.
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[editar] Gênese Histórica da Pós-Modernidade
O final do século XX assistiu a um processo sem precedentes de mudanças na história do pensamento e da técnica. Ao lado da aceleração avassaladora nas tecnologias de comunicação, de artes, de materiais e de genética, ocorreram mudanças paradigmáticas no modo de se pensar a sociedade e suas instituições. De modo geral, as críticas apontam para as raízes da maioria dos atuais conceitos sobre o Homem e seus aspectos, constituídas no momento histórico iniciado no século XV e consolidado no século XVIII. A Modernidade que surgira nesse período é agora criticada em seus pilares fundamentais, como a crença na Verdade, alcançável pela Razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso. Para substituir estes dogmas, são propostos novos valores, menos fechados e categorizantes. Uma vez adotados, eles serviriam de base para o período que se tenta anunciar no pensamento, na ciência e na tecnologia, de superação da Modernidade. Seria, então, o primeiro período histórico a já nascer batizado: a Pós-Modernidade.
Podemos datar o início da Pós-Modernidade em 1902. Se os fatores determinantes forem infraestruturais, pode-se dizer que a Pós-Modernidade começa com a passagem das relações de produção industriais para as pós-industriais, baseadas fundamentalmente em serviços e trocas de bens simbólicos ou abstratos, como a informação. Neste caso, ela seria de distribuição desigual: realidade já presente em algumas regiões e ainda muito distante para outras, pois a organização das relações de produção não se dá de forma homogênea — ainda — em todas as partes do mundo.
Contudo, se for a superestrutura que define as alterações, a Pós-Modernidade nasce no processo de contestação das verdades dogmáticas na segunda metade do século XX. Do fim da Primeira Guerra Mundial em diante, uma onda de revisionismo e romantismo varreu o pensamento ocidental e cosmopolita. Gradualmente, cresceu a concepção de que nem o capitalismo seria demoníaco e nem o socialismo seria libertador, ou vice-versa. Se for este o caso, haveria uma Pós-a Pós-Modernidade deixe de ser um conceito hipotético e passe a ser uma configuração real da cultura. Não deve ser por acaso que as contestações relativistas tenham aparecido justamente nos mesmos países em que a economia caminhou para o estágio de produção pós-industrial. Na Europa Ocidental e na América do Norte verificou-se o conjunto de fenômenos socio-culturais que permitiram identificar os tais novos valores.
[editar] Pós-Modernidade e Globalização
Desde a década de 1980, desenvolve-se um processo de construção de uma cultura em nível global. Não apenas a cultura de massa, já desenvolvida e consolidada desde meados do século XX, mas um verdadeiro sistema-mundo cultural que acompanhe o sistema-mundo político-econômico resultante da Globalização.
A Pós-Modernidade, que é o aspecto cultural da sociedade pós-industrial, inscreve-se neste contexto como conjunto de valores que norteiam a produção cultural subseqüente. Entre estes, a multiplicidade, a fragmentação, a desreferencialização e a entropia - que, com a aceitação de todos os estilos e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas como mercados consumidores. No modelo pós-industrial de produção, que privilegia serviços e informação sobre a produção material, a Comunicação e a Indústria Cultural ganham papéis fundamentais na difusão de valores e idéias do novo sistema.
[editar] Crise da Representação
O que se denomina "Crise da Representação", que assombra a arte e as linguagens no contexto pós-moderno, é um fenômeno diretamente ligado à destruição dos referenciais que vinham norteando o pensamento até bem recentemente. O registro do real (figurativismo) era o principal eixo da pintura até 1870, assim como do resto da arte, até o pós-guerra. Dali em diante, valoriza-se a entropia; “tudo vale”, e todos os discursos são válidos. O resultado é que não se há mais padrões limitados para representar a realidade, resultando numa crise ética e estética.
