Imigração italiana no Brasil
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Segundo dados da Embaixada Italiana de Brasília, 25 milhões de brasileiros são descendentes de imigrantes italianos. Estão espalhados por todos os estados do Sul e do Sudeste do Brasil, sendo quase metade no estado de São Paulo.
É considerada a maior população de oriundi (descendentes de italianos) fora da Itália.
[editar] Histórico
"Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?"- frase anônima de um imigrante italiano no fim do século XIX para o ministro de Estado italiano que lhe pedia para não abandonar sua Pátria.
A imigração italiana no Brasil foi intensa, tendo como ápice a faixa de tempo entre os anos de 1870 e 1920. A maior parte dela se concentrou na região do estado de São Paulo.
Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da década de 70 do século XIX. Foram impulsionados pelas transformações sócio-econômicas em curso no Norte da península italiana, que afetaram sobretudo a propriedade da terra. Um aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália (1871), razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.
Atualmente é possível ter acesso aos dados dos imigrantes italianos através do site Memorial do Imigrante, tendo informações da data de chegada, nacionalidade e com quem veio(amigos, familiares, sozinho etc). Uma visita ao Memorial permite não só a consulta, mas também a impressão de dados sobre antepassados em folhas estilizadas.
[editar] A imigração além-mar
A Itália formou-se tardiamente como país e, por isso, não possuía colônias. Ao contrário dos espanhóis e portugueses, que imigravam em larga escala para suas ex-colônias devido à fatores histórico-culturais, os italianos não tinham essa opção. De início, um grande contingente de italianos imigraram para outros países europeus, porém, as boas opções de emprego estavam nas Américas. O Brasil, a Argentina, o Uruguai e, mais tarde, os Estados Unidos e a Austrália passaram a buscar novas fontes de imigrantes para abraçarem as ofertas de emprego sem candidatos.
[editar] O Brasil como destino
No Brasil, a imigração foi por muitos anos dominada pelos portugueses, pois, durante o período colonial, apenas os lusitanos podiam desembarcar no País. Com a independência do Brasil, começaram a ensaiar a entrada de novos imigrantes: alemães, suíços e poloneses, porém esses nunca imigrariam em grande número para o Brasil. Os portugueses continuavam a chegar em grande número, mas rumavam para os centros urbanos, onde se tornavam pequenos comerciantes. O início da emigração italiana coincidiu com o processo de abolição da escravatura e da expansão das plantações de café.
Incentivado pelo governo brasileiro, panfletos e cartazes passaram a ser espalhados pela Itália, com o intuíto de vender uma boa imagem do país e, assim, atrair imigrantes. Rapidamente, milhares de italianos passaram a comprar passagens para o Brasil, em busca de dinheiro e melhores condições de vida.
De início, o governo brasileiro encaminhou os imigrantes para zonas rurais do Sul do Brasil. Ali os italianos se tornaram pequenos agricultores e latifundiários. Mais tarde, as fazendas de café no Sudeste tornaram-se o destino da maioria.
O grande incentivo que teve a imigração italiana no Brasil não foi apenas para suprir a falta de mão-de-obra que se instalou no país. Os italianos eram católicos, falavam uma língua latina e tinham costumes parecidos com a raíz luso-brasileira. Isso contribuiria para europeizar a cultura do Brasil na visão do governo brasileiro.
[editar] A colonização italiana no Sul
Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil em 1875. O Governo brasileiro estava estimulando a imigração européia, especialmente após 1850, quando o tráfico de escravos africanos foi abolido no Brasil e imigrantes europeus estavam substituindo a mão-de-obra escrava. Os italianos primeiramente instalaram-se no Sul do Brasil, onde colônias de imigrantes estavam sendo estabelecidas. No começo do século 19, o Governo brasileiro criou as primeiras colônias. Essas colônias foram fundadas em áreas rurais do País, e famílias européias, principalmente alemães, se estabeleceram em muitas dessas colônias. Esses imigrantes alemães colonizaram muitas áreas do Sul do Brasil. Seguindo o mesmo projeto, colônias com imigrantes italianos também foram criadas no Brasil meridional. As primeiras nasceram nas Serras gaúchas, no Rio Grande do Sul, nas atuais cidades de Garibaldi e Bento Gonçalves.
Esses imigrantes eram em sua maioria do Vêneto, Norte da Itália. Após 5 anos, o grande número de imigrantes obrigou o Governo a criar uma nova colônia italiana, Caxias do Sul. Os italianos se espalharam por várias partes do Rio Grande do Sul, e muitas outras colônias foram criadas, principalmente em serras e regiões altas, porque as terras baixas já estavam povoadas por imigrantes alemães. Nessas terras, os imigrantes italianos começaram a cultivar uvas e a produzir vinhos. Atualmente, essas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil. Também em 1875, foram fundadas as primeiras colônias italianas de Santa Catarina, como Criciúma e Urussanga, assim como outras no Paraná.
Nas colônias do Sul do Brasil, os imigrantes italianos puderam se agrupar no seu próprio grupo étnico, onde podiam falar italiano e manter sua cultura e tradições. A imigração italiana para o Brasil meridional foi muito importante para o desenvolvimento econômico, assim como para a cultura e formação étnica da população.
