Imigração portuguesa no Brasil
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A imigração portuguesa para o Brasil, ao lado da italiana, alemã e espanhola, constitui uma das maiores massas de imigrantes já recebidas pelo Brasil.
Este fluxo migratório acontece desde o século XVI e alcançou seu auge no início do século XX. Pode ser dividido em 4 fases:
Índice |
[editar] Imigração restrita (1500-1700)
O Brasil foi achado pelos portugueses a 22 de abril de 1500. Logo após o fato, os colonos passaram a se estabelecer na colônia, porém, de forma pouco significativa. De início, aqui foram deixados degredados (pessoas indesejáveis em Portugal, como ladrões e traidores, que tinham como pena o degredo no Brasil). Esses primeiros colonos foram abandonados à própia sorte e acabaram sendo acolhidos pelos grupos indígenas que viviam no litoral.
Durante os séculos XVI e XVII, a imigração de portugueses para o Brasil foi pouco significativa. A Coroa Portuguesa preferia investir na sua expansão comercial no continente asiático e pouco valorizava as suas possessões nas Américas. Porém, durante o século XVI, piratas franceses e de outros nacionalidades começaram a rondar o território brasileiro e a fazer tráfico de pau-brasil dentro das terras lusitanas. Essa situação obrigou a Coroa Portuguesa a começar efetivamente a colonização do Brasil. Os primeiros colonos portugueses começaram a chegar ao Brasil em maior número após 1530. A colônia foi dividida em capitanias hereditárias e as terras foram divididas entre nobres lusitanos. Para promover a colonização desses grandes lotes de terra, a Coroa Portuguesa passou a incentivar a ida de colonos para o Brasil, que recebiam sesmarias e tinham um prazo de tempo para desenvolver a produção.
Nesse período, vieram para o Brasil portugueses de todos os tipos: desde o rico fazendeiro, passando por aventureiros, prostitutas, mulheres órfãs, degredados e empresários falidos. O foco da imigração foi a Região Nordeste do Brasil, já que as plantações de cana-de-açúcar estavam em pleno desenvolvimento. Essa imigração colonizadora ficou marcada pela masculinidade da população: as mulheres portuguesas raramente imigravam, pois na Europa o Brasil possuía a imagem de uma terra selvagem e perigosa, onde apenas os homens poderiam sobreviver. No Nordeste brasileiro nasceu uma sociedade açucareira rígida, formada pelo colono português e seus escravos africanos. Para suprir a falta de mulheres portuguesas, a Coroa Portuguesa passou a enviar para o Brasil mulheres órfãs que, ao invés de seguirem o caminho religioso, iam se casar no Brasil. Todavia, os esforços não foram suficientes e a miscigenação ocorreu em larga escala: as mulheres indígenas e africanas acabaram por substituir a falta das mulheres portuguesas.
Em sua maior parte de forma discreta, desembarcaram na colônia judeus, muitos cristãos-novos e ciganos.
[editar] Imigração de transição (1700-1850)
A partir do século XVIII, a imigração portuguesa no Brasil alcança cifras jamais vistas. Os fatores para esse crescimento imigratório foram: a descoberta de ouro nas Minas Gerais, a superpopulação de Portugal devido ao crescimento da população, e o aprimoramento dos meios de transporte aquáticos. No início do século XVIII, as minas de ouro tornaram-se a principal economia da colônia. O desenvolvimento e riqueza trazida pelo ouro atraiu para o Brasil um grande contingente de colonos portugueses em busca de riqueza. Nessa época, surge o mineiro, que era o colono português que enriqueceu no Brasil graças ao ouro.
O surto urbano que se deu na colônia graças à mineração fez crescer as ofertas de emprego para os portugueses. Antes, os colonos eram quase que exclusivamente rurais, dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, mas agora surgiriam profissões como de pequenos comerciantes.
A maior parte da imigração foi de pessoas originárias do Minho, que estava superpovoado. De início, a Coroa Portuguesa incentivou a ida de minhotos pobres para o Brasil, onde se fixaram principalmente na região de Minas Gerais e na Região Centro-Oeste do Brasil, onde foram encontradas minas de ouro. Porém, a imigração tomou proporções altíssimas, e a Coroa passou a controlar a ida de portugueses para o Brasil. Pela vinda em larga escala de colonos, a língua portuguesa tornou-se dominante no Brasil em meados do século XVIII, em substituição ao tupi-guarani, ou língua geral.
Outro fator importante na imigração portuguesa durante o século XVIII foi a imigração açoriana para a Região Sul do Brasil. Essa colonização açoriana tornou-se o único foco de colonização de povoamento durante o Brasil colônia, já que para o resto do país chegavam colonos em busca de enriquecimento, e não de uma vida melhor, como foi o caso dos açorianos. Santa Catarina recebeu 4.612 pessoas em 1748, 1.666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753. Outros tantos rumaram para o Rio Grande do Sul. Esses colonos portugueses se fixaram ao longo do litoral, onde fundaram pequenas vilas e lugarejos, vivendo da produção de trigo e da pesca.
No início do século XIX, fugiram para o Brasil a Família Real Portuguesa, fixando-se no Rio de Janeiro, em 1808, após a invasão de Napoleão. Chegaram ao Brasil 15 mil nobres e pessoas da alta-sociedade portuguesa naquele ano.
[editar] Imigração de massa (1850-1960)
Com a decadência da mineração, no final do século XVIII, a imigração portuguesa teve uma queda, mas voltou a crescer no início do século XIX com a vinda da monarquia portuguesa. Após a Independência do Brasil, em 1822, criou-se no país uma certa xenofobia contra os portugueses, ficando a imigração decaída. Mas, com o passar do tempo, o fluxo de imigrantes portugueses para o Brasil, ao invés de diminuir, cresceu drasticamente. Em grande parte, isto se deve ao fim do tráfico de escravos africanos em 1850. Com o fim do tráfico, adveio uma carência de mão-de-obra no Brasil, e ao mesmo tempo ocorreu a expansão das plantações de café no país, necessitadas de trabalhadores. O governo brasileiro começou um processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado de imigrantes europeus.
