Chico Buarque
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Francisco Buarque de Hollanda, conhecido como Chico Buarque (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1944) é um músico, cantor, compositor, teatrólogo e escritor brasileiro. Sua principal atividade é compor; desde muito jovem, conquistou reconhecimento de crítica e público tão logo os primeiros trabalhos foram apresentados. Ao longo da carreira foi parceiro como compositor e intérprete de vários dos maiores artistas da Música Popular Brasileira (MPB) como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho, Milton Nascimento e Caetano Veloso. Seus parceiros mais famosos são Francis Hime e Edu Lobo.
Filho de Sérgio Buarque de Hollanda, um importante historiador e jornalista brasileiro e Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim. Quando criança viveu em São Paulo, estudou no Colégio Santa Cruz e morava nas proximidades do Estádio do Pacaembu, onde virou fã do jogador Pagão, a quem homenageou na canção "Futebol". Também foi interno, por cerca de seis meses, do Colégio Cataguases, na cidade mineira de mesmo nome. É torcedor do Fluminense do Rio de Janeiro. Foi casado com a atriz Marieta Severo com quem teve três filhas: Sílvia, que é atriz, Helena, casada com o percussionista Carlinhos Brown e Luísa.
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[editar] O começo: participação nos festivais da MPB nos anos 60
No início da carreira conheceu Elis Regina, que havia ganhado o Festival da Música Popular Brasileira de 1965 com a música "Arrastão"; mas a cantora acabou desistindo de gravar algumas de suas músicas devido à impaciência com a timidez do compositor. Chico Buarque passou a ser conhecido pelo público brasileiro quando ganhou o mesmo Festival no ano seguinte (1966), patrocinado pela TV Record, com a música "A Banda", cantada por Nara Leão (empatou em primeiro lugar com "Disparada", de Geraldo Vandré). No festival de 1967 faria sucesso também com a música "Roda Viva", interpretada por ele e pelo grupo MPB-4 - amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em 1968 voltou a vencer outro Festival, o III Festival Internacional da Canção da TV Globo. Como compositor, em parceira com Tom Jobin, com a canção "Sabiá". Mas desta vez a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a música que ficou em segundo lugar: "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré.
[editar] Composições para o Cinema
Chico participou como ator e compôs várias canções de sucesso para o filme "Quando o Carnaval chegar", musical de Cacá Diegues. Compôs a música-tema do longa-metragem "Vai trabalhar Vagabundo", de Hugo Carvana - a canção ficou tão boa, que Carvana chegou a modificar o roteiro, a fim de usá-la melhor. Faria o mesmo com os filmes seguintes desse diretor: "Se segura malandro" e "Vai trabalhar vagabundo II". Adaptou canções de uma peça infantil para o filme Os Saltimbancos Trapalhões do grupo humorístico Os Trapalhões e com interpretações de Lucinha Lins. Outras adaptações de uma peça homônima de sua autoria foram feitas para o filme A Ópera do Malandro, mais um musical cinematográfico. Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados: Bye Bye Brasil, Dona Flor e seus dois maridos e Eu te amo, os dois últimos com Sonia Braga. Recentemente, chegou a ter uma participação especial como ator no filme Ed Mort.
[editar] Contribuição para o teatro e a literatura
Musicou as peças Morte e vida severina e o infantil Os Saltimbancos. Escreveu também várias peças de teatro, entre elas "Roda Viva" (proibida), "Gota d'Água" "Calabar" (proibida), "Ópera do malandro" e alguns livros: "O Estorvo", "Benjamim" e "Budapeste". Chico Buarque sempre se destacou como cronista nos tempos de colégio, seu primeiro livro foi publicado em 1966, trazia os manuscritos das primeiras composições e o conto "Ulisses", e ainda uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre "A Banda". Em 1974, escreve a novela pecuária "Fazenda modelo" e, em 1979, "Chapeuzinho Amarelo", um livro-poema para crianças. A bordo do "Rui Barbosa" foi escrito em 1963 ou 1964 e publicado em 1981. Em 1991, publica o romance "Estorvo" e, quatro anos depois, escreve o livro "Benjamim". Em 2004), o romance "Budapeste" ganha o Prêmio Jabuti. Oficialmente, a vendagem mínima de seus livros é de 500 mil exemplares no Brasil.
[editar] Programas de televisão
Deixou de participar de programas populares de televisão, tendo problemas com o apresentador Chacrinha, que teria feito uma piada com a letra da canção "Pedro Pedreiro", ao ouvir o ensaio. Irritado, Chico foi embora e nunca se apresentou no programa. O executivo Boni proibiu qualquer referência a Chico durante a programação da TV Globo, depois que ambos também tiveram um entrevero. Ao fim da proibição vários anos depois, Chico aceitou fazer um programa com Caetano Veloso, que contou com a participação de outros artistas.
