Críticas à doutrina da Trindade
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Várias denominações cristãs e outras religiões, como o Islão e o Judaísmo, discordam da doutrina trinitária, isto é, da afirmação de que o único Deus revela-se em três Pessoas distintas. As principais denominações cristãs que rejeitam esta doutrina são os unicistas, vários movimentos para-protestantes, os seguidores da Mensagem de William Branham e as Testemunhas de Jeová. Há também grupos discordantes dentro de algumas denominações que aceitam a doutrina, como por exemplo entre os Adventistas.
Índice |
[editar] Conceito unicista
A visão unicista de Deus entende haver apenas um único Deus, a pessoa de Jesus Cristo, que se teria manifestado como Pai na criação, Filho na redenção e Espírito Santo nos dias atuais. Ou seja, um Deus Único em três manifestações temporais.
[editar] Um só Deus e um só Senhor
Outro ramo entende haver um Deus e um Senhor, nas figuras de Jesus Cristo como Senhor dos Exércitos e de Deus, o Pai Criador e sustentador do universo. Segundo os defensores desta ideia, há vários textos bíblicos indicando a existência de somente um único Deus tais como:
- "Eu sou o Senhor... Não terás outros deuses diante de Mim" (Êxodo 20:2-3)
- "Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele" (1 Coríntios 8:6)
- "Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai [...] Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem." (João 4:21, 23)
Estes ainda defendem que os textos bíblicos referidos pelos trinitarianos, não tratam diretamente da adoração a uma Trindade ou a um Deus triúno, pelo que esta deveria ser dirigida somente a um Deus único.
[editar] Conceito das Testemunhas de Jeová
As Testemunhas de Jeová rejeitam o dogma da Trindade, argumentando que há apenas Um só Deus:
- "YHVH, nosso Elohím, é um só YHWH" ou seja, "Jeová, nosso Deus, é um só Jeová" (Deuteronómio 6:4, Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas).
Jesus Cristo é visto como um "ser divino", um deus poderoso e de natureza espiritual mas não a mesma pessoa que Jeová, seu Pai, e Deus Criador e Todo-poderoso:
Aquele que mais tarde se tornou o homem Jesus, era o celestial e pré-humano filho unigénito de Jeová e o Seu porta-voz. Não consideram Jesus como sendo o próprio Deus, mas uma pessoa diferente Dele, uma criatura, tendo um início por ter sido criada conforme inferem do conteúdo de Colossenses 1:15 onde se refere Cristo é mencionado como o "Primogênito de toda a criação" . Ensinam que Jesus teve um papel importante na Criação, como Mestre de Obras (Provérbios 8:30) do Pai. Na sua existência pré-humana, era o Arcanjo Miguel. Após a sua ressurreição foi erguido a uma posição enaltecida, como Rei Messiânico, mas ainda assim está sujeito ao Pai, conforme entendem das palavras de 1 Coríntios 15:25-28:
- "Pois ele tem de reinar até que Deus lhe tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. Como último inimigo, a morte há de ser reduzida a nada. Pois Deus "lhe sujeitou todas as coisas debaixo dos pés". Mas, quando diz que 'todas as coisas foram sujeitas', é evidente que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. Mas, quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos."
Entendem que o Espírito Santo é a força activa de Deus, e não uma Pessoa Divina. Crêem que a personificação do Espírito em alguns versículos bíblicos não prova a existência duma personalidade, tal como acontece com a personificação de outros conceitos impessoais, como o pecado ou a sabedoria.
[editar] Conceito dos movimentos gnósticos
Movimentos neo-gnósticos contemporâneos, que se auto-denominam cristãos, afirmam, por sua vez, que Jesus Cristo não é Deus como o é YHWH, pois YHWH surge, ao longo do Antigo Testamento como sendo um Deus "vingativo", "cruel" e "sedento de sangue", enquanto Jesus apresenta o rosto de um "falso deus" que é "amor", "misericórdia" e "perdão". Do mesmo modo afirmam que o Espírito Santo é que é o "Verdadeiro Deus" que salvou a humanidade ao ser entregue por Jesus a YHWH aquando da sua morte (Refª Hans Jonas - "The Gnostic Religion", 2001);
[editar] Conceito dos pioneiros adventistas
Eles escreveram a esse respeito em um dos principais veículos adventistas da época - The Review and Herald - Fac-símile e tradução dos originais impressos.
