Proposições russellianas
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Proposições russellianas são proposições constituídas pelos objetos de que tratam e pelas propriedades desses objetos. Assim, a proposição expressa pela frase:
(1) Russell é pacifista,
que é sobre Russell, estaria constituída por Russell e pela propriedade de ser pacifista.
Deve-se sobretudo à David Kaplan -- um dos expoentes da teoria da referência direta -- o reingresso dessa noção de proposição -- que remonta a uma das mais importantes obras de Bertrand Russell, The Principles of Mathematics (1903) -- nas discusões semânticas pelo menos desde 1970 até os nossos dias. Em "DThat" (em French, P. (ed.), Contemporary Perspectives in the Philosophy of Language, Minneapolis: University of Minnesota Press, 1979), p.ex., Kaplan diz:
- 'A análise de Russell da proposição expressa por "João é alto", abastece essa com dois componentes: a propriedade expressa pelo predicado "é alto", e o João individual. Está correto, o próprio João, ali, confinado numa proposição.' (p. 385)
Kaplan, nessa passagem, está ecoando uma resposta de Russell à Gottlob Frege, em uma famosa troca de correspondência (em Frege, G. Philosophical and Mathematical Correspondence, Oxford: Blackwell, 1980). Russell (12/12/1904) diz:
- 'Creio que, a despeito de todas suas neves eternas, Mont Blanc mesmo é um componente do que é efetivamente afirmado na [frase] "Mont Blanc tem mais de 4000 m. de altura".' (p.169)
Costuma-se contrastar essas proposições, e algumas vezes se tenta harmonizá-las num quadro lógico-semântico, com proposições -- ou pensamentos -- constituídas pelo que Frege chamou (e.g., em Sobre Sentido e Referência) modos de apresentação (Art des Gegebenseins), isto é, pelos sentidos (Sinne) expressos pelas palavras. Proposições russellianas e proposições constituídas por modos de apresentação são por vezes classificadas como proposições object-dependent, isto é, proposições que dependem, para existirem, da existência dos objetos representados nas frases que as expressam pelos sujeitos gramaticais. A adesão às proposições object-dependent comprometeria Frege e Russell, segundo a influente interpretação de G. Evans (em The Varieties of Reference), com a negação da tese de que a ausência do referente de uma palavra ou frase é compatível com o fato de uma palavra o frase ter sentido.