[editar] Mão-de-obra italiana para o café no Sudeste
Embora tenha sido a região Sul a pioneira na imigração italiana, foi a região Sudeste aquela que recebeu a maioria dos imigrantes. Isso se deve ao processo de expansão das lavouras de café em São Paulo. Com o fim do tráfico negreiro e o sucesso da colonização italiana no Sul, o Governo Paulista passa a incentivar a imigração italiana com destino aos cafezais. A imigração subsidiada de italianos começou na década de 1880. Os próprios donos das fazendas de café tratavam de atrair imigrantes italianos para as suas propriedades. O governo brasileiro pagava a viagem, e o imigrante tinha que se propor a trabalhar nas fazendas para devolver o valor da passagem paga.
Os imigrantes italianos, na maioria, imigravam para o Brasil em famílias e eram chamados de colonos. Os fazendeiros, acostumados a trabalhar com escravos africanos, passaram a lidar com trabalhadores europeus livres e assalariados. Todavia, muitos italianos nas fazendas de café foram submetidos à jornadas de trabalho semelhantes aos dos escravos. Essa situação gerou muitos conflitos entre os imigrantes italianos e os fazendeiros brasileiros, causando rebeliões e revoltas. As notícias de trabalho semi-escravo chegaram à Itália, e o Governo italiano passou a dificultar a imigração para o Brasil.
O sucesso inicial da imigração subsidiada trouxe para o Brasil mais de 1 milhão de italianos até o final do século XIX, e outros 600 mil no século XX. O Brasil tornou-se o destino preferido da imigração italiana.
Após a abolição da escravatura, em 1888, a imigração italiana se tornou a grande fonte de mão-de-obra no Brasil. Os italianos começaram a se espalhar por Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A maioria absoluta teve como destino inicial o campo e o trabalho na agricultura.
Muitos imigrantes italianos, após alguns anos trabalhando nas colheitas de café, conseguiram dinheiro suficiente para comprar suas próprias terras e se tornaram fazendeiros. Outros partiram para grandes centros urbanos brasileiros, como São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.
[editar] Os italianos nas cidades brasileiras
As péssimas condições de trabalho no interior do Brasil faziam com que os italianos rapidamente rumassem para os centros urbanos, principalmente São Paulo.
No início do século XX, a grande maioria dos operários de São Paulo eram italianos. A maioria dos primeiros grandes industriais de São Paulo - os Matarazzo, os Crespi - constituíram o grupo dos chamados "condes italianos", cuja proeminência só foi ultrapassada com o correr dos anos. Nos centros urbanos brasileiros, os imigrantes italianos foram cruciais para a industrialização das cidades.
[editar] Regiões de origem
A imigração italiana no Brasil ficou marcada por ter sido de duas origens: uma parte oriunda do Norte da Itália, principalmente do Vêneto, e que em sua maioria se dirigiu ao Sul do país; outra parte oriunda do Sul da Itália, que migrou em sua maioria para São Paulo. A preferência do governo brasileiro pelos italianos do norte era evidente: o norte da Itália era, e continua a ser, a região mais desenvolvida. Assim, os imigrantes italianos trariam para o Brasil técnicas já avançadas de industrialização e idéias novas para uma modernização do Brasil. Além disso, havia a visão racista do governo brasileiro em pró de um branqueamento da população brasileira, trazendo maior número de imigrantes do Norte da Itália, por terem a pele mais clara que os italianos do Sul. Em certas regiões do Norte da Itália, praticamente toda a população teve algum parente ou conhecido que imigrou para o Brasil.
Imigração italiana para o Brasil (1876-1920) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) |
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Região de origem | Número de imigrantes | |||||||
Vêneto | 365.710 | |||||||
Campânia | 166.080 | |||||||
Calábria | 113.155 | |||||||
Lombardia | 105.973 | |||||||
Abruzzo-Molise | 93.020 | |||||||
Toscana | 81.056 | |||||||
Emília-Romanha | 59.877 | |||||||
Basilicata | 52.888 | |||||||
Sicilia | 44.390 | |||||||
Piemonte | 40.336 | |||||||
Puglia | 34.833 | |||||||
Marche | 25.074 | |||||||
Basilicata | 52.888 | |||||||
Lácio | 15.982 | |||||||
Úmbria | 11.818 | |||||||
Ligúria | 9.328 | |||||||
Sardenha | 6.113 | |||||||
Total | 1.243.633 |
[editar] O declínio da imigração italiana
As contínuas notícias de trabalho semi-escravo e condições indignas nas fazendas de café do Brasil fizeram com que a imigração de italianos para o Brasil caísse, e se desviasse para os Estados Unidos e Argentina. A imigração italiana no Brasil continuou grande até a década de 1920, quando o ditador Benito Mussolini, com seu governo nacionalista, passou a controlar a imigração italiana. Com a Segunda Guerra Mundial e a declaração de guerra do Brasil contra a Itália e a contínua recuperação econômica italiana, a vinda de italianos para o Brasil entrou em decadência.