[editar] Chico e o período da Ditadura
Ameaçado pela Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969, onde chegou a fazer shows com Toquinho. Nessa época teve suas músicas "Apesar de você" (alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici) e "Cálice" proibidas pela censura brasileira. Adotou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções. Na Itália Chico ficou amigo do cantor Lucio Dalla, de quem fez a belíssima "Minha História", versão em português (1970) da canção "Gesubambino", de Lucio Dalla e Paola Palotino.
Ao voltar ao Brasil continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, como a célebre "Construção" ou a divertida "Samba do Partido Alto". Fez shows com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na Inglaterra) e Maria Bethânia. Teve outra de suas músicas associada a críticas a um presidente do Brasil: ao saber que a filha do presidente Ernesto Geisel era sua fã, teria feito uma música, Jorge Maravilha, na qual o verso famoso dizia: "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta".
[editar] O "eu" feminino
Suas composições também se notabilizaram pela decantação de um "eu" feminino, retratando temas a partir do ponto de vista das mulheres com notória poesia e beleza: esse estilo é adoptado em "Com acúcar e com afeto" feito para Nara Leão; continuou nessa linha com belas canções como "Olhos nos Olhos" e "Teresinha", gravadas por Maria Bethânia, considerada sua maior intérprete, e "Folhetim", com Gal Costa e Iolanda (versão adaptada de letra original de Pablo Milanés), num antológico dueto com Simone.
[editar] Os intérpretes de Chico
Para muitos fãs, o melhor intérprete das canções de Chico Buarque é o próprio Chico. Mas como ele nunca se negou a oferecer a seus amigos composições originais, não se pode negar que algumas dessas canções passaram a ter versões "definitivas" em outras vozes, tal a qualidade das mesmas: além das citadas canções do "eu" feminino, temos o exemplo da antológica performance de Elis Regina na canção "Atrás da Porta"; "Cio da Terra", com gravações emocionantes de Milton Nascimento e da dupla rural Pena Branca & Xavantinho; e de interpretações de Ney Matogrosso. O sucesso de "Cio da Terra" alcançado pela dupla sertaneja citada mostra, aliás, que a arte de Chico não se restringe ao entendimento das elites da MPB. Isso já havia sido notado quando ele compôs diversos sambas ("Olê Olá", "Quando o Carnaval chegar"), que agradavam o público e a maioria dos artistas tradicionais desse gênero musical. Não foi por menos que, já consagrado, em 1998, "Chico Buarque" foi tema do enredo da escola de samba Mangueira que sagrou-se campeã do carnaval naquele ano.
Deve-se mencionar ainda seu êxito com outras composições que fez para cantores populares já com a carreira em declínio, como nos casos de Ângela Maria, que gravou "Gente Humilde" e Cauby Peixoto com "Bastidores". Dentre dos artistas que regravaram músicas suas em estilo popular podem ser citados ainda Rolando Boldrin, que relançou "Minha História".
[editar] Obra teatral
Em 1965, a pedido de Roberto Freire, diretor do Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), Chico musicou o poema "Morte e Vida Severina" de João Cabral de Melo Neto, para a montagem da peça. Desde então, sua presença no teatro brasileiro tem sido constante:
- Roda viva
A peça "Roda viva" foi escrita por Chico Buaque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro, no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, com Marieta Severo, Heleno Pests e Antônio Pedro nos papéis principais. A temporada no Rio foi um sucesso, mas a obra virou um símbolo da resistência contra a ditadura durante a temporada da segunda montagem, com Marília Pêra e Rodrigo Santiago. Um grupo de cerca de 110 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o teatro Galpão, em São Paulo, em julho daquele ano, espancou artistas e depredou o cenário. No dia seguinte, Chico Buarque estava na platéia para apoiar o grupo e começava um movimento organizado em defesa de "Roda viva" e contra a censura nos palcos brasileiros. Chico disse no documentário "Bastidores", que pode ter havido um erro, e que peça que o comando deveria invadir acontecia em outro espaço do teatro.
- Calabar
Calabar: o Elogio da Traição, foi escrita no final de 1973, em parceria com o cineasta Ruy Guerra e dirigida por Fernando Peixoto. A peça relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu tomar partido ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa. Era uma das mais caras produções teatrais da época, custou cerca de 30 mil dólares e empregava mais de 80 pessoas. Como sempre, a censura do regime militar deveria aprovar e liberar a obra em um ensaio especialmente dedicado a isso. Depois de toda a montagem pronta e da primeira liberação do texto, veio a espera pela aprovação final. Foram três meses de expectativa e, em 20 de outubro de 1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome "Calabar" e proibiu que a proibição fosse divulgada. O prejuízo para os autores e para o ator Fernando Torres, produtores da montagem, foi enorme. Seis anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura.
