Sunset boulevard
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[editar] Título
O título original do filme, Sunset Boulevard, faz referência a uma famosa avenida da cidade de Los Angeles, que interliga a rua Silverlake até a rua Pacific Ocean (sobre a qual o sol se põe). O nome é uma alusão à decadência dos personagens do filme, cada um a sua maneira.
O título em português, Crepúsculo dos Deuses, conseguiu reafirmar a carga interpretativa do filme dentro de seu contexto.
[editar] Sinopse
Joe Gillis, um roteirista fracassado, após uma perseguição de carro com seus credores, encontra uma mansão “abandonada” no numero 10086 da Sunset Boulevard. Lá ele conhece a esquecida estrela do cinema mudo, Norma Desmond, e seu peculiar mordomo (seu ex-marido e ex-cineasta promissor da década de 20) Max. A principio, Norma pensa que Gillis veio lhe trazer o caixão de seu recém falecido chimpanzé. Contudo, ao descobrir que ele é um roteirista, o vê como peça chave para seu grande retorno e solicita seus serviços para dar o toque final ao enfadonho roteiro que escreveu, a história de Salomé. Joe acaba aceitando, tendo em vista que precisava de dinheiro.
A partir de então inicia-se um relacionamento de submissão e instabilidade mental entre Norma e Gillis. Gillis percebe que Norma vive na ilusão de que ainda é uma grande estrela. Ela, por sua vez, o enche de mimos e o torna seu objeto sexual.
Até o dia em que Gillis tem uma oportunidade importante para sua carreira e começa a escrever um roteiro com a noiva de seu melhor amigo, Betty Schaefer. No entanto, ele acaba se apaixonando por ela.
Norma descobre a traição e enlouquece, criando um desfecho trágico para o protagonista e lamentável para ela, que trás os holofotes de volta para si mesma.
[editar] Lançamento
A primeira versão do filme foi exibida pela primeira vez em Everton, Illinois (interior dos Estados Unidos) em 1950 e causou uma reação curiosa na platéia. A cena inicial se passava no necrotério de Los Angeles, onde o personagem (morto) de Willian Holden conversava com outros defuntos sobre como cada um morreu, entre travellings por macas com corpos cobertos por lençóis e etiquetas nas pontas dos pés.
Ao invés de transmitir um tom mórbido ao filme, essa cena causou gargalhadas na platéia-teste.
Logo, ela foi substituída pela grande cena inicial do morto boiando na piscina.
[editar] A vida imitando a arte
O roteiro é repleto de paralelos na qual a vida real se confunde com o ocorrido no filme. Para especificar esses paralelos por completo seria necessário analisar o filme plano-a-plano.
É importante ressaltar que essas “coincidências” são os elementos do longa-metragem que o conferem maior impressão aos espectadores.
A começar pela relação entre Gloria Swanson, que interpreta Norma Desmond, e Erich Von Strohein, o mordomo/ex-marido/diretor de filmes mudos. Strohein dirigiu Swanson em uma série de filmes em seus tempos áureos. Dentre eles A viúva alegre (1925), o clássico Ouro e Maldição (1925) e o fatídico Minha Rainha, que é projetado por Max para Norma e Gillis no decorrer do filme.
Dizem que Erich era um diretor de costumes extravagantes, nunca estava satisfeito com os resultados do filme, estourava orçamentos, atrasava prazos. Gloria, que além de protagonista era produtora de Minha Rainha, demitiu Strohein e os dois, por muito tempo, permaneceram brigados. O filme foi, de fato, a grande ruína para a carreira de ambos. Na época das filmagens de Crepúsculo, apesar disso, já haviam feito as pazes. A idéia de projetar Minha Rainha no filme foi do próprio Erich Von Strohein. No filme Ouro e Maldição, Strohein chegou ao cúmulo de sua excentricidade (há quem chame de genialidade): o filme tinha duração de nove horas, foi cortado para 4 e a versão final possuía duas horas e meia. Muito da qualidade do filme se perdeu nesse meio mas, o mesmo não deixa de ser uma grande obra prima fundamental na historiografia do cinema mundial. Max afirma no filme que os três diretores mais promissores do cinema mudo eram Cecil DeMille, Griffith e ele mesmo. No caso, na vida real, isso poderia, sim, ser levado a sério.
