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Esquizofrenia - Wikipédia

Esquizofrenia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Esquizofrenia
Classificações e recursos externos
Eugene Bleuler deu nome à Esquizofrenia, desordem que era conhecida anteriormente como dementia praecox
CID-10 F20.
CID-9 295
OMIM 181500
DiseasesDB 11890
eMedicine med/2072  emerg/520
MeSH F03.700.750

A esquizofrenia é uma doença mental grave que se carateriza classicamente por uma colecção de sintomas, entre os quais avultam alterações do pensamento, alucinações (sobretudo auditivas), delírios, embotamento emocional, com perda de contacto com a realidade, causando um disfuncionamento social crónico.

É hoje encarada não como uma doença única mas sim como um grupo de patologias, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos.

A sua prevalência atinge 1% da população mundial, manifestando-se habitualmente entre os 15 e os 25 anos, nos homens, e nas mulheres entre os 25 e os 30 anos de idade, podendo igualmente ocorrer na infância ou na meia-idade.

Um exemplo de um esquizofrênico famoso é o matemático americano John Forbes Nash, que fez importantes contribuições na área da economia, biologia e teoria dos jogos.


Índice

[editar] Sintomas

A esquizofrenia é uma doença funcional do cérebro que se caracteriza essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas. Embora primariamentre uma doença que afeta os processos cognitivos, os seus efeitos repercutem-se também no comportamento e nas emoções.

Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário, manifestar-se de forma explosiva e instantânea.

Estes podem ser divididos em duas grandes categorias: sintomas positivos e negativos.

[editar] Sintomas positivos

Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença e são as perturbações mentais "muito fora" do normal, como que “acrescentadas” às funções psicológicas do indivíduo. Entende-se como sintomas positivos os delírios — ideias delirantes, pensamentos irreais, “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo2, por exemplo, um indivíduo que acha que está a ser perseguido pela polícia secreta, e acha que é o responsável pelas guerras do mundo; as alucinações, percepções irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade.

[editar] Causas

Sabe-se actualmente que não existe uma única causa, mas sim várias que concorrem entre si para o seu aparecimento, sendo muitas as teorias que surgiram para explicar esta doença:

[editar] Teoria genética

A teoria genética admite que vários genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os factores ambientais para o eclodir da doença. Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família. "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes directos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%"9. No entanto, mesmo na ausência de história familiar, o doença pode ainda ocorrer.”2. Segundo Gottesman (1991), referenciado por Pedro Afonso (2002), sabe-se ainda que cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afectado.

[editar] Teoria neurobiológica

As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção dopaminérgica, embora alterações noutros neurotransmissores estejam também envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) actua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor . Exactamente por isso, alguns sintomas característicos da esquizofrenia podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a actividade dopaminérgica (ex: anfetaminas)6. Esta teoria é parcialmente comprovada pelo facto de a maioria dos fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia (neurolépticos) actuarem através do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina.

[editar] Teoria psicanalítica

As teorias psicanalíticas (ou de relação precoce) têm como base a teoria freudiana da psicanálise, e remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico, na qual “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebé conduz igualmente a personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações11. A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia.

[editar] Teoria familiar

As teorias familiares, apesar de terem bastante interesse histórico, são as que menos fundamento cientifico têm. Surgiram na década de 1950, baseadas umas no tipo de comunicação entre os vários elementos das famílias e aparecendo outras mais ligadas às estruturas familiares. Dos estudos desenvolvidos surge o conceito «mãe esquizofrenogénica», mães possessivas e dominadoras com seus filhos, como gerador de personalidades esquizofrénicas. Estudos posteriores vieram contudo desconfirmar esta hipótese, relacionando aquele comportamento mais com etiologias neuróticas e não com a psicose.

Apesar de existirem todas estas hipóteses para a explicação da origem da esquizofrenia, nenhuma delas individualmente consegue dar uma resposta satisfatória às muitas dúvidas que existem em torno das causas da doença, reforçando assim a ideia de uma provável etiologia multifactorial .

[editar] Sintomas negativos

Os sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição das capacidades mentais, ”acompanham a evolução da doença e reflectem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais”2, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento.

Estes sinais não se manifestam todos no indivíduo esquizofrénico. Algumas pessoas vêem-se mais afectadas do que outras, podendo muitas vezes ser incompatível com uma vida normal. A doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões.