[editar] Língua
Hoje em dia, quase todos os brasileiros descendentes de italianos falam o português como língua materna. Há ainda uma minoria de 500.000 pessoas que falam o italiano como língua materna, a maioria dos quais usam o dialeto Talian, nas zonas vinícolas do Rio Grande do Sul.
A língua italiana foi proibida no Brasil na década de 1930, pelo presidente Getúlio Vargas, após declarar guerra contra a Itália. Qualquer manifestação da cultura italiana no Brasil era crime. Isso contribuiu bastante para que o idioma italiano fosse pouco desenvolvido entre os descendentes de italianos.
[editar] A influência italiana no Brasil e seus descendentes
A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos imigratórios já ocorridos. A medida que o número de imigrantes e seus descendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim como os imigrantes modificam os seus. É de notar que a influência italiana no Brasil não ocorreu de forma uniforme: enquanto no Sul/Sudeste do País a comunidade italiana era forte e, em certas localidades, chegaram a representar a maioria da população, noutras regiões do País a presença italiana foi quase nula.
Das inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e à sua cultura, destacam-se:
- O uso do 'tchau' (ciao) como saudação no Estado de São Paulo.
- O enraizamento do catolicismo no Brasil, trazendo elementos italianos para a religião brasileira.
- Diversos pratos que foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza e espaguete freqüentemente (principalmente no Sudeste).
- O sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo (ver dialeto paulistano), nas Serras gaúchas e no sul catarinense).
- Palavras no português do Brasil (como paura, polenta etc).
- A introdução de novas técnicas agrícolas (Minas Gerais, São Paulo e no Sul).
A imigração italiana no Brasil também serviu de inspiração para várias obras artísticas, televisivas e cinematográficas, como as telenovelas Terra Nostra e Esperança, e o filme O Quatrilho, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
[editar] O abrasileiramento dos italianos
Itália e Brasil são países latinos, assim os imigrantes encontraram no país de acolhimento muitas características que facilitaram sua assimilação. Nos primeiros anos em que viviam no Brasil, a maior parte dos italianos tentaram viver fechados dentro da comunidade italiana, pois tinham o objetivo de juntar dinheiro e retornar à Itália. Nos primeiros anos de colonização no Sul do Brasil, os casamentos de italianos fora da colônia eram insignificantes, menos de 10% dos imigrantes se casavam com não-italianos. Essa situação só mudou nas segunda e terceira gerações nascidas no Brasil, a partir da década de 1930, quando os descendentes de italianos passaram a se integrar dentro da sociedade local. Até hoje um significante número de descendentes de italianos falam dialetos de origem italiana no Sul do país.
No Sudeste do Brasil essa situação foi diferente. Ali os imigrantes rapidamente se integraram dentro da sociedade brasileira, e o casamento de italianos fora da colônia superava o 50%. Há relatos de que nas fazendas de café, os colonos italianos se comunicavam entre si em português, abandonando a língua italiana para se integrarem no cotidiano brasileiro. Numa reportagem sobre a contribuição do imigrante no sistema educacional brasileiro, antigos imigrantes italianos escreveram: para fazer a América não é preciso somente trabalhar com esse bendito café, é necessário que nossos filhos freqüentem a escola para aprender o português e todas as coisas deste país. Essa será nossa maior riqueza no Brasil.
Hoje em dia os brasileiros descendentes de italianos estão completamente integrados dentro da sociedade brasileira. Milhões de brasileiros possuem sobrenomes italianos, que marca a maior colônia italiana fora da Itália, incluindo três presidentes descendentes de italianos: Emílio Garrastazu Médici, Pascoal Ranieri Mazzilli e Itamar Franco.
[editar] Descendentes de italianos por estados brasileiros
Brasileiros descendentes de italianos por Estados | ||||||||
Estado | População total | População com ascendência italiana | Porcentagem de ítalo-descendentes | |||||
São Paulo | 40 milhões | 10 milhões | 25% | |||||
Paraná | 10 milhões | 4 milhões | 40% | |||||
Rio Grande do Sul | 10,8 milhões | 3 milhões | 28,7% | |||||
Santa Catarina | 5,8 milhões | 3 milhões | 51,8% | |||||
Minas Gerais | 19 milhões | 2 milhões | 10,6% | |||||
Espírito Santo | 3,4 milhões | 2 milhões | 59% | |||||
Rio de Janeiro | 15,3 milhões | 1 milhão | 6,7% | |||||
Região Norte | 14,5 milhões | 1 milhão | 8% | |||||
Região Centro-Oeste | 13 milhões | 600 mil | 4,7% | |||||
Região Nordeste | 49 milhões | 200 mil | 0,4% | |||||
Total no Brasil | 182 milhões | 26,8 milhões | 14,7% |
[editar] Canção dos imigrantes
Canto Veneto
America America
si campa a meraviglia,
andiamo nel Brasile
con tutta la famiglia.
America America
si sente a cantare,
andiamo nel Brasile,
Brasile a popolare.
América América
se vive que é uma maravilha,
vamos no Brasil
com toda a família.
América América se ouve cantar,
vamos no Brasil,
Brasil a povoar.