E contrariando a todos que afirmavam que Gloria Swanson atuava a si mesma no filme, em uma cena Norma é tratada em frente a uma lente de aumento que revela uma cútis perfeita, sem nenhuma marca de expressão ou ruga. Glória, que tinha 53 anos quando o filme foi rodado, era, na verdade, fanática por saúde. No filme sua personagem não está velha fisicamente e sim mentalmente.
Billy Wilder usou de inúmeras referencias legítimas no transcorrer do filme, dentre os quais: Darryl Zanuck, Tyrone Power, Alan Ladd. Também convocou as figurinhas clássicas do cinema dos anos 20 Anna Q. Nilsson, atriz sueca antecessora de Greta Garbo, H.B Warner, ator dramático, e Buster Keaton para compor o que o personagem de Willian Holden chama de museu de cera, que seriam, na verdade, os parceiros de Norma no carteado. Cecil DeMille também aparece no set verídico do verídico filme Sansão e Dalila interpretando a si mesmo. Norma, ao chegar no set é recebida pela exclamação “ainda faremos nosso grande filme juntos”. Ironicamente, Gloria Swanson e DeMille trabalharam inúmeras vezes juntos.
As locações de Crepúsculo dos Deuses também representam grandes points dos aspirantes ao sucesso em Hollywood da época. Dentre eles estão o Swabs Drugstore, os campos de golfe (que é o lugar onde os agentes realmente fazem negócios). Além disso, Billy Wilder exprimiu sua relação com os produtores da Paramount mostrando o produtor que Joe Gillis procura, bebendo antiácido.
Alguns críticos afirmam que o personagem de Willian Holden é, de fato, uma representação, um alter-ego, de Billy Wilder no inicio de sua carreira.
Cabe lembrar também que numa determinada cena, enquanto Joe Gillis corrige o extenso roteiro de Norma, ela o repreende como se qualquer alteração, por menos drástica que fosse, alteraria toda a “magia” do original. Billy Wilder tinha sérios problemas com improvisos e raramente permitia aos atores qualquer mudança nos diálogos. Ele até cronometrava as falas para certificar que estariam sendo eloquadas da maneira que ele queria.
[editar] Elementos fílmicos
Wilder optou por gravar em locações para evidenciar as imagens e sons característicos de Hollywood.
A casa de Norma, na verdade, fica a nove kilômetros do numero 10086 da Sunset Boulervard. Ela era, de fato, “construída por excêntricos do cinema dos anos 20”. Representa uma extensão arquitetônica da personalidade de Norma. É a expressão máxima de seu caráter. A decoração barroca, as fotos de si mesma por todos os lados se auto-afirmando, o órgão imponente, tudo reflete o ser Norma Desmond. Narcisista, não consegue distinguir as imagens ao que se tornou. Todo o luxo da parte interna da casa se contrapõe com a decadência da parte externa, que representa a forma na qual Norma foi deixada por Hollywood, ao ostracismo.
A casa pertencia, na vida real, à ex-mulher do bilionário da indústria petrolífera, J. Paul Getty e Wilder só aproveitou o exterior da casa e os jardins. A casa foi demolida em 1959 e foi substituída por um posto de gasolina.
O carro de Norma, por sua vez, um imponente Isotta Fraschini 1934 todo forrado em pele de onça, faz uma alusão a um bordel, sendo Gillis o gigolô.
O figurino, realizado por Edith Head, possuía uma dificuldade: vestir um personagem fora de época mas rica o suficiente para comprar o que quisesse. Ou seja, tendo estilo contudo, sendo fora de moda.
