Prússia
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A Prússia (Prūsa, em prussiano antigo; Preußen, em alemão; Prusy, em polonês; Prūsai, em lituano; Borussia, em latim) foi, no contexto histórico mais recente, um Estado que surgiu a partir da Prússia Oriental e que, ao longo de séculos, exerceu forte influência sobre a história da Alemanha e da Europa. A última capital da Prússia foi Berlim.
O termo Prússia teve diversos significados ao longo da história:
- A terra dos prussianos bálticos (naquilo que hoje é parte do sul da Lituânia, o distrito russo de Kaliningrado e o nordeste da Polónia);
- O Estado soberano governado pelos Cavaleiros Teutónicos;
- Parte das terras da coroa polaca chamadas Prússia Real;
- Um feudo governado pela Casa de Hohenzollern, conhecido como Prússia Ducal, de início vassalo da Polónia, posteriormente de Brandemburgo;
- Todo o reino dos Hohenzollern, seja dentro ou fora de território de língua alemã;
- Um Estado independente, de 1701 até 1871 - o Reino da Prússia, que foi o maior dos Estados que constituíram o Império Alemão;
- A maior unidade territorial e administrativa dentro do Império Alemão, da República de Weimar e do Terceiro Reich, desde 1871 a 1945.
A Prússia, como Estado, foi abolida de facto pelos nazistas em 1934 e de iure pelos Aliados em 1947. A partir de então, o uso do termo limita-se aos contextos históricos, geográficos e culturais.
O nome Prússia é derivado dos antigos prussianos, um povo báltico aparentado com os lituanos. A Prússia Ducal (um feudo na Prússia Oriental, controlado pela Ordem Teutônica e vassalo do rei polonês, resultante de uma guerra entre a Ordem e a Polônia) manteve-se como uma dependência do Reino da Polônia até 1660. A Prússia Real (uma província polonesa na Prússia Ocidental, resultante da Guerra dos Treze Anos contra a Ordem Teutônica) continuou a integrar a Polônia até 1772. Com o recrudescimento do nacionalismo cultural alemão entre o final do século XVIII e o princípio do XIX, a maioria dos prussianos de língua alemã passou a considerar-se parte da nação germânica, professando as chamadas virtudes prussianas: organização perfeita, sacrifício, o Estado de direito, obediência à autoridade e militarismo. A partir do século XVIII, a Prússia expandiu-se e veio a dominar o norte da Alemanha política e economicamente, bem como em termos populacionais, e constituiu o cerne da Confederação da Alemanha do Norte, criada em 1867 e transformada em 1871 no Império Alemão.
Em português, registram-se também as formas Brússia ou Brúsia (alt. a Prússia) e brússios ou brúsios (alt. a prussianos). O gentílico mais utilizado hoje para a Prússia é prussiano. O dicionário Aurélio registra o termo prussiano antigo, língua extinta pertencente ao grupo báltico, do ramo balto-eslavo.
[editar] História remota
Em 1226, Conrado da Mazóvia convidou a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, à época instalados na Transilvânia, a conquistar as tribos prussianas nas suas fronteiras. Ao longo de sessenta anos de lutas contra os prussianos, os cavaleiros criaram um Estado semi-independente que passou a controlar o que viria a chamar-se Prússia, bem como o que são hoje a Estônia, a Letônia, a Lituânia e a parte setentrional da Polônia. A partir de 1466, uma derrota militar forçou-os a reconhecer a soberania do rei da Polônia e Lituânia. Em 1525, o Grão-Mestre da Ordem converteu-se ao luteranismo e transformou parte dos territórios sujeitos aos cavaleiros no Ducado da Prússia, o primeiro Estado protestante.
O território do Ducado limitava-se, na época, a uma área a leste da foz do rio Vístula, próximo à atual fronteira entre a Polônia e o enclave russo de Kaliningrado. Em 1618, herdou o Ducado o Eleitor João Sigismundo de Brandemburgo, da família Hohenzollern, governando-o desde Berlim juntamente com o território de Brandemburgo. Para os Hohenzollern, o recém-adquirido Estado era de grande importância, pois não pertencia ao Sacro Império Romano-Germânico. O novo Estado, que passou a ser conhecido como Brandemburgo-Prússia, embora estivesse dividido em duas porções separadas por território polonês, saiu paulatinamente da órbita do Reino da polônia. Sob Frederico Guilherme, chamado "o Grande Eleitor", a Prússia recebeu diversos territórios, como Magdeburgo e os enclaves a oeste do Reno.
[editar] O Reino da Prússia
Em 1701, Brandemburgo-Prússia tornou-se o Reino da Prússia, sob Frederico I, com a permissão do Sacro Imperador Romano e do Eleitor Saxão Augusto, o Forte, rei da Polônia. Mais tarde, com Frederico II (Frederico, o Grande), a Prússia tomou à Áustria a província da Silésia, derrotando-a na Guerra dos Sete Anos, concluída em 1763. A Prússia emergiu do conflito como a potência dominante no leste da Alemanha, acrescentando territórios em outras áreas germânicas por meio de casamentos e herança, inclusive a Pomerânia e a costa do Báltico.