A justificativa para essa mudança pode ser mais objetiva: com a História apontando para a formação de uma sociedade global (nível macro), todas as visões de mundo pré-existentes (nível micro) não poderiam ser descartadas, sob pena de excluir interessantes mercados consumidores do sistema-mundo capitalista. O pós-moderno, assim, pelo seu caráter policultural, sua multiplicidade, sua hiperinformação, serve bem à constituição de uma rede inclusiva de consumidores. E dentro disso está inserida a dejeção dos referenciais de representação.
[editar] Imagem e Realidade
Os meios audiovisuais, utilizando-se da sua capacidade de atingir mais sentidos humanos (visão e audição, responsáveis por mais de ¾ das informações que chegam ao cérebro), têm um potencial mais rico e imediato para transmitir sua mensagem e sua visão de realidade. A literatura, a música e a poesia dependem de um grau mais alto de abstração e interação lógica com o intelecto. Não obstante, outras artes “mais antigas” já tiveram seus momentos de mescla entre ficção e realidade, como as pinturas rupestres das cavernas (que “eram” os próprios animais pintados, e não representações deles) ou a escultura das primeiras civilizações (que buscavam a própria forma do real). Hoje, entretanto, estão na esfera da arte, ou ficção. Pode ser que, num futuro incerto, o homem ria do vídeo, perguntando-se como pôde um dia acreditar numa imagem formada por circuitos eletrônicos. Mas, até lá, continuará em dúvida sobre sua validação ou não como parte da realidade.
[editar] Estética Pós-Moderna
A estética pós-moderna apresenta diferenças fundamentais em relação a tudo que veio antes dela, incluindo todas as estéticas modernistas. Os próprios critérios-chave da estética moderna, do novo, da ruptura e da vanguarda são desconsiderados pelo Pós-Moderno. Já não é preciso inovar nem ser original, e a repetição de formas passadas é não apenas tolerada como encorajada.
Entretanto, ainda que diversas obras estéticas, de diferentes categorias, apresentem características semelhantes e recorrentes, não parece correto nem possível falar de um “estilo pós-moderno”, muito menos de um “movimento pós-moderno”. Tais conceitos prescindiriam de um certo nível de organização, articulação ou mesmo intercâmbio que simplesmente não existe entre os produtores de estética. Se foi possível falar em movimento modernista, isso é devido ao fato de haver grupos relativamente próximos e em certa freqüência de contato na Europa do início do século XX. Na Pós-Modernidade' , entretanto, os artistas até têm maiores possibilidades de se comunicar, mas as incalculáveis tendências e linguagens postas em prática tornam impossível uma unicidade formal.
As similaridades estéticas entre os produtos provavelmente são conseqüência das condições de produção e de circulação. Pois um dos efeitos sabidos da Globalização é a homogeneização das relações de produção e dos hábitos de consumo. Daí advém o neo-historismo (na verdade, um não-historismo, na medida em que desconsidera a História), que é a mistura de todos os estilos históricos em produtos sem período definido.
A entropia que se prega no Pós-Moderno diz respeito ao fim da proibição, à admissão de todo e qualquer produto, pois, se regulamento caberá ao mercado, toda produção é considerada mercadoria.
[editar] O pós-modernismo visto por Ernest Gellner
Ernest Gellner debateu-se com o fenómeno do pós-modernismo, que ele vê como um movimento que é uma das principais orientações em debate na actualidade, a nível das grandes ideias. As outras sendo:
- O fundamentalismo religioso
- A razão, ou o fundamentalismo do Iluminismo
Em "Pós-modernismo, razão e religião", de 1992, Gellner refere-se ao pós-modernismo da seguinte forma:
- "O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente...
- A influência do movimento pode ser discernida na Antropologia, nos estudos literários, filosofia...
- As noções de que tudo é um "texto", que o material básico de textos, sociedades e quase tudo é significado, que significados estão aí para serem descodificados ou "desconstruidos", que a noção de realidade objectiva é suspeita - tudo isto parece ser parte da atmosfera, ou nevoeiro, no qual o pós-modernismo floresce, ou que o pós-modernismo ajuda a espalhar.
