Ricardo Reis
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Ricardo Reis (1887 - 1935) é um dos três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Nascido na cidade do Porto. Estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista e semi-helenista.
Ricardo Reis apresenta-se sendo um poeta de formação clássica, de serenidade epicurista, "pagão por carácter", segue Caeiro no amor da vida rústica, junto da natureza. Ricardo Reis aceita com calma a lucidez, a relatividade e a fugacidade das coisas, como o demonstra no poema “ Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do Rio”. Mas, enquanto o Mestre, menos culto e complicado é (ou pretende ser) um homem franco e alegre, Reis é um ressentido que sofre e vive o drama da transitoriedade doendo-lhe o desprezo dos deuses. A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurista triste, pois defende o prazer do momento (Carpe Diem) como o caminho para a felicidade, contudo, afligem-se com a imagem antecipada da Morte e a dureza do Fado. Daí, ele buscar o refúgio dum epicurismo temperado de algum estoicismo, tal como em Horácio, seu modelo literário: "Abdica e sê rei de ti próprio". Apesar deste prazer na procura pela felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino. Sendo ele um poeta lúcido e cauteloso, constrói, para si urna felicidade - relativa, mista de resignação e moderado gozo dos prazeres que não comprometam a sua interior. Trata-se de fruir, muito consciente e ponderadamente, as coisas acessíveis sem demasiado esforço ou risco. Portanto torna-se num poeta indiferente à dor e ao desprazer numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. Latinizante no vocabulário e na sintaxe, o seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda, muito claramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre de decassílabos nas referências mitológicas, na frequência do hipérbato, na contenção e concisão altamente expressivas e lúcidas. Podemos ainda acrescentar que a poesia de Ricardo Reis é constituída com bases em ideias elevadas e odes, ou seja, na poesia de Reis é constante o Neoclassicismo. Para finalizar, podemos concluir que através da intemporalidade das suas preocupações, a angústia da brevidade da vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana, Reis tenta iludir o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida.
[editar] Trechos de algumas das suas obras
- "Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
- Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
- Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
- Ouvindo correr o rio e vendo-o." (1914)
- "Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
- Com um púcaro de vinho
- Ao lado, e atentos só à inútil faina
- Do jogo do xadrez" (1916)