Castelo de Montemor-o-Velho
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Castelo de Montemor-o-Velho, Portugal. | ||
Construção | Afonso VI de Leão e Castela (1088) | |
Estilo | Românico e Gótico | |
Conservação | Bom | |
Homologação (IPPAR) |
MN | |
Aberto ao público | ||
Site DGEMN | 1 | |
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Site IPPAR | 70442 |
O Castelo de Montemor-o-Velho localiza-se na Freguesia, Vila e Concelho de mesmo nome, Distrito de Coimbra, em Portugal.
Em posição dominante sobre a vila, na margem direita do rio Mondego, à época junto à sua foz, no contexto da Reconquista constituiu-se em um ponto estratégico na defesa da linha fronteiriça do baixo Mondego, em particular da região de Coimbra. Foi, por essa razão, a principal fortificação do Baixo Mondego, à época.
Índice |
[editar] História
[editar] Antecedentes
Acredita-se que a primitiva ocupação humana deste sítio remonta a um castro pré-histórico, ocupado sucessivamente por fenícios, romanos, visigodos e muçulmanos, atraídos pelo estanho da Beira Alta, escoado pelo Mondego. Da época romana, são testemunhos alguns dos silhares de pedra integrados à base da torre de menagem do castelo medieval.
[editar] O castelo medieval
As primeiras referências documentais à povoação e seu castelo remontam à época da Reconquista cristã da península Ibérica, quando Ramiro I das Astúrias os conquistou (848), doando os seus domínios e rendimentos a um parente, o abade João, monge do Convento de Lorvão, com o encargo de defender o castelo, mantendo-lhe guarnição.
A posse da região entre os rios Douro e Mondego alternou-se entre cristãos e muçulmanos desde a segunda metade do século X até ao início do XI. De acordo com a Crónica dos Godos, a primitiva fortificação de Montemor foi conquistada pelas forças de Al-Mansur (991) – que a terão reedificado -, para ser recuperada pelos cristãos (Mendo Luz, 1006 ou 1017), novamente conquistada pelos muçulmanos (1026), reconquistada por Gonçalo Trastamariz (Crónica dos Godos, 1034). A posse definitiva, entretanto, só ocorreria sob Fernando Magno após a conquista definitiva de Coimbra (1064), assegurando a fronteira no Mondego.
O domínio militar da região de Coimbra foi entregue pelo soberano ao conde D. Sesnando Davides, que além de pacificá-la e defendê-la, procedeu-lhe uma vasta obra de reorganização, compreendendo a construção ou reconstrução de diversos castelos, como o de Coimbra, o da Lousã, o de Montemor-o-Velho, o de Penacova e o de Penela.
Vindo o soberano a falecer, os trabalhos de reparo e reforço de Montemor-o-Velho, arruinado pelas sucessivas campanhas e desguarnecido pelo despovoamento da região, foram conduzidos sob o reinado de seu sucessor, Afonso VI de Leão e Castela, que os teria determinado possivelmente em 1088, mas anteriormente a 1091, ano do falecimento do conde Sesnando. Por ordem deste, desde 1090 se iniciara a edificação da igreja pelo presbítero Vermudo, com a condição de que metade das rendas passassem a pertencer à Sé de Coimbra. Concluída em 1095, foi lavrada a escritura de doação dessa parte. Ainda nesse ano, a povoação recebeu Carta de Foral. Uma dessas fontes datada de 1095, referindo a primitiva fortificação arrasada pelos mouros, descreve-lhe o abandono e a vegetação que recobria as ruínas.
O Foral de Montermor-o-Velho foi confirmado alguns anos mais tarde pelo conde D. Henrique, em data anterior a 1111, possivelmente em 1109, quando há notícia de novas obras no seu castelo.
Quando da afirmação da independência de Portugal, em 1128, não há notícia de que o alcaide de Montemor, Paio Midis, fosse contrário a D. Afonso Henriques (1112-1185). O castelo é referido pelo geógrafo árabe Muhammad Al-Idrisi, em meados desse século.
O Castelo de Montemor-o-Velho foi, historicamente, terra de infantados, primeiro de D. Teresa (filha de D. Sancho I, a partir de 1211), depois de D. Afonso IV (1322) e também de D. Pedro, Duque de Coimbra (1416). Após a morte de D. Sancho I, o alcaide de Montemor recusou-se a prestar vassalagem a D. Afonso II, devido a desacordo testamentário entre este monarca e sua irmã, D. Teresa, relativa à doação a esta do castelo. Cercado pelas forças do soberano, tendo a infanta aqui se refugiado, o sítio acabou sendo levantado e a questão sanada graças à intervenção do Papa Inocêncio III, já em 1216. Ainda sob o reinado de D. Afonso II (1211-1223), um novo foral é mencionado (1212). O castelo voltou a ser ponto de discórdia nos conflitos que opuseram D. Sancho II (1223-1248) e D. Afonso III (1248-1279) quando, em 1245, diante da deposição do primeiro, o bispo D. Tibúrcio e alguns cônegos da Sé de Coimbra, sentindo-se inseguros naquela cidade, procuraram refúgio na alcáçova do Castelo de Montemor-o-Velho, cujo alcaide se proclamara em favor de D. Sancho II. Mais tarde, no contexto da rebelião do infante D. Afonso, futuro D. Afonso IV, contra seu pai, o rei D. Dinis (1279-1325), o castelo foi conquistado pelas forças do príncipe (1321). Neste período, no século XIV, o castelo foi objeto de uma ampla reforma, acreditando-se datar desta fase a construção da barbacã e do troço da cerca a Norte.