Durante este período estabeleceu-se a grande máquina militar prussiana e uma eficiente burocracia estatal, instituições que viriam a formar as bases do Estado alemão até 1945. A Prússia expandiu-se em direção ao leste durante o colapso da monarquia polonesa, entre 1772 e 1795, chegando até mesmo a Varsóvia.
Frederico Guilherme II levou a Prússia à guerra contra a França revolucionária em 1792, mas foi derrotado em Valmy e viu-se forçado a ceder seus territórios ocidentais para os franceses. Frederico Guilherme III reiniciou o conflito, mas o desastre sofrido em Jena fez com que se retirasse da guerra, após ceder ainda mais território com o Tratado de Tilsit.
Em 1813, a Prússia repudiou o tratado e voltou à guerra contra a França napoleônica. Como recompensa, o Congresso de Viena de 1815 devolveu-lhe os seus territórios perdidos e entregou-lhe toda a Renânia e a Vestfália, além de outras áreas. Estas regiões ocidentais viriam a ser de importância vital, pois incluíam o vale do Ruhr, centro da promissora industrialização alemã, em especial as indústrias de armamento. Os ganhos territoriais dobraram a população governada pela Prússia, que saiu das guerras napoleônicas como a potência hegemônica inconteste da Alemanha, sobrepujando a sua rival, a Áustria, que havia desistido da coroa imperial em 1806. Em troca, a Prússia retirou-se de áreas da Polônia central de modo a permitir que o Congresso de Viena criasse um Reino da Polônia vinculado à Rússia.
A primeira metade do século XIX assistiu a um embate prolongado na Alemanha entre as forças do liberalismo, que queriam uma Alemanha federal unida sob uma constituição democrática, e as forças do conservadorismo, que desejavam mantê-la como um conjunto de fracos Estados independentes e palco da competição entre Prússia e Áustria. Em 1848, os liberais tiveram a sua chance quando revoluções eclodiram através da Europa. Um preocupado Frederico Guilherme IV concordou em convocar uma Assembléia Nacional e outorgar uma constituição. Mas quando o Parlamento de Frankfurt ofereceu-lhe a coroa de uma Alemanha unificada, Frederico Guilherme recusou-a, ao argumento de que assembléias revolucionárias não estariam habilitadas a conceder títulos de realeza. A Prússia obteve uma constituição semi-democrática, mas o poder das classes proprietárias de terras (os Junkers) permanecia incólume, especialmente no leste.
[editar] A Prússia Imperial
- Artigo principal: Unificação da Alemanha.
Em 1862, o Rei Guilherme I nomeou Otto von Bismarck, um junker, Primeiro-Ministro da Prússia. Bismarck estava decidido a derrotar tanto os liberais como os conservadores, por meio da criação de uma Alemanha unida e forte, mas sob o controle da classe dominante e da burocracia prussianas. Logrou seus objetivos com três guerras sucessivas, com a Dinamarca em 1864 (Guerra dos Ducados), que deu à Prússia o Schleswig-Holstein, com a Áustria em 1866 (Guerra Austro-Prussiana), que lhe trouxe Hanôver e a maioria dos territórios setentrionais alemães que haviam tomado o partido austríaco, e com a França em 1870 (Guerra Franco-Prussiana), que forçou Mecklemburgo, Baviera, Baden, Württemberg e Saxônia a aceitar a incorporação a um Império Alemão unificado (com a exclusão da Áustria), cujo Imperador (Kaiser) seria o próprio Guilherme.
A Prússia continuou a existir como a mais poderosa província do Império Alemão. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a República de Weimar viu-se forçada a abrir mão de territórios prussianos a leste, de maneira a permitir a reconstituição da Polônia. A Prússia Oriental permaneceu sob controle alemão, mais uma vez separada do restante do país pelo Corredor Polonês. Mesmo assim, a Prússia ainda representava 60% do território alemão. Em 1934, o governo nazista cancelou a autonomia dos estados alemães, embora de iure o estado prussiano continuasse a existir até o final da Segunda Guerra Mundial.
Com a ocupação soviética, todos os territórios alemães a leste da linha Oder-Neisse, inclusive a Silésia, a Pomerânia, Brandemburgo Oriental e a Prússia Oriental, foram entregues à Polônia (o terço setentrional da Prússia Oriental, que incluía Königsberg, hoje Kaliningrado, passou à União Soviética). Algo como dez milhões de alemães fugiram ou foram expulsos daqueles territórios. Este êxodo e a nacionalização da terra pelo governo comunista da Alemanha Oriental destruíram os Junkers como classe social e poder político. A Prússia foi formalmente abolida em 1947 por uma proclamação das quatro potências de ocupação. Na zona soviética, os territórios prussianos foram reorganizados nos estados de Brandemburgo e Saxônia-Anhalt; parte da Pomerânia passou ao estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Nas zonas ocidentais de ocupação, os territórios prussianos foram partilhados entre a Renânia do Norte-Vestfália, a Baixa Saxônia, o Hessen, a Renânia-Palatinado e o Schleswig-Holstein.