César (título)
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César (plural Césares), em latim: Cæsar (plural Cæsares), é um título imperial. Deriva do cognomen de Caio Júlio César, o ditador de Roma. A transformação do nome de família em título imperial pode ser datada aproximadamente em 68 / 69 d.C., o chamado "Ano dos Quatro Imperadores".
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[editar] Raiz onomástica
César significa "cabeludo", o que sugere que os Júlios Césares, um dos ramos da gens Júlia, eram conhecidos pelas suas fartas cabeleiras (em contrapartida, dado o sentido de humor romano, podia também significar que os Júlios Césares eram conhecidos por serem carecas). O primeiro imperador, César Augusto, usava o nome porque este lhe competia, uma vez que fora adoptado postumamente por César no seu testamento, e de acordo com a nomenclatura romana o seu nome mudou para "Caio Júlio César Octaviano".
[editar] Imperador romano
Por motivos políticos e pessoais Octaviano decidiu realçar a sua ligação familiar a César, intitulando-se apenas "Imperator Caesar" (ao que o Senado acrescentou o título honorífico de Augustus, "majestoso" ou "venerável", em 26), sem referir qualquer outro dos seus nomes. O seu sucessor como imperador, o seu enteado Tibério, também usava o nome por ser o seu; nascido Tibério Cláudio Nero, foi adoptado por César Augusto em 26 de Junho de 4, tornando-se "Tibério Júlio César". O precedente estava estabelecido: o imperador designava o seu sucessor adoptando-o e dando-lhe o nome "César".
O quarto imperador, Cláudio, foi o primeiro a envergar a púrpura e a tomar o nome "César" sem o ser por motivos familiares (era, no entanto, membro da dinastia Júlia-Cláudia). O primeiro a subir ao trono e a adoptar o nome sem ter qualquer direito a nenhum destes foi o usurpador Sérvio Sulpício Galba, que se auto-intitulou "Servius Galba Imperator Caesar" a seguir à morte do último dos Júlios-Cláudios, Nero, em 68; ajudou também a consolidar "César" como o título do herdeiro atribuindo-o ao seu próprio herdeiro, (que adoptou), Lúcio Calpúrnio Pisão Frugi Liciniano.
O reinado de Galba não foi longo, e acabou rapidamente deposto por Marco Otão, o qual foi por sua vez derrotado por Aulo Vitélio, intitulado "Aulus Vitellius Germanicus Imperator Augustus"; é de notar que Vitélio não adoptou imediatamente o nome "César", e é possivel que tenha querido substituí-lo por "Germânico" (nome que atribuiu ao seu próprio filho nesse mesmo ano).
Ainda assim, César tornara-se de tal modo parte integrante da dignidade imperial que foi imediatamente restaurado por Tito Flávio Vespasiano, o qual, ao derrotar Vitélio em 69 pôs fim ao período de instabilidae e fundou a dinastia dos Flávios. O filho de Vespasiano, Tito Flávio Vespasiano tornou-se "Tito César Vespasiano".
[editar] Título dinástico menor
Nesta época, o estatuto de "Caésar" fora regularizado como sendo o título concedido ao sucessor designado do imperador (junto, ocasionalmente, com o título honorífico Princeps Iuventutis, "Príncipe da Juventude") e conservado após a subida ao trono (por exemplo, Marco Úlpio Trajano tornou-se o herdeiro de Marco Cocceio Nerva como César Nerva Trajano em Outubro de 97 e subiu ao trono a 28 de Janeiro de 98 como "Imperator Caesar Nerva Traianus Augustus"). Depois de algumas variações na época dos primeiros imperadores, a forma de empregar os nomes do sucessor dsignado era (nomes) César antes da subida ao trono e Imperator César (nomes) Augusto depois da subida ao trono; começando com Marco Aurélio Severo Alexandre, tornou-se comum designar o sucessor ao trono imperial como (nomes) Nobilissimus Caesar em vez de simplesmente (nomes) Caesar.
O uso de César pelo parceiro júnior de um consórcio imperial verificou-se naturalmente em "impérios" separatistas, desejosos de imitar o original romano. Por exemplo, o último imperador gaulês, Tétrico I, concedeu o título ao filho, Tétrico II.
A 1 de Março de 293, Caio Aurélio Valério Diocleciano instituiu a Tetrarquia, um sistema de governo de dois imperadores sénior e dois sub-imperadores júnior. Os dois imperadores sénior eram identificados da mesma forma que os antigos imperadores, como Imperator Caesar (nomes) Pius Felix Invictus Augustus (Heliogábalo introduzira a expressão Pius Felix, "Piedoso e Abençoado", enquanto Caio Júlio Vero Maximino "Trax" introduziu o uso de Invictus, "Invicto"), e eram chamados os Augustos, enquanto os dois imperadores júnior usavam os títulos dos sucessores imperiais anteriores, (nomes) Nobilissimus Caesar. Do mesmo modo, os imperadores júnior conservavam o título de César ao ascenderem ao trono.