- Gota d'água
Em 1975, Chico escreveu com Paulo Pontes a peça "Gota d'Água", a partir de um projeto de Oduvaldo Viana Filho, que já havia feito uma adaptação de Medéia, de Eurípedes, para a televisão. A tragédia urbana, em forma de poema com mais de quatro mil versos, tem como pano de fundo as agruras sofridas pelos moradores de um conjunto habitacional, a "Vila do Meio-dia", e, no centro, a relação entre Joana e Jasão, um compositor popular cooptado pelo poderoso empresário Creonte. Jasão termina por largar Joana e os dois filhos para casar-se com Alma, a filha do empresário. A primeira montagem teve Bibi Ferreira no papel de Joana e a direção de Gianni Ratto. O saudoso Luiz Linhares foi um dos atores daquela primeira montagem.
- Ópera do malandro
O texto da "Ópera do malandro" é baseado na "Ópera dos mendigos" (1728), de John Gay, e na "Ópera de três vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O trabalho partiu de uma análise dessas duas peças conduzida por Luís Antônio Martinez Corrêa e que contou com a colaboração de Maurício Sette, Marieta Severo, Rita Murtinho e Carlos Gregório.
A equipe também cooperou na realização do texto final através de leituras, críticas e sugestões. Nessa etapa do trabalho, muito valeram os filmes "Ópera de três vinténs", de Pabst, e Getúlio Vargas, de Ana Carolina, os estudos de Bernard Dort "O teatro e sua realidade", as memórias de "Madame Satã", bem como a amizade e o testemunho de Grande Otelo. Participou ainda o prof. Manuel Maurício de Albuquerque para uma melhor percepção dos diferentes momentos históricos em que se passam as três óperas. O professor Werneck Viana contribuiu posteriormente com observações muito esclarecedoras. E Maurício Arraes juntou-se ao grupo, já na fase de transposição do texto para o palco. A peça é dedicada à lembrança de Paulo Pontes.
[editar] Discografia
- Chico Buarque de Hollanda - vol.1 (1966)
- Chico Buarque de Hollanda (1966)
- Morte e Vida Severina (1967)
- Chico Buarque de Hollanda - vol.2 (1968)
- Chico Buarque de Hollanda - vol.3 (1968)
- Chico Buarque de Hollanda – compacto
- Umas e outras - compacto (1969)
- Chico Buarque de Hollanda – compacto (1969)
- Chico Buarque na Itália (1969)
- Apesar de você (1970)
- Per un pugno di samba (1970)
- Chico Buarque de Hollanda - vol.4 (1970)
- Construção (1971)
- Quando o carnaval chegar (1972)
- Caetano e Chico juntos e ao vivo (1972)
- Chico canta (1973)
- Sinal fechado (1974)
- Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo (1975)
- Meus caros amigos (1976)
- Cio da Terra compacto (1977)
- Os saltimbancos (1977)
- Gota d'água (1977)
- Chico Buarque (Samambaia) (1978)
- Ópera do Malandro (1979)
- Vida (1980)
- Show 1º de Maio compacto (1980)
- Almanaque (1981)
- Saltimbancos trapalhões (1981)
- Chico Buarque en espanhol (1982)
- Para viver um grande amor (1983)
- O grande circo místico (1983)
- Chico Buarque (Vermelho) (1984)
- O Corsário do rei (1985)
- Ópera do malandro (1985)
- Malandro (1985)
- Melhores momentos de Chico & Caetano (1986)
- Francisco (1987)
- Dança da meia-lua (1988)
- Chico Buarque (1989)
- Chico Buarque ao vivo Paris Le Zenith (1990)
- Paratodos (1993)
- Uma palavra (1995)
- Terra (1997)
- As cidades (1998)
- Chico Buarque da Mangueira (1999)
- Chico ao Vivo (1999)
- Chico e as cidades (DVD) (2001)
- Cambaio (2001)
- Chico Buarque – Duetos (2002)
- Chico ou o País da delicadeza perdida (DVD, direção Roberto Oliveira) (2003)
- Meu Caro Amigo (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- A Flor da Pele (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- Vai passar (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- Anos Dourados (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- Estação Derradeira (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- Bastidores (DVD, direção Roberto Oliveira) (2005)
- O Futebol (DVD, direção Roberto Oliveira) (2006)
- Romance (DVD, direção Roberto Oliveira) (2006)
- Uma Palavra (DVD, direção Roberto Oliveira) (2006)
- Carioca (CD + DVD com documentário "Desconstrução", direção Bruno Natal) (2006)