A importância militar e estratégica deste castelo manteve-se ao longo dos séculos seguintes, afirmando-se que as suas grandes dimensões permitiam aquartelar até 5.000 homens de armas em seu interior. É fato que o seu comando foi sempre exercido por figuras de destaque da nobreza de Portugal. Em 1472, D. Afonso V 1438-1481) faz marquês de Montemor-o-Velho, a D. João de Portugal, mais tarde duque de Bragança.
No contexto da crise de sucessão de 1580, acredita-se que o castelo tenha recebido a visita de D. António, Prior do Crato, quando visitou a vila em 1580, ocasião em que tentava articular a defesa, na linha do Mondego, da independência de Portugal.
[editar] Da Guerra Peninsular aos nossos dias
No início do século XIX, no contexto da Guerra Peninsular, as suas dependências foram ocupadas pelas tropas francesas de Napoleão, sob o comando de Jean-Andoche Junot, entre 1807 e 1808. Três anos mais tarde, no caminho da retirada das tropas derrotadas de André Masséna, foi saqueado e depredado, juntamente com a vila.
Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal (1834), o seu pátio de armas passou a ser utilizado como cemitério da vila. Nesta fase registrou-se o reaproveitamento de suas pedras pela população local. Em 1877 uma das suas torres foi adaptada como Torre do Relógio.
O Castelo de Montemor-o-Velho e a Igreja de Santa Maria da Alcáçova encontram-se classificados como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910. Em 1929, por iniciativa de um particular, António Rodrigues Campos, empreendeu-se uma campanha de defesa que chegou a promover alguns restauros no monumento.
Em bom estado de conservação, o monumento encontra-se atualmente aberto ao público.
[editar] Características
Na cota de 56 metros acima do nível do mar, o conjunto apresenta planta irregular, constituída pelo castelejo, uma cerca principal, a barbacã ameada envolvente, um cercado a Norte e um reduto inferior, a Leste.
O castelejo constitui-se por um reduto definido pelo aproveitamento do espaço angular entre a Torre de Menagem, a Sudeste, e a cortina Norte, reforçado por quatro cubelos. A torre de menagem, situada a Leste, apresenta planta quadrada dividida em pavimentos. Os cubelos apresentam planta quadrada e semicircular, dois dos quais com aberturas em arco quebrado.
Na barbacã foram rasgadas duas portas: a Porta da Peste, pelo lado Sudeste, vizinha à torre de menagem, substituindo a arruinada porta principal, e a Porta da Nossa Senhora do Rosário, rasgada a sul e remodelada posteriormente.
Na encosta virada a noroeste avançam os panos de muralha que descem da barbacã. Estas duas cortinas erguem-se perpendicularmente ao corpo do castelo e são terminadas por robustas torres quadradas. No setor sudoeste encontram-se as ruínas do antigo paço senhorial, que se prolongava na área da barbacã. Este paço foi iniciado no século XI por D. Urraca, irmã de D. Teresa de Leão, e posteriormente remodelado pelas infantas filhas de D. Sancho I para se transformar num típico paço senhorial. São destaques ainda, intramuros, a Igreja de Santa Maria da Alcáçova, que remonta ao século XI, sendo que a sua atual conformação data da época manuelina; a Capela de Santo António, paralela à barbacã, e a Igreja da Madalena cuja atual conformação data dos séculos XV e XVI. Na nova cerca subsistem ainda as ruínas da Capela de São João.
[editar] A lenda do Abade João
A tradição local refere que no século IX, ao tempo do abade João, o castelo foi cercado pelas forças do califa de Córdoba, comandadas por um cristão renegado, Garcia Ianhez-Zuleima. Em número inferior, os combatentes do castelo, com grande dificuldade em sustentar a defesa, deliberaram dar morte por degola aos demais, mesmo aos seus parentes, a fim de lhes pouparem o cativeiro e possíveis afrontas dos mouros. Assim tendo procedido, arremeteram contra o inimigo superior, dispostos a morrer em combate. Fizeram-no, entretanto, com tal ímpeto, que o levaram de vencido. No século XVIII, sob o reinado de D. João V (1706-1750), a tradição enriqueceu-se com um desfecho piedoso: os familiares dos defensores, ressuscitados por milagre, saíram do castelo ao encontro dos vencedores. A imagem de Nossa Senhora da Vitória com uma cicatriz vermelha no pescoço, na Igreja local, evoca o milagre.
[editar] Ligações externas
- Inventário do Património Arquitectónico (DGEMN)
- Instituto Português de Arqueologia
- Castelo de Montemor-o-Velho (Pesquisa de Património / IPPAR)