Traje académico
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O traje académico em Portugal é considerado o uniforme do estudante universitário. Deriva das vestes eclesiásticas e, desde sempre, é composto pela batina e capa. Este facto realça o efeito da Igreja no Ensino. De facto, foi o clero que, até ao século XVIII, deteve o monopólio do ensino, nomeadamente a Companhia de Jesus. Hoje em dia o seu uso é regulamentado pela Praxe académica
O traje terá surgido como uma medida de indistinção entre o pobre e o rico, concentrando o esforço da distinção académica única e exclusivamente nas capacidades do estudante. Existem, portanto, um conjunto de regras de elaboração e utilização do traje que descrevem especificamente as características da calça ou saia, camisa, laço ou gravata, colete, batina, capa, sapatos.
[editar] História
Apesar de hoje em dia se apresentar uniformizado, o traje académico nem sempre foi como se conhece hoje. Os antigos estatutos da Universidade de Coimbra não obrigavam o uso do traje, mas proibiam, porém, o uso de certas cores e condicionavam alguns traços do corte.
Dos estatutos de D. Manuel I:
- «Não poderão os sobreditos nem outros alguns estudantes trazer barras nem debruns de pano em vestido algum; nem isso mesmo poderão trazer vestido algum de pano frizado; nem poderão trazer barretes de outra feição senão redondos; e assim hei por bem que os pelotes e aljubetes que houverem de trazer sejam de comprido três dedos abaixo do joelho ao menos; e assim não poderão trazer capas algumas de capelo, somente poderão trazer lobas abertas ou cerradas ou mantéus sem capelo; não trarão golpes nem entretalhos nas calças nem trarão lavor branco nem de cor alguma em camisas nem lenços.»[1]
Na obra de Luís Cyrne de Castro, Tempos Idos, refere-se que seria em 1645 que D. João IV iria confirmar os estatutos da Universidade, que vigoraram até 1772, sendo reformulados na sequência da reforma Pombalina.
Porém, é no século XIX que o traje académico sofre maiores alterações, instaurando uma polémica, ao ponto do reitor se impor e decretar medidas extremas. Com base em relatos da época por Antão de Vasconcelos[2] nota-se que a batina evoluiu do tornozelo ao joelho. Porém, nos finais do século as transformações seriam ainda maiores. Como Ramalho Ortigão salienta, a calça vestia-se agora comprida.
É, em 1957, com a publicação do primeiro Código de Praxe Académica que o traje passar a ser uniformizado.
Na Universidade do Minho, no entanto, após 1989, a Associação Académica constatou que o traje académico actual não reflectia as velhas tradições da cidade. Assim sendo decidiram criar um novo traje académico exclusivo desta academia. Com tal acto, abriram caminho para outras Universidades e Institutos mais recentes não quererem adoptar o modelo de traje tradicional e, actualmente, o traje académico reflecte um pouco da tradição de cada instituição.
[editar] Ver também
[editar] Referências
- QVID PRAXIS? (PORTVCALENSIS), Cabral, Manuel e Marrana, Rui; Porto, 1982, AEUCP)
- Memórias do Mata-Carochas, Vasconcelos, Henrique António Coelho de; 1.ª ed. 1907; 2.ª ed. ilustrada 1956, Porto)
- Subsídios para o Estudo do Trajo dos Estudantes de Coimbra, Revista Rua Larga, n.º 2); Correia, António; Coimbra, 1 de Julho de 1957