Ciliado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

? Ciliados
Gravura de Ernst Haeckel, de 1904, na sua Kunstformen der Natur (Formas artísticas da Natureza), mostrando ciliados ("Ciliata").
Classificação científica
Domínio: Eukariota Reino: Protista Filo: Ciliophora
Classes e Subclasses
Ver texto

Os ciliados (filo Ciliophora) são um dos mais importantes grupos de protozoários, com cerca de 7000 espécies conhecidas e representantes em praticamente todos os ecossistemas aquáticos, marinhos e de água doce e no solo. Várias são parasitas ou comensais de vários invertebrados e outras ainda vivem no tubo digestivo dos mamíferos herbívoros, aos quais ajudam a estabilizar as enormes populações de bactérias simbióticas que digerem a celulose de que eles se alimentam, podendo considerar-se igualmente seus simbiontes. Conhece-se apenas uma espécie que é parasita do homem, o Balantidium coli, o agente da balantidíase ou disenteria balantídica.

Apesar de unicelulares, os ciliados podem ser considerados como protozoários "grandes", com algumas espécies atingindo 2 mm e alguns têm uma estrutura complexa. O seu nome provém da presença de cílios, que ocorrem em todos os membros deste grupo, embora os da subclasse Suctoria os possuam apenas durante uma fase do seu ciclo de vida. Os cílios servem para a locomoção, para se prenderem a um substrato, para a alimentação e como órgãos – aliás, organelos - dos sentidos.

Uma das espécies mais bem estudadas deste grupo é a paramécia, muito comum em charcos de água doce, perto de estábulos ou onde se preparem produtos agrícolas.

Os tintinídeos são ciliados que produzem uma lórica, uma espécie de casca, que se acumula no fundo dos oceanos, permitindo estudar a sua história. Encontraram-se depósitos do período Ordoviciano com mais de 400 milhões de anos.

[editar] Anatomia dos ciliados

Ao contrário dos restantes eucariontes, os ciliados possuem dois núcleos: um grande, poliplóide, o macronúcleo, e um ou vários micronúcleos diplóides. O macronúcleo possui o material genético na forma de pequenas cadeias de DNA, algumas com vários milhares de cópias e aparentemente tem a sua função principal na síntese proteica. Os micronúcleos possuem cromossomas “normais” que, não só actuam na reprodução, quer por fissão binária, quer por conjugação, mas também são responsáveis pela formação e regeneração do macronúcleo.

A maioria dos ciliados alimenta-se por fagocitose, embora haja alguns que se alimentam por absorção de nutrientes através da membrana celular. Os que realizam a fagocitose possuem normalmente um poro na sua membrana por onde entram as partículas de alimento – o citostoma ou “boca celular” – com a ajuda de cílios modificados. Em algumas formas, como a paramécia, a “boca” encontra-se no fundo de um sulco oral. As partículas de alimento passam da boca para vacúolos digestivos que migram dentro da célula, digerindo e passando o alimento para o citoplasma, até que descarregam a parte não absorvida num outro poro da célula chamado o citoprocto ou “ânus celular”.

Muitas espécies possuem ainda vacúolos contrácteis, muitas vezes em forma de estrela, em que os “braços” são formados por canais rodeados de microtúbulos. Estes vacúolos recolhem fluídos e expelem-nos para manter a pressão osmótica.

O córtex é uma estrutura complexa, separada do endoplasma por uma camada de microtúbulos. Cada cílio está associado a um conjunto de túbulos e de proteínas estruturais chamado cinetossoma ou corpo basal. Este conjunto, chamado infraciliatura, encontra-se normalmente em filas chamadas cinécias. Em alguns grupos, como os Spirotrichea, possuem grupos compactos de cinetossomas, chamados policinécias, que suportam grupos de cílios, chamados cirros. O arranjo das cinécias, tanto no corpo da célula como na região oral é importante para a classificação científica dos ciliados.

Algumas espécies possuem ainda no córtex extrussomas que são organelos capazes de expelir um bastão fibroso, como “órgão” de defesa ou de ataque, semelhante aos nematocistos das águas-vivas;Em algumas espécies, os extrussomas servem para a enquistação.

Uma outra característica dos ciliados á a presença no córtex de mitocôndrias e pequenas vesículas sob a membrana celular, chamadas alvéolos, que funcionam como uma espécie de esqueleto, dando forma à célula.