- J. N. Lougborough disse que a doutrina da Trindade foi trazida para a Igreja Católica ao mesmo tempo que a adoração de imagens, e que a celebração da guarda do domingo não é mais do que a doutrina dos persas remodelada. (Adventist Review 5 de Novembro de 1861)
- J. B. Frisbie seguiu o mesmo pensament de Lougborough dizendo que a Trindade era um louvor à guarda do domingo. (The Advent Review 4 de Abril de 1854)
- James White disse que a doutrina da Trindade acaba com a pesonalidade de Deus e de seu Filho, Jesus Cristo. (The Advent Review 11 de Dezembro de 1855). Disse ainda que os grandes reformadores, se tivessem continuado, não teriam deixado nenhum vestígio das falsas doutrinas, inclusive a Trindade. (Advent Review 7 de Fevereiro 1856)
- J. N. Andrews incluiu a crença na Trindade entre as doutrinas espúrias que compunham o vinho de Babilônia. (Adventist Review 6 de Março de 1855)
- D. W. Hull disse que essa doutrina foi invenção do "homem do pecado" am referêcia a 2 Tessalonicenses, capítulo 2. (Adventist Review 10 de Novembro de 1859).
- William White, filho de Ellen Gould White era contrário a essa doutrina e dizia que muitas pessoas se utilizavam dos escritos de sua mãe com interpretações errôneas. - Carta original de 1935
[editar] Versículos bíblicos que fundamentam a crítica à Trindade
Os cristãos defensores de doutrinas contrárias à Trindade indicam diversos trechos bíblicos para fundamentar os seus entendimentos. Segundo eles, a existência de tais versículos inviabilizaria uma coerência da doutrina trinitária com as Escrituras, concluindo-se pela unidade absoluta e indivisível de Deus. Entre tais versículos, alistam:
[editar] Novo Testamento
O apóstolo Paulo escreveu que "no céu e na terra há alguns que se chamam deuses" (1 Coríntios 8:5), declarando que, todavia para nós há um só Deus, o Pai." (1 Coríntios 8:6). Em outra carta, Paulo define Deus como:
- "Aquele que tem, ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra, poder sempiterno. Amem." (Timóteo 6:16)
Numa definição quantitativa: "Há um só Deus, o Pai", conclui-se pela impossibilidade de haver mais do que um único Deus.
No evangelho segundo São João, Jesus disse:
- "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17:3).
[editar] Antigo Testamento
Em Isaías 44:6, Deus define-se no tempo e no espaço:
- "Eu sou o primeiro e eu sou o último. Fora de mim não há Deus."
Em Êxodo 20:3, o Criador define-se como único:
- "Não terás outros deuses diante de Mim" (singular).
Constam ainda em Zacarias 14:9 as seguintes palavras:
- "E o Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome."
[editar] Conceito islâmico
Também o Islão critica com grande vigor a Trindade que segundo Maomé seria concebida pelos cristãos como sendo constituída por Deus-Pai, Jesus e Maria (Refª Chantepie de la Saussaye - "História das religiões", Vol. 2, 1979). Segundo a sua leitura do dogma trinitário, consideram que se trata de uma clara e inequívoca afirmação politeísta que atenta contra a unicidade de Alá (Al Corão, 5: 73).
[editar] Alegada origem pagã da Trindade
Alguns movimentos que, embora não sejam reconhecidos como cristãos pelas grandes denominações cristãs, se auto-denominam de cristãos, bem como alguns movimentos para-cristãos, afirmam que a Trindade é o fruto da importação de conceitos religiosos pagãos, e ainda uma fabricação da Igreja do Século IV. A este respeito, porém, é hoje consensual entre os especialistas em História das Religiões que nas outras religiões - em especial a religião Egípcia e o Hinduísmo - não se encontra a afirmação da subsistência de um Deus em três Pessoas distintas - crença peculiar e restrita ao cristiansmo trinitário -, mas tão só a reunião de três deuses distintos de entre um vasto panteão, ou de três avatáres, respectivamente. (Refª Henri-Charles Puech - "Histoire des religions", T1. T2, 1999; Konemann Verlag - "Histoire des religions", 1997).
Quanto à datação da doutrina da Trindade como tendo surgido somente no século IV, as práxis sacramentais e os escritos cristãos dos três primeiros séculos - sobretudo Orígenes, Teófilo de Antioquia, Justino, Hipólito e Tertuliano, na opinião de muitos, são testemunhos suficientes para se ser ter uma posição de grande renitência, senão mesmo de rejeição, quanto à veracidade dessa afirmação (Refª Mircea Eliade - "Traité d'histoire des religions", 2004). Na opinião destes últimos, se a formulação dogmática da referida doutrina só foi postulada no decorrer dos grandes concílios ecuménicos do referido Século IV, crêem que a sua crença é-lhe anterior, afirmando ainda que a sua génese pode remontar aos próprios escritos do Novo Testamento .