- O pós-modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objectiva, externa ou transcendente. A verdade é ilusiva, polimorfa, íntima, subjectiva ... e provavelmente algumas outras coisas também. Simples é que ela não é...
- Tudo é significado e significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta. Qualquer coisa que seja, é feita pelo significado conferido a ela...
Obviamente, esta nova "moda" não é compatível com o Positivismo, que Gellner define como: "...a crença na existência e disponibilidade de factos objectivos, e sobretudo da possibilidade de explicar os ditos factos por meio de uma teoria objectiva e testável, ela própria não essencialmente ligada a nenhuma cultura particular, observador ou estado de espírito".
José Merquior viu nesta confrontação uma repetição da batalha entre o clacissismo e o romantismo, o primeiro associado com a dominação pela Europa por uma côrte francesa e suas maneiras e padrões, o último com a reacção pelas outras nações, afirmando os valores das suas próprias culturas populares.
Mas Gellner aponta uma diferença:
- "Mas os românticos escreveram poesia. Os pós-modernos também se entregam ao subjectivismo, mas o seu repúdio por disciplina formal, a sua expressão de profunda turbulência interna, é expressa em prosa académica, destinada à publicação em distintos jornais, um meio de assegurar a promoção ao impressionar os comités apropriados. Sturm und Drang und Cargo pode muito bem ser o seu slogan. (Tempérie, ímpeto e cargo)".
[editar] Etapas históricas a caminho do pós-modernismo
Gellner vê duas ou três grandes etapas na evolução do tipo de pensamento que culminaria no pós-modernismo. Para compreender o pós-modernismo há que compreender a evolução do marxismo.
- Marxismo teórico
- Marxismo na prática, tal como este foi vivido na União Soviética. Poderia-se falar de Estalinismo, apesar de Gellner não usar a expressão.
- Escola de Frankfurt
No fundo, as linhas da árvore genealógica do pós-modernismo são traçadas ao longo da evolução do Marxismo, da teoria para a sua aplicação prática (e os sinais do seu fracasso). Comecemos pela raiz.
[editar] Marxismo
Paradoxalmente, o pós-modernismo tem origem no marxismo. O estranho é que o marxismo foi uma "filosofia" materialista, onde as forças de produção detinham a primazia na determinação das "estructuras" sociais. Ainda por cima, o marxismo afirmava-se "científico". Obviamente que esta visão "unitarista" é hoje desprezada pelos intelectuais "pós-modernos" que colocam em questão precisamente a possibilidade de chegar a uma visão única.
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- "Mas isso foi há muito tempo, numa madrugada em que era uma glória bem-aventurada permanecer-se vivo, e muita água passou pela ponte desde então. A qualidade exclusiva-absolutista da "revelação" marxista e a forma pela qual ela foi apresentada e perpetuada significavam que os Marxistas sempre tiveram dificuldade em creditar de boa fé aqueles que não aceitavam a sua visão. Mais ainda, a sua própria teoria requeria-os a explicar aqueles dissidentes sociologicamente. O erro não era aleatório mas uma função da (posição na) sociedade: a especificação da sua função não apenas identificava e desmascarava o herético, mas também iluminava a cena social. As visões erróneas do inimigo desmascaravam a sua posição, os males sociais que ele se preocupava em defender, e os meios a ele disponíveis no seu intento nefasto. A denúncia e o desmascarar (desse inimigo) eram uma forma de educação, bem como um prazer. O marxista rapidamente adquiriu um grande gosto e perícia em tais explicações redutivas, e a explicação de opiniões críticas (ao marxismo) em termos de pertença de classe e interesse dos críticos tornou-se um estilo literário bem estabelecido, com os seus cânones, os seus clássicos, os seus procedimentos habituais".