Não há, contudo, sinais nem sintomas patognomónicos da doença, podendo-se de alguma forma fazer referência a um quadro prodrómico que são em grande parte sintomas negativos, como por exemplo inversão do ciclo de sono, isolamento, perda de interesse por actividades anteriormente agradáveis, apatia, descuido com a higiene pessoal, ideias bizarras, comportamentos poucos habituais, dificuldades escolares e profissionais, entre outras. Posterior a esta fase inicial surge os sintomas positivos6.

Diz-se que os primeiros sinais e sintomas de esquizofrenia são insidiosos. O primeiro sintoma de sossego/calma e afastamento, visível num adolescente normalmente passa despercebido como tal, pois remete-se o facto para “ é uma fase”. Pode inclusivamente ser um enfermeiro de saúde escolar ou um conselheiro a começar a notar estas mudanças. (…) É importante dizer-se que é muito fácil interpretar incorrectamente estes comportamentos, associando-os à idade.11.

[editar] Tipos de esquizofrenia

O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com a maior parte das doenças do foro psiquiatrico, não se pode efectuar através da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da observação clínica cuidada das manifestações da doença ao longo do tempo. Aquando do diagnóstico, é importante que o médico exclua outras doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos semelhantes (abuso de drogas, epilepsia, tumor cerebral, alterações metabólicas). O diagnóstico da esquizofrenia é por vezes difícil. Para além do diagnóstico, é importante que o médico identifique qual é o subtipo de esquizofrenia em que o doente se encontra. Actualmente, segundo o DSM IV, existem cinco tipos:

Paranóide, é a forma que mais facilmente é identificada com a doença, predominando os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um delírio paranóide relativamente bem organizado. Os doentes com esquizofrenia paranóide são desconfiados, reservados, podendo ter comportamentos agressivos.

Desorganizado, em que os sintomas afectivos e as alterações do pensamento são predominantes. As ideias delirantes, embora presentes, não são organizadas. Nalguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade marcada associada a comportamentos agressivos. Existe um contacto muito pobre com a realidade.

Catatónico, é caracterizada pelo predomínio de sintomas motores e por alterações da actividade, que podem ir desde um estado de cansaço e acinético até à excitação.

Indiferenciado, apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nestes doentes uma certa apatia e indiferença relativamente ao mundo exterior.

Residual, nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos, os doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afectivo e uma pobreza ao nível do conteúdo do pensamento.

Existe também a denominada Esquizofrenia Hebefrênica, com incidência da adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuizos cognitivos e sócio-comportamentais.

Estes subtipos não são estanques, podendo um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de algum tempo poder reunir critérios de outro subtipo.

Existem várias abordagens terapêuticas na intervenção ao doente esquizofrénico, que na maioria dos casos tem indicação de um tratamento interdisciplinar: o acompanhamento médico-medicamentoso, a psicoterapia, a terapia ocupacional (individual ou em grupos), a intervenção familiar e a psicoeducação são os procedimentos indicados para estes doentes.

Apesar de não se conhecer a sua cura, o tratamento pode ajudar muito a tratar os sintomas, e a permitir que os doentes possam viver as suas vidas de forma satisfatória e produtiva. A experiência clínica indica que o melhor período para o tratamento da esquizofrenia é com o aparecimento dos primeiros sintomas. Se sintomatologia psicótica permanecer sem tratamento por longos períodos o prognóstico do tratamento é menos favorável. Assim é vital o reconhecimento precoce dos sinais da esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida.

[editar] A interacção com pacientes

A doença mental é com frequência relacionada com o mendigo que deambula pelas ruas, que fala sozinho, com a mulher que aparece na TV dizendo ter 16 personalidade e com o homicida “ louco” que aparece nos filmes. Esta foi durante muitos anos sinónimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia, significava como destino “certo” os hospitais psiquiátricos ou asilos, onde os pacientes ficavam durante muitos anos.