A trilha sonora tem um tratamento incomum. Foi composta por Franz Waxman, amigo de Wilder dos tempos de Berlim. O tema de Norma é um tango e busca acentuar sua personalidade instável. Durante o tratamento de beleza o tango ganha um violão cigano para dar um ar de loucura à situação. A trilha que acompanha Gillis é um jazz trazendo jovialidade ao escritor quase famoso e prófugo. Na festa de fim de ano dos aspirantes ao sucesso é tocada ao piano “Buttons and Bows” próprios compositores.
Outro detalhe importante do filme, para não dizer fundamental por seu caráter inédito, é a narração, no melhor estilo Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, na qual um morto narra sua própria história.
Alguns críticos consideram Sunset Boulevard um filme noir, não obstante, o filme pode ser confundido com um drama, uma comédia e até mesmo um filme de terror devido ao clima que iluminação proporciona em dados momentos.
[editar] A Hollywood story
“Nada mais importa: apenas nós, as câmeras e essas pessoas maravilhosas sentadas no escuro”, Norma Desmond.
A frase acima indica o pensamento da multidão ao ir ao cinema. Lugar de sonhos, de filmes e estrelas.
Poderia dizer que o filme, então, trata de algo evidente aos olhos do espectador: Hollywood. E de fato, existe uma crítica forte ao longo do filme de vários elementos da indústria cinematográfica estadunidense, indústria essa que prepotentemente fabricou seus próprios deuses. No entanto, a máquina faz de tudo para esconder suas engrenagens. E Billy Wilder, sabendo disso, confronta-se exatamente com o próprio conceito de glamouriação que envolvia a corporação para a qual trabalhava. David Lynch seguiu o mesmo caminho com Mulholland Drive mostrando, também, como alguém que sonha com o estrelato acaba esmagado pela máquina e esmagado por si mesmo.
Outro tópico manifesto no filme é a oposição entre o mundo vivido e o mundo mítico de sonho. Cada personagem tem uma espécie de ilusão que o separa do mundo real. E isso também leva o filme, através de Norma, a outro assunto: a relação entre o artista e a própria arte e desta com o público. Norma é a platéia de si mesma. Cada gesto, cada olhar e cada momento de silêncio de Desmond se opões a tudo que se espera como normal, menor, cotidiano, o mesmo ocorrendo com a própria luz que incide sobre ela – os próprios personagens percebem este aspecto, esta aura que se transfere da arte para a estrela e que parece fazê-la rilhar mesmo no ocaso. Ao final da história, Norma descobre, sem perceber, que além de deuses, o publico quer também monstros. O sonho se esvaece como num despertar.
Contudo, olhando cuidadosamente, o filme revela-se muito mas ácido. A acidez da corrupção humana, da decadência moral envolvem o filme e ditam seu aspecto. Norma, por exemplo, deseja fazer um remake da história de Salomé. Salomé foi uma jovem que ao realizar a dança dos sete véus para o rei consegue o que quiser e pede a cabeça de João Batista, que batizava os novos cristãos, numa bandeja. Durante a festa de ano-novo, Norma realiza uma espécie de dança dos sete véus e consegue a cabeça do próprio “rei”.
E, de fato, este é um tema recorrente na filmografia de Billy Wilder. No filme The Apartment, por exemplo, temos a história de um homem que empresta seu apartamento para os chefões de sua companhia levarem suas amantes em troca de uma promoção. Assim, em Crepúsculo dos Deuses, todos os personagens se corrompem de alguma forma: Joe Gillis se vende por seu carro, Max se vender para servir (ou dirigir) a musa que ajudou a fabricar.
Enfim, Sunset Boulevard ou Crepúsculo dos Deuses, é, antes de um filme para criticar o cinema, um filme para amantes do cinema.Toda a epifania da história do cinema é celebrada.