A partir da metade do século XIX, a imigração portuguesa no Brasil tomou caráter quase que exclusivamente urbano e, ao contrário dos imigrantes alemães e italianos que estavam sendo mandados para trabalharem na agricultura, os portugueses passaram a rumar para dois destinos preferenciais: as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Uma expressiva parcela dessa população era oriunda de regiões interioranas do norte de Portugal, notadamente entre Beira Alta e Alto Trás-os-Montes e eram, em sua maioria, extremamente pobres, vindos em família, com grande número de mulheres e crianças. Ao chegarem no Brasil, procuravam parentes ou se instalavam em pequenos cortiços. A maior parte desses imigrantes se dedicaram ao comércio: pequenas vendas e padarias, chegando ao ponto de dominarem essas duas atividades em várias regiões do Brasil. Outros, tornaram-se operários nas nascentes indústrias brasileiras.
[editar] Imigração de declínio (1960-2000)
A partir década de 1930, não apenas a imigração portuguesa no Brasil, mas todas de uma maneira geral caíram, e isso se deve ao Brasil já não mais precisar de imigrantes para abraçarem a agricultura e as fábricas, pois os nacionais já supriam a demanda. Nesta década, o presidente brasileiro Getúlio Vargas criou uma lei que controlava a entrada de imigrantes no Brasil ("Lei de Cotas de Imigração"), à qual apenas os portugueses não estavam sujeitos. As várias décadas que durou o salazarismo contribuíram para uma grande vinda de portugueses para o Brasil. Essa imigração durou até meados da década de 1960. A partir de então, os portugueses passaram a pouco se interessar em atravessar o Oceano Atlântico e passaram a ir cada vez mais para outros países europeus, como a França. De tal modo, a secular imigração portuguesa para o Brasil tornou-se pequena.
[editar] A imigração portuguesa em números
Imigração portuguesa para o Brasil (1500-1991) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) |
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Décadas | Número de imigrantes | |||||||
1500-1700 | 100.000 | |||||||
1701-1760 | 600.000 | |||||||
1808-1817 | 24.000 | |||||||
1827-1829 | 2.004 | |||||||
1837-1841 | 629 | |||||||
1856-1857 | 16.108 | |||||||
1881-1900 | 316.204 | |||||||
1901-1930 | 754.147 | |||||||
1931-1950 | 148.699 | |||||||
1951-1960 | 235.635 | |||||||
1961-1967 | 54.767 | |||||||
1981-1991 | 4.605 |
[editar] Identidade luso-brasileira
Os portugueses constituirão a população mais significativa na criação do Brasil. No entanto, a proximidade entre ambas as culturas torna relativamente fácil a integração de portugueses no Brasil. Somando-se a isto o corte, a nível cultural, efectuado com a ex-metrópole após a Independência do Brasil (a cultura portuguesa seria diminuída em prol do nascimento e desenvolvimento da cultura brasileira), muitos descendentes de portugueses no Brasil, ou luso-brasileiros não têm ou não querem ter grande contacto com a cultura de Portugal, ao contrário do que se sucede com outros grupos, como os nipo-brasileiros ou ítalo-brasileiros, que sentem ainda grande ligação com a terra de origem.
Algumas estimativas indicam que 35 milhões de brasileiros descendem de portugueses chegados ao Brasil após 1850. O número de luso-descendentes será significativamente maior, se se considerar o número de brasileiros que terão ascendência em portugueses chegados antes de 1850.
De notar que até esta data, aproximadamente, houve intensa miscigenação com índios e africanos, e após esta data com alemães e italianos, entre outros grupos.
Moram no Brasil aproximadamente 500.000 pessoas com nacionalidade portuguesa. Esta população imigrou para o Brasil, na sua maioria, entre 1930 e 1960. Hoje em dia, e cada vez mais, se nota um aumento significativo de portugueses que compram propriedades no Brasil, sobretudo no Nordeste. Estes portugueses dedicam-se sobretudo ao turismo. Este é um fenómeno extremamente recente.
[editar] Quantos brasileiros possuem ascendência portuguesa?
Não existem números concretos sobre o número de brasileiros com ascendência portuguesa. Dada a antiga imigração portuguesa ao Brasil, remontando o século XVI, seria impossível obter um número concreto.
Se analisarmos a população branca no Brasil no ano de 1872, obtemos o número de 3,7 milhões. Por fatores históricos, quase a totalidade dessa população seria de origem portuguesa, tendo em vista que a imigração de outros cidadãos europeus para o Brasil (italianos, principalmente) só começou após o ano de 1875. A população mulata (ou seja, mestiça de português com africano) rondava as 4 milhões de pessoas, totalizando 7,7 milhões de brasileiros com alguma ascendência portuguesa no ano de 1872. Hoje, seus descendentes são encontrados aos milhões.
De 1870 a 1990, imigraram para o Brasil aproximadamente 1.500.000 portugueses [1], número semelhante ao de imigrantes italianos. Hoje, os brasileiros descendentes desses imigrantes portugueses são aproximadamente 25 milhões, embasado no número de descendentes de italianos [2].
Todavia, apenas 15% da população do Brasil se considera de origem portuguesa [3], o que mostra que a maior parte dos brasileiros desconhecem sua origem portuguesa e apenas uma ínfima parcela dessa população, algo em torno de 500 mil pessoas, possui efetivamente cidadania portuguesa.