Em muitos casos, os indivíduos com esquizofrenia foram crianças tímidas, introvertidas, com dificuldades de relacionamento e com pouca interacção emocional. As crianças apresentam ainda dificuldades ao nível da atenção e do comportamento. Durante a adolescência o isolamento vai se tornando cada vez maior e o rendimento escolar diminuindo. Estas modificações são frequentemente associadas à crise da adolescência. “Para o adolescente este é um período de confusão, sente-se desconcentrado, não sabe o que se está a passar com ele. O jovem começa a passar grandes períodos frente ao espelho a observar o seu corpo revelando a presença de alterações do seu esquema corporal que podem surgir associadas à vivência psicótica. Isto não acontece só ao nível do corpo, mas também na consciência de si próprio (perturbação da vivência do «eu») apresentando neste caso sentimentos de despersonalização.”2.

Uma crise psicótica pode ser precipitada por vários factores, como por exemplo, mudar de casa, perder um familiar, rompimento com um(a) namorado(a), entrar na universidade... Neste tipo de doença, é raro o indivíduo ter consciência de que está realmente doente, o que torna difícil a adesão ao tratamento.

Um dos maiores medos que a pessoa com esquizofrenia sente é o de ser estigmatizada por preconceitos sociais relativamente à sua doença, especialmente a ideia de que a pessoa é violenta, intrinsecamente perigosa, ideia essa que estudos recentes põem completamente de parte, mostrando que a incidência de comportamento violento nestes doentes e na população em geral é idêntico, se não mesmo inferior.

Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia12 (Jane).
As pessoas com esquizofrenia têm muitas vezes dificuldade em satisfazer as suas necessidades devido à sua doença12.

É importante que o processo de reabilitação seja um processo contínuo, para que possa ter sucesso, proporcionando uma maior qualidade de vida, maior autonomia e realização pessoal. Para atingir estes objectivos, foram criadas estruturas de apoio, os chamados equipamentos substitutivos (à estrutura manicomial) como os CAPS (Centros de Atenção psicossocial), Centros de Convivência, Oficinas, hospitais dia, serviços residenciais terapêuticos, empregos apoiados, fóruns sócio-ocupacionais.

Uma das grandes dificuldades destes doentes é a sua integração no mercado de trabalho, visto existir uma grande competitividade, levando a que muitos acabem por desistir. Daí ser relevante o acompanhamento destes no período de adaptação.

É bastante útil que o doente tenha conhecimentos sobre a doença e os seus sintomas e que tenha um papel activo no tratamento e controlo sobre a mesma. Sendo por isso vantajoso que estes sigam alguns cuidados, nomeadamente:

  • Permanecer fiel ao seu tratamento, se achar que a medicação não está a ajudar ou sentir efeitos não desejáveis deve avisar o médico
  • Ter o cuidado de conservar um ritmo de sono e vigília correcto, com as horas de sono necessárias
  • Evitar o stress
  • Deve manter rotinas normais, de higiene, alimentação, actividade em casa e no exterior
  • Evitar as drogas
  • Procurar ter horas para dormir, comer, trabalhar
  • Fixar um programa de actividades para cada dia
  • Permanecer em contacto com as outras pessoas
  • Manter o contacto com o psiquiatra/equipa de saúde mental
  • Praticar desporto pelo menos uma vez por semana.

Os doentes esquizofrénicos podem apresentar também sintomas depressivos, que nem sempre têm origem em aspectos biológicos ou neuroquímicos da doença. “O desapontamento e a desilusão vividos por alguns deste doentes perante os repetidos fracassos em manterem um emprego, em conseguirem voltar a estudar ou terem um grupo de amigos torna-se uma realidade incontornável.”2, levando a sentimentos de frustração. Um outro aspecto associado à depressão na esquizofrenia é a questão do suicídio, que pode ter origem em vários factores: o sofrimento psíquico associado à própria vivência psicótica, o aspecto crónico e recorrente da doença que afecta muitos jovens.

[editar] A família

A família é um sistema muito complexo, uma vez que não existem duas famílias iguais, é a principal unidade básica de desenvolvimento pessoal a que pertence um individuo e, igualmente o local onde se vivencia um conjunto de experiências fundamentais para a formação da sua personalidade. Desde sempre tem havido a consciência de que a família é uma estrutura social importante, que tem um impacto crucial no desenvolvimento e na saúde do indivíduo.

O conceito de família tem mudado ao longo dos tempos, acompanhando as mudanças económicas, culturais e religiosas no contexto onde se encontra inserida. Todas as famílias passam por várias crises durante o seu desenvolvimento, provocando uma série de mudanças nas suas funções, originando a aquisição de um maior ou menor grau da capacidade de reestruturação do seu modo de vida, estabelecendo-se um padrão próprio para lidar com a crise. Quando surge uma nova etapa ou um novo elemento, se esta família não tiver capacidade de se organizar, surgem então os conflitos.