[editar] Ecologia dos ciliados

A grande maioria dos ciliados vive no meio aquático, tanto no mar, como em água doce, fazendo parte do plâncton, alimentando-se de bactérias, algas ou de outros protozoários. Os tintinídeos chegam a ser tão abundantes que podem consumir até 90% da produção planctónica de bactérias e algas. Algumas espécies vivem com bactérias ou algas simbiontes.

Os ciliados de água doce são mais abundantes em zonas eutrofizadas pela descarga de excesso de nutrientes, onde crescem muitas algas e, estudando as suas populações pode verificar-se se existe poluição nessa região.

Alguns ciliados vivem no solo, alimentando-se igualmente dos pequenos organismos que aí vivem. Estas espécies podem enquistar, quando o solo se torna demasiado seco e voltarem à vida ativa quando a água regressa.

Algumas espécies são parasitas ou comensais de vários invertebrados, uma espécie, Balantidium coli, é patogénica para o homem e outras, como a Ichthyophthirus multifillis, são parasitas de peixes. Há ciliados que vivem no tubo digestivo dos mamíferos herbívoros, aos quais ajudam a estabilizar as enormes populações de bactérias simbióticas que digerem a celulose de que eles se alimentam, podendo considerar-se seus simbiontes.

[editar] Reprodução

Os ciliados reproduzem-se assexuadamente por fissão binária: o micronúcleo sofre mitose, enquanto que o macronúcleo, na maior parte das espécies, divide-se aleatoriamente em duas partes, seguindo-se a divisão celular. Mas existe também a reprodução sexuada, através do processo conhecido por conjugação: o micronúcleo sofre meiose, o macronúcleo desintegra-se, assim como há a degeneração de 3 dos 4 micronúcleos resultantes da meiose. O micronúcleo haplóide resultante do processo sofre mitose. Dois indivíduos juntam-se e formam uma ponte citoplásmica e as células trocam micronúcleos através da ponte citoplásmica que depois se conjugam para formarem micronúcleo diplóide. As duas células separam-se e ocorre três mitoses sucessivas, resultando em oito micronúcleos diplóides. Três dos oito degeneram e quatro originam quatro macronúcleos; o quinto micronúcleo sofre mitoses sucessivas e, ao final do processo, a partir de um único paramécio, há a formação de quatro células filhas, cada uma com um macronúcleo e um micronúcleo originados de maneira a incrementar a variabilidade genética da população.

[editar] Filogenia e taxonomia

A presença dos alvéolos nos ciliados, juntamente com a estrutura dos cílios, a forma de mitose e, finalmente, vários estudos genéticos, demonstraram a afinidade entre este filo e os dinoflagelados e os Apicomplexa, que se encontram atualmente agregados no clade Alveolata.

[editar] Classificação

• Classe Karyorelictea
  
• Classe Heterotrichea (e.g. Stentor)
  
• Classe Spirotrichea
  
  • Subclasse Choreotrichia (e.g. Tintinnidium)
    
  • Subclasse Oligotrichia (e.g. Halteria)
    
  • Subclasse Stichotrichia (e.g. Stylonychia)
    
  • Subclasse Hypotrichia (e.g. Euplotes)
    
• Classe Litostomatea
  
  • Subclasse Haptoria (e.g .Didinium)
    
  • Subclasse Trichostomatia (e.g. Balantidium)
    
• Classe Phyllopharyngea
  
  • Subclasse Phyllopharyngia
    
  • Subclasse Rhynchodia
    
  • Subclasse Chonotrichia
    
  • Subclasse Suctoria (e.g. Podophrya)
    
• Classe Nassophorea
  
• Classe Colpodea (e.g. Colpoda)
  
• Classe Prostomatea (e.g. Coleps)
  
• Classe Oligohymenophorea
  
  • Subclasse Peniculia (e.g. Paramecium)
    
  • Subclasse Hymenostomatia (e.g. Tetrahymena)
    
  • Subclasse Scuticociliatia
    
  • Subclasse Peritrichia (e.g. Vorticella)
    
  • Subclasse Astromatia
    
  • Subclasse Apostomatia
    
• Classe Plagiopylea

[editar] Ligações externas

• Tree of Life - Alveolados