- A Tetrarquia foi rapidamente abandonada como sistema (embora os quatro quartos do império permanecessem sob a designação de prefeituras pretorianas, e o sistema anterior de imperador/sucessor designado foi restaurado, tanto no Ocidente latino (caesar) quanto no Oriente helénico (kaisar); o colapso do Império Romano do Ocidente fez "César" cair em desuso (embora os Sacros Imperadores Romano-Germânicos se chamassem Kaiser em alemão, os seus títulos correctos em latim eram, normalmente, imperator augustus, sem caesar), e a maior parte das línguas faladas no Ocidente usam derivados de imperator para designar "imperador". De facto, na história mais recente a palavra imperator veio a substituir o significado original de imperator em latim.
No Oriente, o kaisar ganhou uma coroa (sem cruz) e era inferior no protocolo em relação ao Patriarca de Constantinopla; em resultado disso, o título passou a ser visto como mais adequado para um príncipe da família imperial, para um regente ou para um sucessor ao trono(os sucessores era normalmente coroados co-imperadores duranteos reinados dos seus antecessores). A proliferação de "Césares" levou Aleixo I Comneno a criar o título superior de sebastokratôr (significando "senhor majestoso", conjugando sebastos e autokratôr, os sinónimos em grego de augustus e de imperator) para o seu irmão Isaac. Quer "Kaisar" quer "Sebastocratôr" foram "despromovidos" quando Manuel I Comneno introduziu despotes como´título superior; ao contrário do César e do Sebastocrata, o déspota acrescentava significado administrativo ao seu grau protocolar.
[editar] Legado
A história de "César" como título imperial é reflectida pelos seguintes títulos monárquicos, normalmente reservados para "Imperador" e "Imperatriz" em muitas línguas (note-se que o nome César, pronunciado Sé-zár em português, era pronunciado cai-ssár em latim clássico):
Línguas germânicas:
- Dinamarquês: Kejser & Kejserinde;
- Holandês: Keizer & Keizerin;
- Alemão: Kaiser & Kaiserin;
- Islandês: Keisari & Keisaraynja;
- Norueguês: Keiser & Keiserinne;
- Sueco: Kejsare & Kejsarinna
Línguas eslavas e bálticas:
- Bielorusso: Tsar & Tsarytsa; contudo, no império russo (o que se reflectiu em algumas das suas línguas), que se intitulava a "terceira Roma" por ser sucessor do império bizantino, caiu em desuso (não nas traduções em línguas estrangeiras, porém) como título imperial - a favor de Imperator e de Autocrator- e usado como título mais baixou, real, para governantes de partes do império, v.g. a Geórgia ou a Sibéria.
- Búlgaro: Tsar & Tsaritsa;
- Servo-Croata: Car & Carica (c lê-se ts);
- Checo: Císař & Císařovna;
- Letão: Keizars & Keizarienne;
- Polaco: Cesarz & Cesarzowa;
- Russo: Czar & Czaritsa
- Eslovaco: Cisár & Cisárovná;
- Esloveno: Cesar & Cesarica;
- Ucraniano: Tsar & Tsarytsya
Outras línguas:
- Árabe: Qaysar - قيصر
- Estónio: Keiser & Keisrinna;
- Finlandês: Keisari & Keisarinna;
- Hebraico: Keisár & Keisarít;
- Húngaro: Császár & Császárnő;
- Turco: Kayser-i-Rûm "César de [Constantinopla, a segunda] Roma", um de muitos títulos secundários que proclamavam o Sultão otomano (cujo título principal era Padixá) como sendo o sucessor (muçulmano) de "Rum", (o império bizantino para os Turcos e aquilo que os bizantinos chamavam a si mesmos), continuando a usar o nome para parte do território conquistado ao bizantinos (comparar com o sultanato do Seljúcidas de Rum).
Há outros casos em que um nome próprio se tornou um título, como no nome em latim de Carlos Magno -incluindo o epíteto- Carolus (magnus), que se tornou no título "Rei" nas línguas eslavas: Kralj (Servo-Croata), Král (Checo) e Krol (Polaco), etc.
[editar] Ver também
- Caesaropapismo
[editar] Fontes e referências
(incompletas)
- Pauly-Wissowa