Se a doença que surgir num dos membros da família for de foro da saúde mental, é vivida pelos familiares de forma mais dramática, originando uma situação de crise que modifica a estrutura habitual da família e o movimento natural do ciclo de vida familiar.

A esquizofrenia é uma doença que afecta profundamente a família, e aceitar que um familiar sofre desta doença leva o seu tempo. Na nossa sociedade ainda existe um grande estigma em volta das pessoas que sofrem de doenças mentais, não havendo um grande conhecimento sobre elas. Então, quando esta surge na família, estes não sabem como agir com o seu familiar, a quem recorrer, não compreendendo os comportamentos cada vez mais anormais, ficando por isso mais sujeitas as grandes pressões.

Não posso crer que isto me aconteceu. A doença mental era a sina do pobre, das pessoas em condições inferiores, não eu. Mesmo assim, fui a uma reunião do grupo de apoio – surpreendeu-me – onde havia famílias procedentes de todas as classes sociais, muitas delas em circunstâncias parecidas com as minhas.12 (Inge, uma mãe).

Quando um filho tem esquizofrenia, ele sofre e também sofre a família. Depois do diagnóstico da doença, é perfeitamente normal que surjam nas famílias sentimentos de culpa, de ressentimento, de raiva, de vergonha e de amargura. Num primeiro movimento tenta-se esconder a doença por causa do preconceito social. Quando a doença não passa e os sonhos se desfazem, a preservação da imagem não tem mais sentido porque a doença é mais grave que o preconceito. A perda da esperança surge com a tristeza e o sentimento de perda de vida, da perspectiva, do futuro daquele que adoeceu, tem de ser superado. Quando alguém na família adquire esquizofrenia é necessário que toda a família mude, se adapte para continuar a ser feliz apesar da dor.

A presença de uma pessoa com esquizofrenia em casa pode resultar em sobrecarga financeira, afetar o trabalho e a vida social dos membros da família e ser emocionalmente extenuante, especialmente quando há uma recaída.

Nem sempre a família lida bem com esta situação, acabando muitas vezes por negligenciar o seu familiar, chegando mesmo a desejar a morte deste. Tem medo de falar na doença, devido aos seus próprios estigmas, preconceitos e às reacções das pessoas. Tentativas de controlar o comportamento do doente, por críticas exageradas ou superprotecção, podem conduzir a recaídas do doente.

Nos anos 70, com o trabalho de Brown sobre as emoções expressas, a família passou a ser vista como um fator de grande relevância na evolução clínica do quadro. Estes autores procuraram avaliar o «ambiente familiar» das famílias destes doentes, utilizando para tal um questionário (Camberwell Family Interview) semi-estruturado, que deveria ser aplicado às famílias. Neste são então avaliadas três dimensões, que estão relacionadas com as recaídas:

  • Comentários críticos;
  • Hostilidade;
  • Sobre implicação emocional.

Estes estudos descreveram uma associação entre um nível elevado de emoção expressa pelos familiares e um aumento do número de recaídas dos doentes esquizofrénicos, em que esta emotividade expressa das famílias funciona como um fator de stress.

Dos vários estudos desenvolvidos posteriormente a estes, conclui-se que em familiares de doentes onde havia um alto nível de E.E (comentários críticos, hostilidade, rejeição ou sobreenvolvimento), os doentes recaíam com maior frequência. Num desses estudos “ 92% dos doentes com familiares com alto nível de E.E, recaíram em 9 meses, contra 15% de recaídas em doentes com familiares de baixo nível de E.E. (aceitação da doença e do doente)5.

Citando novamente Cotovio (1996), “um dos objectivos terapêuticos seria modificar os níveis negativos de E.E. através de Intervenções Psicopedagógicas com os familiares dos doentes com Esquizofrenia. Neste modelo das E.E. o objecto de estudo desloca-se da etiologia para a evolução, da causa para o percurso, entrando no domínio da prevenção da recaída, ao fazer diminuir os factores de risco.