[editar] O Marxismo real-existente
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- "Com a passagem do tempo, e especialmente após o estabelecimento da União Soviética, a quantidade de criticismo hostil que necessitava de ser explicado cresceu a um novo ritmo e a proporção do Marxismo que consistia nas explicações denunciando os críticos do Marxismo aumentou correspondentemente. O marxismo quase se tornou uma espécie de tema especial cuja ocupação era a desilusão das construções-de-mundo dos outros".
No entanto, nesta fase, os marxistas acreditam ainda numa verdade única, que eles próprios detinham, como é óbvio. Os críticos falhavam em alcançá-la, por culpa própria.
[editar] A escola de Frankfurt
Com o fim do Estalinismo, as reformas de Khrushchov e a crescente dúvida no empreendimento comunista, o panorama tinha evoluido num sentido ainda mais radical (e absurdo, para alguns).
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- "Toda esta tendência foi desenvolvida ainda mais por um movimento influente que já não se encontrava ligado ao comunismo internacional e desde logo se encontrava livre da obrigação da defesa do balanço do marximo aplicado na prática - o movimento filosófico conhecido como a Escola de Frankfurt e a sua chamada teoria crítica. Este facto foi típico da libertação da "intelligentsia" esquerdista internacional da autoridade e disciplina do partido comunista, que se seguiu às revelações de Khrushchov no Vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Ele forneceu muito da ideologia para o protesto estudantil dos anos 60 do século XX, que era crítico de ambos os lados dominantes na cena internacional.
- A escola de Frankfurt tinha muitos traços em comum com os marxistas do partido, dado que explicava ao lado das visões dos seus opositores; mas havia uma diferença interessante. Os marxistas da velha guarda não se opunham à noção de objectividade como tal, eles apenas argumentavam que os seus oponentes tinham falhado em serem genuinamente objectivos, e meramente tinham fingido observar as normas da objectividade científica, quando na verdade serviam e eram guiados pelos seus interesses de classe. Mas a verdadeira ciência permanecia (para os Marxistas) e era contrastada pela falsa consciência, inspirada por interesses de classe".
- ...A objectividade real requeria acima de tudo um saudavel posicionamento de classe e político. Era muito facil deslizar disto para a visão de que uma posição saudável é suficiente em si mesmo e finalmente a visão de que não há visões objectivas saudáveis de todo. A verdadeira ilusão era a crença na possibilidade de verdade única, objectiva. O pensamento vive sob significados, significados são específicos da cultura. Ergo, vida é subjectividade.
- Um verdadeiro, esclarecido pensador crítico (à la Frankfurt) não desperdiçava muito tempo, ou provavelmente não desperdiçava tempo nenhum em descobrir precisamente aquilo que era, ele ia directamente à substância escondida sob a superfície, as profundas características que explicavam porque é que o que era, era, e também à igualmente profunda iluminação quanto a o que deveria ser. Liberto do culto positivista do que é, cuja investigação seria apenas uma ratificação camuflada do Status Quo, um espírito livre genuinamente crítico encontra-se na bela posição de determinar precisamente aquilo que deveria ser, em oposição dialéctica ao que meramente é.
- Acabaram-se os dias em que um "positivista" era alguém que invoca factos contra o Marxismo. Agora, o positivista é alguém que faz uso de quaisquer factos de todo, ou permite a sua existência, qualquer que seja o seu objectivo".
[editar] Culminar desta evolução - O pós-modernismo
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- "Os pós-modernistas deram um passo mais. Tal como os Frankfurters, eles repudiam o culto e busca de factos externos, que tinham sido o caminho (supostamente errado) da percepção da realidade social, mas os pós-modernos não substituem esse caminho por um outro alternativo (obscuramente especificado pelos Frankfurters), e sim pela afirmação de que nenhum tal caminho é possível, necessário ou desejável. Não é a objectividade superficial que é repudiada, mas a objectividade como tal".
[editar] Citações
[editar] Referências bibliográficas
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