Com a realização de intervenções familiares, de modo a reduzir a emotividade expressa destas, procura-se deste modo aproximar o psiquiatra da família, promovendo uma melhor comunicação entre os vários elementos da família. As intervenções familiares ajudam as famílias destes doentes a encontrar algumas respostas sobre a doença, a reformular expectativas mais realistas e a enfrentar a doença de uma forma mais encorajadora e positiva. É importante dar esperança à família, reforçando em relação ao prognóstico, que muitas pessoas que desenvolvem esquizofrenia podem melhorar e serem capazes de levar uma vida relativamente normal fora do hospital.

Não é produtivo dizer aos elementos da família que não devem ser críticos ou sobreenvolvidos. As pessoas simplesmente não conseguem deixar de se comportar de uma determinada maneira, só porque são aconselhadas a fazê-lo, particularmente se o seu comportamento assenta em emoções. No entanto, é importante que a família tenha em mente que deve proporcionar uma atmosfera calma em vez de argumentativa, com atitudes previsíveis em vez de inconsistentes, com apoio e tolerância para com o doente, em vez de rejeição.

Para que a família possa caminhar ao lado do doente, e não no sentido contrário, é imprescindível que os vários elementos da família respeitem as necessidades de cada um, devem decidir que tipo de comportamento é inaceitável e devem ser capazes de impor esses limites. Quando é um dos elementos do casal, é importante manter um equilíbrio de poder entre eles, ajustar os papéis dos membros da família para que o doente possa encontrar uma área de competência que contribua para o bem-estar da família, assegurar que o outro membro do casal possa ter um tempo para si.

O stress pessoal é algo que frequentemente se desconhece. A pessoa doente converte-se numa prioridade e esquecemo-nos das nossas próprias necessidades. As tarefas do dia-a-dia envolvidas no cuidado de um familiar (crises repentinas, preocupação, problemas financeiros, (…)) consomem-nos e alteram o nosso carácter. Ocasionalmente, por fim chega o esgotamento por stress e isto pode conduzir-nos a uma depressão, ansiedade, esgotamento e a doenças psicossomáticas.12 (Smith).

O papel ativo da família é essencial para o tratamento, reabilitação e reinserção social do seu familiar que sofre de esquizofrenia. Muitas famílias procuram o apoio junto aos técnicos de saúde, permitindo assim que estas superem e sobrevivam às dificuldades que encontram; no entanto, há aquelas que não o fazem, levando ao seu adoecimento, ou seja, não conseguem lidar com as crises, conduzindo à sua desestruturação ou destruição.

A família deve estar preparada para o fato do doente poder ter recaídas ao longo do tempo, o que pode conduzir a um possível internamento hospitalar. É bastante importante o apoio da família ao doente durante o tempo da sua permanência no hospital, através de reforço positivo, comunicação, visitas, mostrar interesse em saber como vai a evolução da sua doença.

É natural que muitas dúvidas surjam na família em relação ao comportamento que vão ter de adotar perante esta nova etapa da vida do seu familiar. Em primeiro lugar é importante que o familiar comece por se colocar no lugar da outra pessoa.

Os problemas que geralmente ocorrem na família do esquizofrénico são os seguintes:

  • Medo… “Ele poderá fazer mal a si ou às outras pessoas?”
  • Negação da gravidade… “Isso daqui a pouco passa”
  • Incapacidade de falar ou pensar noutra coisa que não seja a doença… “Toda a nossa vida gira em torno do nosso filho doente”
  • Isolamento social… “As pessoas até nos procuram, mas não temos como fazer os programas que nos propõem”
  • Constante busca de explicações… “Ele está assim por algo que fizemos?”
  • Depressão… “Não consigo falar da doença do meu filho sem chorar”.

Em suma, o impacto que uma pessoa com esquizofrenia tem na família e a forma como esta se adapta face à situação depende da singularidade de cada um dos seus membros, mas também da forma como a doença surge (insidiosa ou abrupta), o seu curso, a suas consequências, no sentido de haver risco de vida ameaçada ou não (fase de crise à fase crónica), e ao grau de incapacidade gerado. Todos estes fatores têm de ser vistos numa perspectiva psico-social e não isoladamente. Deve ser dada atenção extrema ao fato de que o próprio esforço de adaptação por parte da família pode ter como consequência um estado de exaustão, da parte dos famíliares, como é referido por Helena Luís.

[editar] Tratamento Farmacológico

Os antipsicóticos são eficazes no alívio dos sintomas da esquizofrenia em 70% dos casos.

Alguns deles, conhecidos como antipsicóticos típicos, inibem fortemente os receptores D2 da Dopamina das vias dopaminérgicas ligadas ao Sistema límbico do cérebro, e o seu sucesso constitui uma forte evidência da importância das alterações bioquímicas na patogenia da doença conhecida como hipótese dopamínica (que talvez sejam uma resposta secundária a eventos causadores da doença como o são as alterações comportamentais). O exemplo mais usual de antipsicótico típico é o haloperidol e a clorpromazina.

Outros inibem fracamente os receptores D2 da Dopamina, tendo ação inibidora serotoninérgica simultânea, conhecidos como antipsicóticos atípicos (clozapina por exemplo). Estem têm um sucesso maior sobre os casos refratários ao tratamento com antipsicóticos típicos ou sobre os casos com sintomatologia negativa predominante. Como leva a agranulocitose em cerca de 1% dos casos, deve ser conduzido um hemograma periódico conjuntamente à utilização da droga. Existe uma nova geração de antipsicóticos atípicos que não originaria agranulocitose como a risperidona e a olanzapina, que devem ser utilizados como primeira escolha por pacientes psicóticos, exceto nos casos em que o fator sócio-econômico tiver peso dominante (o custo de aquisição da droga é alto). Os antipsicóticos atípicos, justamente por agirem fracamente sobre os receptores D2, são uma evidência contrária à hipótese dopaminica.

[editar] Ligações externas

[editar] Referências

  • 1Afonso, Delmina (Jan. 2000), “A Esquizofrenia”, Sinais Vitais, nº 28, p.46-47.
  • 2Afonso, Pedro (Agosto 2002), Esquizofrenia: Conhecer a Doença, Lisboa, Climepsi Editores.
  • 5Cotovio, Vítor Viegas (Jan./Mar 2000), Abordagem Integrada na Esquizofrenia: das Emoções Expressas à Psicopedagogia familiar in IV Congresso Internacional de Psiquiatria S. João de Deus: Comunicações, Editorial Hospitalidade, 1996, p.331-334.
  • 6Freitas, Carlos; Luís, Helena e Ferreira, Luís (2000), Vivências dos pais enquanto cuidadores de um filho com esquizofrenia, Lisboa, Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende no âmbito do 2º curso de estudos superiores Especializados em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.
  • 7Freitas, Luís (Set./Out. 2002), “Destigmatizando a Doença Mental”, Servir, vol. 50, nº 5, p. 250-253.
  • 9Kaplan, Harnold; Sadock, Benjamin (1990), Compêndio de Psiquiatria, Porto Alegre, Editora Artes Médicas.
  • Milheiro, Jaime (2000), Loucos são os outros, Lisboa, Edições Fim de Século.

Minuchin, Salvador (1990), Famílias: funcionamento e tratamento, Porto Alegre, Artes Médicas.

  • 11Neeb, Kathy (1997), Fundamentos de Enfermagem de Saúde Mental, Loures, Lusociência.
  • 12Organização Mundial de Saúde, Genebra – Divisão de Saúde Mental (1998), A Esquizofrenia – Informação para as famílias, Lisboa, Associação Comunitária de Saúde de Loures Ocidental.
  • 13Pereira, Manuel Gonçalves (1996), Repercussões da Doença Mental na Família – Um estudo de Familiares de Doentes Psicóticos, Lisboa, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.

[editar] Bibliografia

  • Alves, Júlio Leonel (Setembro, 1998), “O Doente Mental e a Família Perante a Alta”, Sinais Vitais, nº20, p.45.
  • Atkinson, Jacqueline M. e Coia (1995), Families coping with schizophrenia – A practitioner’s guide to family groups, England, Wiley – University of Glasgow.
  • Hatfield, Agnes B. (1990), Family education in mental illness, New York, The Guilford Press.
  • Santos, José Carlos (Setembro 1997), O Enfermeiro de Saúde Mental no Hospital Geral, Sinais Vistais, nº 14, p.33-36.
  • Taylor, Cecília Monat (1992), Fundamentos de Enfermagem Psiquiátrica, Porto Alegre, Artes Médicas.
  • Teschinsky, Ursula (2000), “Living with schizophrenia: The family illness experience”, Mental Health Nursing, nº 21, p. 387-396.

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